ENSAIO – CANDIDATOS E ELEITORES NÃO PODEM AGIR COMO “MARIA VAI COM AS OUTRAS”

ovelha

A setenta e três dias das eleições municipais – e todo o respeito com animais e pessoas, pois às vezes só conseguimos dizer certas as coisas por meio de metáforas e alegorias -, parece oportuno lembrar uma frase popular e servir-se dela para dizer: não ajam, candidatos e eleitores, como “Maria vai com as outras”.

Daqui a pouco vamos contar a origem histórica dessa expressão, mas antes é preciso reiterar seu significado: Maria vai com as outras se refere a pessoa que não tem opinião própria, que segue o comando dos outros, que se deixa convencer com facilidade.

É preciso entender que até mesmo candidatos podem agir dessa forma, atuando como títeres, cujos fios são manipulados por alguém que tem poder de decisão sobre eles. Pode ser até que, por esse motivo, alguém fique na moita, em cima do muro, como diz o povo, esperando as ordens do ente a quem obedece. Como se pode confiar numa pessoa assim, por exemplo, para ocupar um cargo público de relevância, como o de chefe do Executivo?

Acontece que o Maria vai com as outras geralmente tem uma personalidade medrosa, insegura, e pode ser vítima de manobras, as mais diversas, feitas por pessoas oportunistas, gananciosas e que não abrem a mão de comandar o espetáculo. É preciso que cada eleitor reflita bem nessa peculiaridade, para não sofrer e se decepcionar mais tarde.

Perceber as verdadeiras características dos candidatos sob esse ponto de vista é fundamental para fazer uma escolha acertada, em vez se deixar influenciar por uma ilusão que, por isso mesmo, nos leva a repetir erros do passado e, em seguida, ter que pagar a conta em forma de insatisfações, desagrados e decepções.

Vamos nos deter nos aspectos relacionados ao cargo de prefeito, ainda que aqueles que buscam um cargo no Legislativo estejam sob a mesma rubrica: de fato cada postulante tem um conjunto de características, sobretudo de natureza ética e moral, mas também de competência para saber escolher seu time, mobilizar recursos, tomar decisões e agir com personalidade e mente aberta.

Por isso mesmo, se uma pessoa não estiver capacitada para honrar esses compromissos, que são requisitos obrigatórios dos políticos em funções públicas, é melhor que vá fazer outras coisas, com as quais poderá se realizar, de acordo com os seus sonhos e as possibilidades circunstanciais. Governar [para] um povo é uma função de imensa responsabilidade!

Vistas desse ângulo, as eleições de 2 de outubro, de prefeito, vice e vereadores, sobretudo depois de décadas de contínua depreciação da política e dos seus agentes, é preciso pensar firmemente nisso: não sejamos como marias que vão com as outras.

A propósito, há uma história infantil [mas oportuna também para adultos incautos] exatamente intitulada “Maria vai com as outras”, da escritora Sylvia Orthof. Diz assim: “Maria era uma ovelha que sempre fazia o que as outras faziam. Se todas iam para baixo, ela ia também, se iam para cima, Maria as seguia.”

Se a história parasse nesse ponto teria pouco proveito para perceber esse fato da vida que acomete grande número de pessoas, infelizmente, mas a autora nos dá uma ponta de esperança [o mesmo que este ensaio sugere]: “…até que um dia, ela tomou uma decisão – seguir seus próprios caminhos.” Ou seja, em vez de ser Maria vai com as outras, ela tomou a decisão de pensar, decidir e agir por si mesma, tornando-se responsável por suas atitudes.

É oportuno considerar que, quando uma pessoa toma uma decisão dessa envergadura, deu um poderoso passo na evolução de sua maturidade psicológica, social e existencial, deixando para trás a “manada” ou o que é classificado como “comportamento de massa”, em que os indivíduos praticamente não existem, pois são incapazes de serem livres e autônomos, atributos que possibilitam o voto consciente.

A ORIGEM

A expressão Maria vai com as outras tem origem em Portugal no século XVIII e se refere à rainha Maria I. Conhecida tanto como “A piedosa”, por sua vocação religiosa, como “A louca”, por ter sofrido uma doença mental, após a morte de um dos seus filhos. Devido à sua condição mental, ela vivia reclusa e só saia acompanhada de damas, que eram as outras. Daí: Maria vai com as outras.(Léo Pinheiro)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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