OPINIÃO – ESTACIONAMENTO EM ‘CENTRO ESTENDIDO’ ESQUENTOU A SEMANA EM IBIÚNA

santiago

Se alguém tinha alguma dúvida quanto ao processo de amadurecimento político do povo de Ibiúna, seja pelo motivo que for, incluindo a falta de sintonia entre um fato, sua percepção consciente e a respectiva reação grupal, é preciso pôr as barbas de molho [mas que expressão mais antiga!]. Algo de novo está acontecendo. Só não vê quem está apegado em demasia ao próprio umbigo.

Houve um fato no dia 25. Nesta data, foi expandida a área de estacionamento rotativo pago das duas principais vias centrais da cidade, rua XV e Pinduca Soares, para diversas ruas periféricas. Logo que informadas sobre o assunto, as pessoas chiaram em grandes quantidades, no Facebook e na página da vitrine online [três notícias foram publicadas na revista com exclusividade]. Até o momento, acima de 18 mil pessoas leram as notícias de modo parcial ou integral e reagiram, a maioria absoluta de maneira insatisfatória.

Um ponto precisa ficar claro, aparentemente ninguém é contra a implantação da zona azul nas duas ruas acima referidas, onde se concentra o comércio local. De acordo com o advogado Neto Atui, em artigo também aqui publicado, o procedimento de cobrar estacionamento fora da XV e da Pinduca “é ilegal”. Para que isso possa acontecer, de acordo com sua interpretação, é preciso que haja aprovação por parte da Câmara Municipal – e isso não aconteceu. A implantação foi iniciada no dia 18 de dezembro, quando o Legislativo se encontrava em recesso.

Além desse aspecto até agora não contestado pela prefeitura, houve falta de preparação da opinião pública para receber o novo serviço, seu funcionamento correto [leiam as matérias] e sobretudo falta de consulta e esclarecimento aos moradores diretamente afetados nas ruas periféricas, ou seja, residenciais. “Como não posso estacionar meu carro em frente a minha casa?” Eis uma dúvida manifesta de modo recorrente. Estamos, como bem lembrou Atui Neto, numa pequena e pacata cidade do interior e, de repente, há uma imposição ex abrupto [sem preparação das pessoas].

Trata-se de uma falha palmar de sensibilidade por parte da prefeitura e um total esquecimento de uma lei básica que cito parcialmente e de memória: “toda ação provoca uma reação…”, etc. Será que ninguém foi capaz de imaginar isso ou terão subestimado a inteligência da população e a sensação de desconforto gerada a quem não tinha como possibilidade tal surpresa?

Aí vem um secretário, responsável pelo fato, que solicitado prévia e formalmente não prestou nenhum esclarecimento, a querer dar autocraticamente lições de ética jornalística, a ditar regras à vitrine online, sem citá-la explicitamente, como se fosse uma autoridade no assunto.

A revista foi o único veículo de comunicação a expor o fato à opinião pública, de modo fundamentado, tendo o cuidado de ouvir a prefeitura sem tê-lo conseguido, por inação da autoridade competente.

Se o secretário demonstrasse um mínimo de humildade, antes de atacar injustamente um veículo de comunicação sério e responsável, e livre, poderia ser claro, se desculpar diante da população e dizer de modo transparente que seriam feitos, digamos, ajustes para não perturbar a vida dos cidadãos.

E nem sabíamos ainda da iniciativa do advogado ibiunense citando a questão da ilegalidade, quando havíamos encaminhado, entre outras perguntas, como seria a destinação do dinheiro arrecadado – quanto para a empresa contratada para o serviço, quanto para os cofres públicos. Mas, igualmente, não obtivemos resposta alguma, até o presente momento.

O prefeito [terá lido Maquiavel?] tem em seu secretário o escudo de proteção, cabendo a este, politicamente falando, pagar o ônus dos reclamos populares ou se rejubilar dos afagos recebidos, caso houvesse de fato uma aprovação pública marcante do projeto – o que não ocorreu. Até agora, pelo menos, o chefe do Executivo não terá se manifestado publicamente sobre o assunto, que, se acredita, relevante para ele. E teria que fazê-lo porque, sob sua batuta, a orquestra municipal desafinou feio. Esse tema ainda dará o que falar, e estaremos a postos para continuar bem informando os munícipes, que são nossos leitores.

Por fim, parece que todo o ocorrido reflete um “estilo” de governo pouco habituado a dar explicações. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.