VOLTA ÀS AULAS – AH! SE OS PROFESSORES SOUBESSEM…

DE VOLTA ÁS AULAS

E eles sabem, mas sempre é oportuno lembrar o que disse o epistemólogo e psicólogo suíço Jean Piaget: “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a eles se propõe.”

Vale lembrar também o que adverte Ana Maria Antunes de Campos, especialista em ensino lúdico, pós-graduada em didática e tendências pedagógicas, ao analisar o papel da neurociência aplicada à aprendizagem dos alunos:

É fundamental “compreender que cada criança é um indivíduo e, como tal, aprende de forma diferente e em tempo diferente”. Ela diz mais:

“Quando o professor aceita que a sala onde leciona é heterogênea, ele consegue auxiliar o aluno, para que essa criança tenha compreensão dos conteúdos propostos, dentro de suas possibilidades, ou seja, a criança aprende usando suas habilidades, tempo, competência e o processamento da informação será diferente, com base nas experiências, motivações e crenças de cada criança.”

É oportuno, então, saber a diferença entre habilidade e competência, como nos conta o professor Júlio Furtado, doutor e mestre em Educação e pedagogo:

“A habilidade provém do termo latino habilitas e refere-se à capacidade e à disposição para (fazer) algo. Competência vem do latim competere, ‘lutar, procurar ao mesmo tempo’, de com-, “junto, mais petere, ‘disputar, procurar, inquirir’. Competência é a capacidade para solucionar situações complexas que exijam, ao atitudes de diversas naturezas. Ser competente significa saber fazer escolhas, decidir, mobilizar recursos e agir.”

Diante desse quadro, cabe ao professor tanto disciplinar-se com o conhecimento de que enfrenta situações desafiadoras, assim como seus alunos, desafio que precisam ser percebidos como possível pelo aluno, mas sem exigir demasiadamente do aluno.

Se ensinar conteúdo é uma “tarefa técnica e pontual”, pode-se entender que o ensinamento de conteúdos não desenvolve competências, e neste ponto será bom reler o que diz Piaget, na abertura deste artigo, a fim de que faça parte da pedagogia que inclui a intuição como forma de aquisição de conhecimento.

Agora, cá entre nós, sabemos das péssimas situações de ensino no Brasil, dos baixos salários pagos aos professores, das imposições de métodos obsoletos, da falta de respeito como são tratados. Eles têm de enfrentar essa situação e realizar um trabalho que marca a vida das crianças e adolescentes.

Por isso mesmo, o professor, até heroicamente, precisa promover com seus alunos competências relacionais, juntamente com as competências técnicas. E não pode ser diferente disso, pois vivemos em um mundo em que as relações são fundamentais para todos os indivíduos, não importam se crianças ou adultos.

Furtado, então, defende uma proposta pedagógica para os tempos atuais deve incluir: “os conteúdos, enquanto necessários às competências; a prevalência das atividades em grupo; o planejamento das atividades desafiadoras; a postura de mediação da aprendizagem; o processo de avaliação negociada”.

Isto posto, desejamos a todos, professores e alunos, boa volta às aulas e bons novos desafios. (C.R.)

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.