UEE DECIDE EM CONGRESSO IR ÀS RUAS DE SÃO PAULO A PARTIR DESTA SEGUNDA-FEIRA

EXCLUSIVO – O 11º Congresso da União Estadual de Estudantes de São Paulo (UEE) encerrado hoje à tarde (16) no Ginásio de Esportes da cidade de Ibiúna decidiu oficialmente entrar nos movimentos de ruas em São Paulo e em outras cidades onde houver essa manifestação, em defesa da redução da tarifa de ônibus.

A nova presidente da entidade eleita no último dia do encontro, Carina Vitral Costa, 23, estudante de Economia na Unip, disse à revista vitrine online que a decisão da UEE se fundamenta “no legítimo direito dos cidadãos ao transporte público de qualidade, ao acesso à cidade, à escola, ao teatro, ao cinema, ao direito de ir e vir”.




Os delegados da UEE vindos de todas as cidades do Estado de São Paulo, somando cerca de mil pessoas, foram convidados a participar da primeira ação nesta segunda-feira, com concentração marcada para as 15 horas no Largo da Batata, no bairro de Pinheiros, de onde seguirá pelas ruas da Capital até se juntar a outros grupos.

A decisão de realizar o congresso no município de Ibiúna foi uma forma de homenagear os setecentos e vinte estudantes que foram reprimidos e presos em um sítio de Ibiúna, quando se preparavam para iniciar o XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Esse episódio ocorreu na manhã chuvosa do dia 12 de outubro de 1968 e está completando quarenta e cinco anos.


Entre os presos, houve aqueles que foram torturados, mortos ou desapareceram, outros seguiram para o exílio e alguns dos continuam vivos se reencontraram e participaram de ato público na tarde do sábado (15) na Praça da Matriz. Em clima de muita emoção, houve a celebração do encontro entre jovens estudantes de hoje com aqueles que eram jovens com idades entre vinte e vinte e cinco anos, em 1968, e que hoje são senhores com mais de sessenta anos, mas muito orgulhosos do que fizeram para libertar o País da ditadura militar.

Entre eles se encontravam José Genoíno, deputado federal do PT; Percival Maricato, Antonio de Pádua Machado, Augusto Cesar Petta, Vilma Amaro. José Dirceu que participou da abertura do congresso na sexta-feira (14) – ele em companhia de antigos companheiros visitou o sítio onde foi preso em 1968 – não esteve presente à solenidade realizada na Praça da Matriz no sábado, onde estudantes apresentaram a peça “1968, O Último Ato”, que “prega o valor da palavra em vez do tiro” e o fim da violência contra os cidadãos.

Houve também a apresentação de um filme mostrando as manifestações e a forte repressão aos estudantes sobreduto no Rio de Janeiro e em São Paulo na época e uma sessão especial da Comissão Nacional de Anistia, presidida pelo Secretário Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, que anistiou dois estudantes presos no 30º Congresso da UNE em 1968.

José de Abreu

O ator global José de Abreu protagonizou uma situação desconfortável com os dirigentes da UEE. Convidado para ser o apresentador da sessão de abertura do congresso, acabou não comparecendo por um desencontro havido em sua chegada a São Paulo. Seu voo teria atrasado, segundo o ex-presidente da UEE, Alexandre Cherno Silva , razão porque ele não encontrou quem o recebesse no aeroporto. Abreu decidiu tomar um táxi para Ibiúna. Aqui chegando e levado para um hotel teria dito que esperava se instalar num hotel fazenda. A partir daí a situação desandou e Abreu, que também fora preso em 1968 em Ibiúna, teria comentado que devia ter cobrado um cachê, em vez de fazer apresentação de graça, possivelmente agastado com o episódio.
Vaias

Ao ser chamado para compor a mesa do evento na Praça da Matriz o deputado José Genoíno foi vaiado pela população que o chamou de mensaleiro. Horas depois, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, antes do inicio do jogo entre Brasil e Japão, a presidenta Dilma Rousseff foi vaiada por três vezes, quando seu nome foi anunciado. Sua expressão demonstrou que ela se sentiu desconfortável.

 

Povo e estudantes

Com exceção do prefeito Eduardo Anselmo (PT), de um e outro secretário municipal e apenas um vereador, a solenidade realizada na Praça da Matriz não atraiu atenção da população local que ficou distante do congresso, assim como quase a totalidade dos vereadores. Também, com exceção de um ou outro, os estudantes de Ibiúna não participaram do congresso da UEE. Curiosamente, em 1968, a estranheza da população local com a presença de homens barbudos, “muita gente de fora”, que compravam tudo que existia nas padarias e armazéns (pão, leite, arroz, etc.) levou um cidadão a avisar o então delegado de polícia local. Daí foi um passo para a repressão policial agir, segundo reza a história.

 

A REVISTA VITRINE ONLINE QUE ACOMPANHOU A REALIZAÇÃO DO CONGRESSO VAI PREPARAR UMA SÉRIE DE MATÉRIAS INTITULADA CORAÇÃO DE ESTUDANTE, COM OS PERSONAGENS DESSA HISTÓRIA DE 1968 AOS DIAS ATUAIS.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.