PAPO ENTRE O NETO E O AVÔ, SOBRE O SENTIDO DA VIDA

Mesmo em uma sociedade que parece ter perdido a própria alma, há raros momentos em que existe a possibilidade de nos tornarmos sãos, humanos e amorosos, um com o outro.

Quando um adolescente resolve abrir seu coração é preciso que tudo o mais cesse, pois esse é um instante consagrado para a escuta e a conivência filosófica.

Neto, adolescente: “Vô, sabe eu tenho me perguntado: qual o sentido da vida?”

: O que você acha dessa dúvida, tem alguma resposta em vista?

Neto: Não, vô, mas não consigo perceber o sentido da vida.

: Sabe, eu também tive muito essa dúvida e acredito que a terei sempre, porque muita coisa parece não fazer sentido algum; há muitas coisas simplesmente absurdas, embora eu não queira nomeá-las agora, apenas senti-las dentro de mim de modo calmo.

Neto: Não acredito em muitas coisas que ouço em todos os lugares, pois me parecem mentirosas ou que foram feitas para enganar ou criar ilusão.

: A sua dúvida é maravilhosa, necessária e despertadora. Aliás, é uma das grandes questões que acompanham a filosofia desde o seu nascedouro. Questionar é um método formidável para evoluir e superar nossa própria ignorância. Mas jamais se aflija porque nem os bambambãs da filosofia mais consagrados conseguiram uma resposta definitiva e, por isso mesmo, existem muitas maneiras de perceber o sentido da vida.

Neto: Essa dúvida me incomoda muito!

: Meu amado neto, essa sua maneira de pensar ou sentir o torna uma pessoa encantadora, especial, e eu quero lhe dizer o quanto lhe amo por isso e o quanto me torno igual a você, porque, de alguma forma, nós dois somos buscadores de conhecimento e da verdade e isso é sempre um caminho difícil.

: A busca do sentido da vida é uma forma de se perguntar sobre o propósito e significado da existência humana e há quem garanta que existe uma quantidade inumerável de possíveis respostas para o sentido da vida.

Neto: Isso não gera mais confusão ainda?

: É possível, mas também intrigante e provoca cada um de nós a sermos nós mesmos. Viktor Frankl ficou três longos anos em um campo de concentração na Alemanha nazista, debaixo de um sofrimento cruel. Lembro-me de uma passagem em que ele acha um pedaço de arame e sente um triunfo inesperado. Com esse pedaço de metal ele conseguiu amarrar o sapato para que não saísse do seu pé, pois o chão era puro gelo.

Segundo ele, que era médico psiquiatra, durante o período em que esteve no campo de concentração desenvolveu uma teoria que se tornou uma escola de psicoterapia, mas não é dela que quero falar agora.

: Frankl descobriu que a vida precisa ter um significado ou sentido, que é o que mantém a própria vida viva, pulsante. Ele disse: “O sentido da vida reside em encontrar um propósito, em assumir uma responsabilidade com nós mesmos e com o próprio ser humano”, o outro. No caso dele, foi a esperança de reencontrar sua esposa e publicar suas ideias sobre a terapia do sentido da vida que o manteve vivo durante três anos de sofrimento humano avassalador. Outro sentido foi uma vontade tremenda de passar seus conhecimentos adiante. E foi o que ele fez, elaborando uma forma de lidar com esse assunto tão importante.

Neto: Que legal, vô!

: Que bom que você gostou! Agora veja o que um dos grandes mitólogos do mundo disse a respeito, talvez possamos pensar junto com ele, pois parece fazer bastante sentido, sobretudo quando a gente olha o céu à noite e vê as estrelas no firmamento e imagina uma imensidão inimaginável, não é mesmo? Ele disse: “A vida é desprovida de sentido. É você que dá sentido a ela. O sentido da vida é aquilo que você atribui a ela.”

Neto: Caramba, vô, amei isso!

: Eu também! (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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