COMPORTAMENTO – DECLÍNIO DA EMPATIA REVELA DOENÇA ÉTICA DA SOCIEDADE

Empatia é a capacidade que tem um ser humano de compreender as razões e de se colocar na dimensão dos sentimentos [em geral em estado de sofrimento] do outro. Aparentemente, podemos estar perdendo, devido ao ritmo e as dificuldades da própria existência, essa faculdade que é uma preciosa maneira de se estabelecer uma boa convivência.

O narcisismo [gostar mais de si do que dos outros, a ponto de desprezar estes], o egoísmo, a imaturidade psicológica, a subjugação às regras da sobrevivência selvagem na sociedade capitalista [cada qual procurando tirar o melhor proveito para si das situações], o individualismo obcecado e, claro muitas formas de psicopatologias e sociopatias podem estar entre as causas que podem estar levando a empatia à morte lenta.

A falta de empatia equivale a um espelho quebrado que reflete imagens distorcidas, assim como, supomos aqui, que temos do outro. Isso vale para um médico diante do paciente, de uma autoridade policial ante um cidadão, do professor diante do aluno e vice-versa, do pai diante do filho, do marido diante da mulher, do juiz diante do réu e assim por diante.

Na madrugada deste domingo, acredito que por ser jornalista e editor da revista vitrine online, fui procurado [pelo inbox e no Facebook] por duas mulheres que, de alguma forma, pediram minha atenção para ajudá-las a resolver problema com suas respectivas parentes que estavam necessitando de cuidados médicos. Em suma, fiz o que estava ao meu alcance e procurei saber, mais tarde, como se encontravam ambas as pacientes.

Na condição de jornalista, lido com informações. É por meio delas que cumpro a missão de servir à sociedade, lidando com fatos, embora em momento algum deva me considerar tendo que ir além de um limite considerável de responsabilidades profissionais que cabem a estes próprios. Em suma, lido com fatos que ocorreram, estão acontecendo ou previsíveis.

Tenho sentido, pelas minhas experiências diárias, o sofrimento do povo, de muitas naturezas, sobretudo na dificuldade primária de interpretar e se situar diante das circunstâncias e de estabelecer relacionamentos verbais adequados com aqueles dos quais esperam atitudes que respondam aos seus sofrimentos. E aí entra a empatia. Esta palavra de origem grega contém embutida em sua origem etimológica [patia] um conteúdo manifesto de dor e sofrimento.

Sofrimento, lembremos de Cristo carregando a cruz, significa exatamente isso. Sofrer é se sentir dolorido, empurrado para baixo pelo peso [por que não?] da simbólica cruz. Então aqueles que são dotados de sensibilidade, amor ao próximo e de empatia surgem para ajudar, contribuindo para o alívio de sua dor.

A empatia é uma joia de raro valor e profunda ética humana que está sendo mais do que nunca requerida neste momento em que a Terra se mostra ferida de tantos descuidos praticados pelo Homem. Isso nos inclui e não nos isenta, embora possamos achar que vivemos aqui em nosso cantinho e que estaremos a salvo das vertigens em andamento no planeta.

Em nosso dia a dia, cada vez que nos deixamos levar pelas nossas premências pessoais e imediatismos narcisistas, perdemos a oportunidade de elevar pelo menos um pouco a nossa própria condição de existir, seja o tempo que for, com dignidade; deixamos de conquistar merecimento por não contribuir para suprimir ou aliviar a dor do próximo. Saber ouvir e agir com despredimento é predicado de pessoas evoluídas que todos precisariamos ser. (Carlos Rossini)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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