FALTA DE PUDOR DE ALGUNS LÍDERES RELIGIOSOS É ESPANTOSA

Nesta madrugada, um vídeo originado em uma cidade do Nordeste mostrava uma dessas cenas inacreditáveis de despudor e de desrespeito ante a inocência e a credulidade de uma fiel.

A mulher procurou o pastor para lhe dizer que seu carro estava fraco e que mal conseguia subir uma ladeira. Isso foi o suficiente para ele declarar:

“Isso acontece porque seu automóvel está possuído pelo demônio e que ele já não deve mais lhe pertencer e sim a outra pessoa. Minha filha, pegue a chave, traga o seu carro e nos entregue. Vou ungi-la na hora e você, em vez de ter um carro 1.0, irá adquirir um 2.0. O seu problema de enfrentar a subida vai acabar. E não se esqueça de também trazer mil reais.”

Essa atitude é certamente uma forma de enganar uma pessoa humilde e crédula e deve ser algum tipo de crime que deve ser considerado pelas autoridades policiais e judiciárias. Em todo o Brasil, fatos como esse vêm acontecendo corriqueiramente.

Há casos de doações de casas, de carros, de dinheiro, pela forma como os pastores ou bispos manipulam as mentes das pessoas, isso em prejuízo às próprias famílias que se vêm despojadas de seus bens, diante da promessa de que irão receber ainda mais “em nome do Senhor”.

Pura enganação! Alguns dos maiores líderes religiosos acumulam uma fortuna que chega à casa de bilhões, vivem uma vida nababesca, superconfortável, com seus apartamentos milionários, fazendas e mansões, onde gozam os prazeres da vida material mais prosaica, enquanto seus seguidores chegam a passar fome e habitam moradias onde entram ratos, formigas e nem sequer têm os serviços básicos que lhes possam garantir uma condição de higiene e saúde digna.

Pequenos copos de água “ungida”, “sucos de uva” tocadas pelas mãos consagradoras de pastores, vassouras abençoadas por R$ 1.000,00, doações em espécie para garantir a veiculação de programas na televisão, pedras supostamente trazidas da Terra Santa, tudo isso e muito mais servem de pretexto para conseguir dinheiro e mais dinheiro, sem pudor e sem escrúpulo.

Esses fatos acontecem todos os dias nos milhares de templos espalhados pelo Brasil, um mercado disputado por “exércitos” de obreiros, pastores, bispos com unhas e dentes. O treinamento para conquistar o poder sobre a população fragilizada pelas dores do viver simplório contém estratégias de marketing aprendidas nas terras do Tio Sam, onde houve grande florescimento de lideranças religiosas formadoras de diversas escolas que exploram a fé.

Vi um dos maiores “capitão da indústria da fé” no Brasil logo ao fim de uma pregação dizer para um templo lotado que as pessoas podiam voltar para os seus lugares, mas não para sentar simplesmente, mas “para pôr a mão no bolso e fazer sua oferta do dia”.

Não entenda o leitor esses comentários como uma  generalização inconsequente, pois há denominações sérias, que procuram agir de forma correta, talvez orientada por uma visão purificada das palavras encontradas na Bíblia e que respeitam as condições do povo e sua necessidade de transcendência.

Em suma, se existem na Terra duas correntes – uma espiritual e outra materialista – é no intervalo desses valores essenciais que os abusos possam estar ocorrendo. A ganância e o materialismo de homens que descobriram uma fórmula para ganhar dinheiro abundantemente e que se dane o resto, desde que seus esforços para promover catarses [“descarregos” de tensões e traumas que vivem perturbando a mente das pessoas mais pelos problemas existenciais da sobrevivência humana] funcione.

Que Deus – já que a manifestação religiosa é livre no Brasil e isso é muito bom – ilumine as cabeças dos humildes para que herdem os reinos do Céu na Terra, porque ele é o criador da Natureza e de toda a vida existente em nossa morada cósmica. (Carlos Rossini)

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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