EDITORIAL – A LIÇÃO DOS CAMINHONEIROS AO BRASIL – “A VERDADE TORCE, MAS NÃO QUEBRA”

A má-fé utilizada pelos políticos e governantes brasileiros, de larga tradição desde o tempo do coronelismo, ficou exposta notoriamente nestes conturbados dias em que a nação brasileira se viu despertar e conhecer a soberanidade da população em face daqueles que ocupam funções públicas por delegação do próprio povo.

De nada adiantou despachar as forças militares contra a manifestação legítima dos caminhoneiros por todas as estradas do país, se até mesmo os personagens uniformizados tinham, dentro de si, simpatia pela causa, uma vez que há um caos político e econômico em andamento, por incompetência ou, repetimos, má-fé dos “gestores” nada patrióticos.

Nesta altura exaustos da longa jornada grevista, organizada e pacífica em sua extensão e atendidos pelo governo federal em suas principais reivindicações, saudosos do lar e da família, a tendência é que nos próximos dias a situação comece a voltar ao normal, que é desejo geral.

Ficou claro que os caminhoneiros, sobretudo os mais sofridos, os autônomos, são responsáveis pelo sangue que corre nas artérias do Brasil a alimentar as fomes e o processo econômico de produtos e serviços em toda a sua cadeia.

A frase que faz parte do título destes pensamentos foi criada pelo magistral pilar da literatura espanhola Miguel de Cervantes há 400 anos, em seu famosíssimo Dom Quixote de Lá Mancha que vai muito além de combater, seu protagonista, simples moinhos de vento.

O livro mostra verdades em abundância e sabedoria sem fim no viver dos povos. Ao juntar e cotejar, de um lado, a realidade nua e crua; de outro, abrir as portas para a fantasia e a imaginação, com a qual ridicularizou a própria realidade com tintas cujas ressonâncias são validas hoje onde quer que se viva, incluído o Brasil com sua cultura torta de origem e que nos tornou um povo aprisionado pelo medo e obediência a autoridades impiedosas e oportunistas.

Se esse heroico movimento, corajoso e atrevido, resultar em conforto real para os sofridos caminhoneiros brasileiros, será isso muito bom, como uma conquista exemplar, porque há muitas outras questões que precisam ser resolvidas e que afligem intensamente a família brasileira como um todo.

Se, como preveem alguns, esse episódio de caráter histórico pode fazer despertar o povo para a ação, em defesa de seus interesses legítimos, tanto será melhor, porque, enfim, deve chegar a hora em que toda uma nação deve agir contra aqueles que, em vez de lhe proporcionarem bem-estar e segurança que é do espírito democrático por excelência, lhe tomam dos bolsos tudo o que podem para satisfazer sua voragem de poder.

Os caminhoneiros foram, sim, e são, vitoriosos, com o notório abraço recebido da população carente de respeito e de dignidade. Mesmo que as raposas palacianas e congressuais possam engendrar manobras falaciosas, atendendo aos manifestantes e retirando dos bolsos da multidão nacional, mais uma vez – sempre socializando bilhões, nada menos que isso – é, mais do que nunca, chegada a hora de saber que:

“A verdade torce, mas não quebra”, pois ela é a única substância que poderá fazer do Brasil uma nação de verdade. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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