EXCLUSIVO – SABESP CORTA ÁGUA DO RESIDENCIAL “MINHA CASA, MINHA VIDA” EM IBIÚNA

sem águaA Sabesp cortou hoje (5), às 7 horas da manhã, o fornecimento de água para o conjunto residencial “Minha Casa, Minha Vida”, localizado no bairro da Cachoeira, próximo ao centro do município de Ibiúna, por falta de pagamento. Ali existem 472 casas habitadas por cerca de 2.000 pessoas, entre as quais muitas crianças e idosos.

O gerente da Sabesp em Ibiúna, Tiago Luiz Ramos, confirmou à vitrine online a suspensão do fornecimento de água, contabilizando quatro meses de atraso [setembro, outubro, novembro e dezembro]. Ele não forneceu os valores, mas obtivemos junto aos condôminos a informação de que o montante relativo ao atraso é de R$ 76 mil, com a conta de janeiro deverá subir para cerca de R$ 90 mil, já o consumo mensal é de R$ 17.560,00.

Cada casa tem uma caixa individualizada com capacidade para 500 litros e o reservatório geral da Sabesp dentro do condomínio tem capacidade para 100.000 litros. Hoje mesmo, pela manhã, já faltava água em algumas residências e a notícia se espalhou entre os moradores causando grande preocupação.

Amanhã (6) deverá haver uma reunião com os condôminos com o objetivo de se arrecadarem recursos para a celebração de um acordo com a Sabesp a fim de que seja restabelecido o fornecimento, informou o advogado do condomínio, dr. Mauro Atui Neto, à vitrine online. “Se não conseguirmos êxito com essa iniciativa, na quinta-feira [o recesso da Justiça termina também amanhã], entraremos com uma ação para que os moradores possam ter água, que é um bem essencial”.

CONFLITO SOCIOECONÔMICO

A suspensão do fornecimento de água no residencial “Minha Casa, Minha Vida” reflete um conflito administrativo e socioeconômico complexo iniciado logo após as primeiras ocupações das casas, que culminou com uma forte animosidade entre inadimplentes e a direção do condomínio, gerando uma tensão que se arrasta até o presente momento, em que pese a iniciativa da OAB ibiunense de promover cinco ou seis reuniões em sua sede na tentativa de resolver o impasse que não obteve resultado satisfatório. Ofensas, acusações mútuas, ameaças foram [e continuam sendo] os principais recheios, cada qual se achando dentro da razão.

SISTEMA FALHO

Talvez uma falha no sistema do programa “Minha Casa, Minha Vida”, que inclui o papel desempenhado pela prefeitura, esteja na raiz desse problema. Moradores, em condições prévias de extrema carência, como os oriundos da comunidade, que, possivelmente, nem imaginavam que existia algo como uma taxa condominial, estão convivendo com pessoas [nota-se, por exemplo, pela presença de carros de alto valor relativo] com melhor condição de vida. Um serviço social poderá constatar, certamente, que ali vivem pessoas sem ter mesmo condição financeira de pagar o condomínio, mas que não é a maioria.

No entanto, do ponto de vista prático, as contas de água não foram e não estão sendo pagas, segundo o sindico-geral, pela inadimplência interna, uma vez que elas estão inclusas na taxa condominial. É oportuno informar que há somente uma entrada de água para o residencial inteiro, sendo que todos devem pagar o mesmo valor da água ainda que haja consumos diferenciados por casa de acordo com o número de moradores, em que o consumo é maior.

A Sabesp em Ibiúna, de acordo com seu gerente, esclarece que, por lei, não pode instalar hidrômetros individualizados por ali se tratar de um condomínio. A instalação de medidores individuais, portanto, teria que ser feita por uma empresa privada, o que acarretaria um custo a mais para os moradores.

PALAVRA DO SÍNDICO

Leandro Júlio Cardoso [ele é o segundo síndico do residencial] disse à vitrine online que “o acordo feito na última reunião da OAB com os inadimplentes acabou não sendo cumprido”. Por isso, tinha receio de, sem base na adesão efetiva dos inadimplentes, e, portanto, sem garantia de contar com os recursos financeiros necessários, fazer um acordo com a Sabesp. Por isso, convocou uma reunião para esta quarta-feira, com o objetivo de criar condição para a negociação com a empresa.

Cardoso informou que atualmente “há cerca de 50% de inadimplentes”. “De março a agosto de 2015 o montante em atraso acumulado atingiu a cifra de R$ 136 mil e que hoje esse valor atinge cerca de R$ 150 mil.”

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PEDIDO DE AJUDA

O síndico-geral pediu ajuda para que o esforço que está fazendo leve a bom termo esse problema. E seria mesmo necessário que a OAB, com a nova diretoria empossada, retomasse os contatos com a direção e com os condôminos, a fim de que possa haver paz e boa convivência no residencial. A prefeitura também deveria tomar a iniciativa de colaborar para a solução do impasse, já que seria difícil, nesta altura do campeonato, esperar que o Governo Federal viesse ver na prática a realidade do celebrado projeto “Minha Casa, Minha Vida”.  Um projeto desse porte exige muita competência gerencial, justiça e sensibilidade sociocultural, na preparação e adaptação a uma nova realidade habitacional.

Entendemos que o residencial, pelo nível de tensão e agressividade mútua, entre a direção e adimplentes versos inadimplentes, exige acima de tudo sabedoria das autoridades, pois a situação ali é grave e não pode simplesmente ser deixada ao sabor dos humores emocionalmente conturbados. (C.R.)

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.