DOCÍLIMA, ALEGRE E CARINHOSA, BRENDA MORREU NESTA MADRUGADA

brenda

Em cada movimento completo da rotação da Terra em relação ao Sol, que se dá em vinte e quatro horas, milhões de seres morrem no planeta. Todos os dias. Outro tanto, nasce. Esse fenômeno abrange bactérias, insetos, animais de todas as espécies, incluindo a humana, sem exceção. Este é o grande espetáculo de viver e morrer do qual fazemos parte, cada qual em seu tempo, em geral demasiadamente breve.

Penso nisso porque Brenda, uma adorável cadela labradora, com cerca de doze anos morreu esta madrugada, depois de visivelmente passar por um processo agônico, com respiração difícil, dor, e gemidos.

Fiz o que pude, ficando ao seu lado de modo intermitente, acariciando sua pelagem amarelo-dourada bonita, densa, conversando com ela que, mesmo em seu estado terminal, conservou seu jeito bonachão, batendo o rabo na grama e fazendo um esforço para abrir os olhos.

Todos os cães que tivemos em casa, e pelo menos duas cadelas da vizinhança nos adotaram, certa vez, foram bons amigos, fiéis e vigilantes em nos proteger dia e noite.

A raça labradora, quero quer, é de uma mansuetude imensa. São animais alegres, divertidos, gostam de participar, ficar perto receber e doar afeto. Brenda era assim: extremamente dócil, o tempo todo, sempre do mesmo jeito, despojada de qualquer tipo de agressividade, mas cumpria bem seu papel de guardar a casa, sabendo diferenciar inteligentemente a quem latir e a quem festejar. Mas seria incapaz de atacar alguém.

Curiosamente, nos últimos dias as três cadelas deixaram de comer a ração, só faziam pouco ou nada. Fico pensando até aonde vai a inteligência desses peludos incríveis, que são capazes de nos captar com uma argúcia e sentimentos que só faltam ser pronunciados em palavras não ditas. Por isso, são chamados de melhores amigos do homem. Uma coisa é certa, eles nos ensinam a ser fiéis e não cobram nada de volta. São sempre iguais, de dia e de noite, no exemplo de comportamento para os humanos.

No momento em que escrevo o silêncio é quase absoluto no quintal. Sua filha, Nati, e a Estrela dormem em algum canto e o corpo da Brenda está estendido sobre o gramado, já enrijecido. Acabou seu sofrimento. Fui lá e logo percebi, pela sua total imobilidade, que estava morta. Vou escolher um lugar bem legal para enterrá-la. (C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.