UMA QUIXOTESA POLÍTICA SURPREENDE IBIÚNA COM GRAVE DENÚNCIA DE FRAUDE

Foi preciso surgir uma quixotesa política, em primeiro mandato na Câmara Municipal de Ibiúna, depois de um paciente e discreto trabalho pessoal de investigação, para que uma denúncia grave de fraude contra a prefeitura viesse a público e se espalhasse rapidamente pela cidade. A notícia foi dada com exclusivamente pela revista vitrine online e repercutiu como nunca antes tinha acontecido: foi um recorde histórico de acessos em apenas um dia.

O fato em resumo: a vereadora Rozi Soares Machado (PV), que acompanhou a licitação para compra de pedras (produto imprescindível para Ibiúna com muitos quilômetros de estradas de terra) desconfiara de algo errado e passou a “monitorar” a entrega desse produto na Garagem da Prefeitura. Na última quinta-feira (23), enfim interceptou duas carretas enviadas pela empresa Casamac, localizada no município de Suzano, que conteriam, as duas juntas, 23 m3 de pedra a menos do que constava nos romaneios. Rozi chamou a polícia, a imprensa, o prefeito, o vice, secretários municipais para testemunhar o fato. Os caminhões ficaram à disposição da Polícia Civil de Sorocaba para realização da perícia (feita na sexta-feira, falta a divulgação do laudo) necessária para confirmação técnica dos dados denunciados.

O prefeito Eduardo Anselmo disse à vitrine online que determinou a abertura de um processo administrativo para apurar a denúncia, que as cargas dos dois caminhões foram devolvidas ao fornecedor e que esperava pelo resultado da perícia. Na tarde de sexta-feira a pedido de Rozi, a vereadora reuniu-se com o prefeito e o presidente da Câmara Municipal, segundo ela para informá-los sobre o ocorrido diretamente.

É muito provável que, no andamento da carruagem, nada efetivamente aconteça em relação a esse episódio específico. Embora a empresa contratada tenha feito trinta e sete entregas, não há como provar que possa ter havido fraudes nos fornecimentos anteriores. Como as duas carretas interceptadas pela ação da vereadora foram devolvidas sem fazer a descarga do produto, mesmo aí não teria se configurado um delito, ficando implícita apenas uma intencionalidade de levar vantagem que não deu certo.

O que resta então dessa história é um emblema de conduta ética que serve de alerta e exemplo e que surge na história política da cidade protagonizada por uma mulher audaciosa, vereadora, que procura cumprir as duas principais missões que o cargo lhe impõe como dever: legislar e fiscalizar os atos do Executivo. Sabe-se que o ruinoso hábito que franqueia as portas para fraudes desse gênero tem origem nas licitações e nos chamados aditivos, que são uma forma de aumentar o custo de uma obra, ou a entrega a menor do que foi contratado com um fornecedor, como parece ter sido o caso em foco, flagrado e denunciado por uma quixotesa, que recebeu elogios e apoio por sua atitude. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.