100 DIAS DE GOVERNO – EDUARDO FAZ AVALIAÇÃO POSITIVA E DEFENDE IDEAIS

Embora tenha se tornado uma tradição no Brasil fazer avaliação dos primeiros cem dias de governo, é sabido que se trata de um prazo muito curto para que se produzam resultados excepcionais e substantivos. Mesmo porque, também é tradição no Brasil, o governo que sai deixar como herança para o sucessor um superabacaxi para descascar em forma de dívidas não pagas, atrasos de pagamentos e, não raro, uma bagunça burocrático-contábil para “distrair” a cabeça dos que assumem o poder. Por aqui, as coisas não foram diferentes. Mesmo que não devamos esperar por milagres, vale ouvir o prefeito, sua visão e seus sentimentos, como exercício de reflexão para ele e para os munícipes. Com a palavra o prefeito Eduardo Anselmo :

 

Como o senhor avalia os cem primeiros dias do seu governo?
Avalio de forma positiva, pois conseguimos obter resultados no que nos propúnhamos inicialmente, que era encaminhar as finanças, para equilibrá-las e colocá-las em ordem até o final do ano, acertando pagamentos atrasados dos servidores, parcelando dívidas anteriores e estamos trabalhando para solucionar outros problemas.

 

Quais seriam esses problemas?
Relacionam-se a resolver os problemas das estradas, a infraestrutura do município; também estamos encaminhando solução para a área da saúde, para a educação, com as reformas das escolas, e estamos trabalhando para atrair os investimentos que nós acreditamos necessários para que o município avance.

A herança negativa recebida pelo senhor (dívidas + caos contábil) já foi dominada?
Superada parcialmente, porque temos uma parte da dívida já contabilizada, só conseguimos ter uma radiografia disso depois de um árduo trabalho. Há outra parte que nós deixamos como documentação a regularizar, não havia outro caminho, pela documentação insuficiente. O que conseguimos equilibrar foi aquilo que estava atrasado de maneira mais urgente, que era o pagamento dos funcionários e parte dos pagamentos de prestadores de serviços. Aos demais, nós pedimos que aguardem até o fim deste mês, porque precisamos colocar a contabilidade em dia. Nós conseguimos fechar o ano passado, mas não conseguimos chegar com a contabilidade ao mês de abril e nós precisarmos chegar para ter uma contabilidade diária, a fim de que possamos fazer uma provisão do que podemos pagar dos restos que ficaram.

 

Quais os principais avanços conseguidos por sua administração nesses primeiros cem dias?
Os avanços são poucos, mas foi significativa a revisão de contratos, conseguimos preços melhores nos serviços e nas compras e isso significa economia para o município. Temos tido uma abertura para o diálogo com as entidades do município, com as associações. Procuramos ouvi-las, assim como estabelecemos um diálogo direto com os munícipes. Então, estamos reorganizando os setores da administração pública e, ao mesmo, tempo promovendo uma abertura democrática para podermos dialogar e procurar as soluções em conjunto.

 

Quais são seus sentimentos da posse até os dias de hoje?
Uma vontade de fazer mais é o que nos move, ao mesmo tempo em que sentimos certa decepção com algumas coisas. Outro dia, dizia que me sentia um pouco desiludido, porque temos ideais e queremos perseguir esses ideais, mas há muitas situações que acontecem em que querem tentar tirar da gente esses ideais, e a gente tem de lutar para vencer esses obstáculos. É uma guerra invisível que está dentro de cada um de nós, essa guerra invisível entre o que sonhamos, idealizamos, e a realidade que envolve interesses pessoais e comunitários divergentes. Às vezes, me sinto solitário, porque, queira ou não, as decisões têm que partir de mim. Quando se trata de decisões erradas tomadas por aqueles que me antecederam, sou obrigado a decidir sobre isso e a responsabilidade é minha, sozinho. Então, o sentimento seria de certa desilusão em alguns momentos, uma certa decepção e solidão. Mas a garra e a vontade de acertar e querer fazer o melhor para a cidade são sentimentos muito mais fortes que me sustentam no dia a dia.

 

O que mais o faz sentir desconfortável?
Na esfera da governabilidade, você é obrigado às vezes a ceder em certas situações que ideologicamente não se cederia, mas que, pelo bem comum, pela governabilidade, para que o governo vá em frente, é preciso. Tudo tendo como meta um bem maior – o desenvolvimento de Ibiúna, mas sem desonestidade ou desvio. Qualquer um pode discordar de uma decisão ou de outra, mas não dizer que estejamos agindo com má fé.

A máquina administrativa está respondendo bem em relação às suas expectativas?
Eu diria que na maior parte sim. É preciso afinar o discurso com a prática, até no dia de hoje na reunião dos secretários eu cobrei que haja uma relação mais próxima entre um e outro, que não haja, por exemplo, um criticando o outro, quem tem dúvida que sente com outro, buscando através do diálogo a melhor solução.

 

O senhor pretende fazer algumas mudanças, a fim de melhorar a eficiência da máquina administrativa?
Sim. A gente está avaliando cada um que está trabalhando e no decorrer dos próximos meses podemos fazer mudanças. O que a prefeitura na verdade precisa é uma reestruturação administrativa completa, que neste momento não possível de ser feita. Empenharemos esforços nesse sentido.

 

O senhor tem se dedicado a ouvir pessoalmente os munícipes em seu Gabinete. Quantas pessoas já ouviu? Quais os principais motivos que as fazem procurá-lo? Isso não é desgastante demais?
Centenas. Os motivos são voltados para questões mais pessoais que comunitárias. Há muitas carências, sobretudo de emprego. Desgasta-me e angustia-me, pois pouco podemos fazer em relação a interesses pessoais. Nas questões mais coletivas (recuperação de estradas, saúde, educação, etc) estamos começando a dar um encaminhamento.

 

Politicamente, como o senhor vê a situação do município hoje?
Procuramos manter uma relação de respeito para com a Câmara, dando um encaminhamento às demandas que nos são apresentadas através das indicações. As dificuldades financeiras trazem limitações, mas precisamos equilibrar o orçamento. Cada qual (Executivo e Legislativo) deve procurar fazer a sua parte da melhor maneira possível.

 

Qual a mensagem que o senhor gostaria de expressar para a população de Ibiúna?
Que não perca a esperança de que juntos somos capazes de reverter o quadro socioeconômico que encontramos; que é possível, apesar das limitações de momento, reencontrar o caminho do desenvolvimento com sustentabilidade. Tenham a firme certeza de que estamos trabalhando de forma incansável na busca do bem para o nosso povo. Se falhamos em algo, se alguma decisão desagradou, se decepcionamos em alguma proposta, ajude-nos a rever, estamos abertos, no que é possível e legal, a buscar o que é melhor para o nosso povo. Acima de tudo acredite, queremos o bem de Ibiúna e de nossa gente (aqueles que aqui nasceram, aqueles que aqui vivem, aqueles que nos visitam)!

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.