SEM TRANSPORTE – NESTA 4ª-FEIRA, SE COMPLETAM 8 DIAS QUE OS ALUNOS DA REDE MUNICIPAL NÃO VÃO À ESCOLA EM IBIÚNA

perueiros na camara

Desde segunda-feira, mais de 7.000 crianças da rede municipal de ensino Ibiúna estão sem transporte escolar e, portanto, não estão frequentando as aulas. Esse fato se deve à decisão do prefeito municipal de romper o contrato com a cooperativa que reúne 116 perueiros e vinha prestando esse serviço desde julho de 2015 e contratar outra cooperativa que não conta com nenhum veículo. [Leiam as notícias publicadas em vitrine online]

Como na semana de 9 a 13 a Secretaria de Educação realizou o 1º Seminário de Educação, não havendo aula nesses dias, nesta quarta-feira (18) se completam 8 dias sem aula – cinco por conta do seminário e três em razão de a cooperativa que vinha prestando o serviço ter sido notificada na tarde da sexta-feira (13) de que deveria “paralisar os serviços  a partir de 16 de maio de 2016”.

No entanto, como a prefeitura já havia suprimido 31 rotas que vinham sendo atendidas por 19 perueiros, desde o dia 4 de maio 1.735 deixaram de ser transportados. Para estes, a falta às aulas já soma 10 dias.

SESSÃO SUSPENSA

Hoje, a convite de um vereador que não se identificou, os perueiros lotaram o auditório da Câmara Municipal aonde foram para pedir apoio dos vereadores, já que o problema afeta milhares de famílias no município e requer uma solução premente. A sessão se tornou tão intensa que o presidente do Legislativo declarou que a sessão estava suspensa, a fim de permitir que os perueiros fossem ouvidos.

Elisângela Ferreira de Souza Soares, representante dos perueiros na Cootrasp, cooperativa cujo contrato foi rescindido pela prefeitura, fez um discurso enfático provocando vários momentos de aplausos e gritos na plateia, frases pedindo justiça ou “queremos nossos filhos na escola”.

“Vocês estão ao lado do prefeito ou do povo de Ibiúna?” – perguntou. “Por que os senhores estão aí, assim como o prefeito está em seu cargo, porque o povo os elegeu.” Fez um breve resumo dos acontecimentos e, corajosamente, duas graves denúncias: vereadores estariam “coagindo” perueiros que prestam serviços para eles (prometeu que apresentará uma lista de parlamentares ou parentes deles que possuem kombis e vans prestando serviço à prefeitura); o presidente, o diretor e ela receberam ameaças, por telefone, de que “seriam eliminados”.

elisangela

Em razão desse fato, nesta quarta-feira (18) será feito um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Ibiúna e pedido ao Ministério Público a fim de que a companhia telefônica localize o número do aparelho de onde teriam partido as ligações. Não está descartada a possibilidade de que seja pedido auxílio da Polícia Federal para investigar esse caso.

Elisângela também anunciou que até aquele momento a cooperativa não havia recebido cópia das páginas finais do processo através do qual a prefeitura apresentou um arrazoado justificando a rescisão contratual, a fim de que a entidade possa fazer sua defesa jurídica. Mais tarde, acompanhado de dez vereadores que se sensibilizaram com a situação, foram à prefeitura e obtiveram uma cópia.

Na prefeitura não se encontrava nem o prefeito, que passou o dia em Brasília, e tampouco o secretário de Negócios Jurídicos, que se encontrava na cidade de Mairinque. A comitiva foi recebida e atendida por uma funcionária do Departamento de Licitações.

APOIO DOS VEREADORES

abelO primeiro vereador a falar da tribuna sobre o assunto e de modo mais veemente foi Abel Rodrigues de Camargo (SD): “É uma vergonha o que o prefeito está fazendo com os trabalhadores. Mas a situação grave não ocorre somente com os perueiros, mas também na área da saúde, no hospital, nas estradas esburacadas. A cidade inteira está abandonada.” O vereador disse ainda que analisará todos os documentos relativos à contratação emergencial de outra cooperativa a fim de verificar a ocorrência de irregularidades, assim como em outros setores da administração pública. Se juntar as provas necessárias, “vou pedir a cassação do prefeito”, afirmou.

Abel ressaltou que as eleições vêm aí e que nos quatro segundos que dura uma votação nas urnas eletrônicas, “cuidado em quem vocês vão votar, porque pagarão pelo prefeito em elegerem”.

“QUEM AMEAÇA É COVARDE”

Pedro Luiz Ferreira (Pros) também qualificou a atitude do prefeito de vergonhosa. “Como podem deixar as crianças sem escola, depois de inventarem um seminário para ter tempo para tratar da questão do transporte escolar? Isso foi uma punhalada pelas costas dos trabalhadores ibiunenses que trabalham como perueiros.” Em relação às ameaças, o parlamentar ibiunense frisou que “quem ameaça é muito covarde” e se prontificou a fazer parte da comissão que foi formada e que seguiu para a prefeitura.

O vereador Devanil Candido de Andrade (PMDB), líder do governo na Câmara, foi à tribuna, tentou justificar a posição do prefeito e se oferecer para marcar uma reunião com ele, mas foi fragorosamente vaiado pela plateia e ouviu os gritos de “puxa-saco, puxa-saco”.

JODI TOMA POSSE

jodiEm sua estreia como o mais novo vereador, pois tomou posse hoje no lugar de Carlos Roberto Marques Jr.(PSB), afastado do cargo por infidelidade partidária, Jodi Tanaka (PT) disse suas primeiras palavras da tribuna, depois de cumprimentar a todos: “A falta de transporte tem relação com a falta de merenda. Vocês podem contar com o meu apoio.” À vitrine online declarou que em sua nova função vai prosseguir o trabalho que vinha sendo feito por Carlinhos Marques.

Nota da Redação: os trabalhos legislativos foram retomados para exame de cinco projetos, depois de reaberta a sessão.

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.