IBIÚNA – A ESPERANÇA SE APRESENTA COMO PEDRA DE TOQUE DO MUNICÍPIO

Nossa cidade – Ibiúna – está na berlinda. Esse fenômeno, no entanto, é aparente em milhares de municípios brasileiros no amplo contexto de um país sem pé nem cabeça, falido moralmente. Mas nós queremos falar e cuidar de nossa cidade. Precisamos atuar visando melhorar onde moramos e vivemos.

Aliás, Nossa Cidade é o nome de uma peça teatral escrita por Thornton Wilder no começo do século XX em que faz revelações surpreendentes das verdades ocultas e mantidas em segredo pelos moradores de uma pequena cidade norte-americana.

Em suma, Wilder transpõe o “mundo normal” e convive com os cidadãos já mortos, no cemitério, e ouve deles depoimentos de como cada um cometia e escondia, uns dos outros, seus pecados enquanto vivos – inveja, adultério, egoísmo, trapaças, traições, mentiras, cinismo, ódio, rancor, e outras maldades variadas. Tudo ocorrendo sob o manto de uma aparente normalidade cotidiana de relações superficiais.

Todos, no fundo, estavam vivendo uma farsa, mas envolvida por um véu de ilusão. Bem, depois de mortos, já não havia mais o que fazer. O autor, no entanto, dá um jeito criativo de produzir um inventário de como os homens vivem e se inter-relacionam em sociedade sob o império da mentira e de mutantes máscaras sociais atrás das quais procuram se proteger.

Há inúmeras razões para as pessoas se comportarem dessa forma e uma delas é um deus impiedoso chamado dinheiro que confere poder aos seus possuidores [uma minoria absurdamente pequena concentra a renda de trilhões de dólares ao redor do mundo e nos territórios nacionais enquanto a maioria carrega o fardo diário de nem mesmo ter o que comer]. Salvo prova em contrário todos nós nos tornamos escravos ao sermos dependentes dele e perdemos o senso de liberdade, o maior dos bens que um ser humano pode almejar.

Milionários e bilionários constituem menos de 1% da população mundial e a maioria deles vive, pela ordem de concentração de riqueza, nos Estados Unidos, Japão, França, Alemanha e Reino Unido. No Brasil, a situação não é diferente e as pessoas mais ricas representam 0,6% da riqueza global.

Mas ocorre que o Brasil tem uma peculiaridade absurda: é considerado um dos países mais corruptos do mundo, com uma classe política e de empresários inescrupulosos que provocaram um roubo bilionário do dinheiro público. A Operação Lava Jato é conhecida em todo o Planeta, mas os corruptos, com exceção daqueles que foram garfados pela Justiça, tendo como figura máxima e inspiração o juiz Sérgio Moro.

Forças desses mesmos políticos, tendo à frente o abusado senador Renan Calheiros, de triste memória [ele quer presidir o Senado de novo, argh!] buscam por todos os meios enfraquecer e manter sob controle a Justiça, provavelmente para que continuem dilapidando o dinheiro que pertence à nação brasileira.

Pois bem, nossa cidade não passou incólume desse processo que respingou em todo o território nacional onde existem 5.570 municípios. Até hoje jamais existiu um sistema eficiente de monitoramento da origem e destino das chamadas emendas parlamentares, generosamente concedidas pelo presidente Michel Temer para obter aprovação em suas medidas submetidas ao Congresso Nacional.

Tantas [dezenas é o que informa a prefeitura] obras paralisadas a um custo moral e econômico cujos reflexos recaíram exatamente na limitação extrema de recursos para novos investimentos. Um vereador da base aliada disse à vitrine online que logo a população começará a ver os resultados práticos dos planos do Executivo, sobretudo considerando o volume de recursos que chegarão por emendas parlamentares [os deputados estão visitando as prefeituras e oferecendo emendas com o objetivo de assegurarem suas reeleições, já que este é um ano eleitoral] ou de convênios que estão encaminhados junto aos governo estadual e federal.

O episódio em torno do IPTU [ou atualização da Planta Genérica de Valores] cujo aumento acabou se frustrando, já que o último projeto encaminhado à Câmara Municipal e aprovado [por unanimidade] revogou a medida, significou uma perda substancial de recursos para investimentos este ano em saúde, educação, estradas.

Com uma dívida ativa no montante de R$ 140 milhões [acumuladas ao longos das últimas gestões e não cobradas dos munícipes], esta poderá ser uma fonte alternativa de melhorar as receitas. A não cobrança pode ser enquadrada até mesmo como prevaricação, uma vez que esses recursos, ao não entrarem no cofre municipal, deixam de ser convertidos em serviços à população.

Se a caixa de Pandora foi aberta em nosso município em algum momento e produziu uma série de desacertos [para usar um termo elegante] em prejuízo da população mais carente [nosso município conta com 32% de analfabetos, infelizmente], como na mitologia que criaram os gregos na Antiguidade, resta a última coisa que ali permaneceu: a esperança.

Sim, ainda há tempo para que a situação se reverta e que sejam encontrados os caminhos do progresso por meio do fornecimento de serviços e obras tão aguardadas pela população.

Em abril próximo, assume o governo estadual Márcio França, no lugar de Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência da República, e se nota um esforço de aproximação de modo que – considerando seu interesse notório de candidatar-se ao cargo de governador – França possa dar maior atenção a Ibiúna.

Como sempre, acompanhamos a temperatura das conversas dos munícipes na função de jornalismo que cumprimos e, por isso mesmo, acenamos com a esperança de que fatos alvissareiros logo entrarão nas agendas de realizações efetivas. Torcemos por isso, junto com a população. E esperamos que a humildade e a simplicidade se tornem os fios condutores de uma nova história. (Carlos Rossini)

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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