CRÔNICA SOBRE A INQUIETAÇÃO E O AMOR DE UMA MULHER
Helena estava inquieta naquela tarde de domingo. Sozinha em casa, sentiu uma angústia repentina. Sua mente era um turbilhão de pensamentos, seu coração começava a bater fora do compasso normal, respiração curta.
— Meu Deus, o que está acontecendo comigo? – se perguntou, sem que surgisse uma ideia tranquilizante.
De repente, sentiu um desejo de pegar o telefone. Precisava falar com alguém, talvez uma amiga ou alguém em que pudesse confiar. Queria falar, falar, como se isso pudesse ajudá-la a recompor sua alma e acalmar-se.
Cada vez que tentava fazer uma ligação, uma força contrária a impedia de fazê-lo. Habitualmente senhora de si, se via naquele momento como uma criança perdida. Suas emoções estavam fora de controle.
Deu algumas voltas no jardim, respirou fundo, e começou a se perguntar o que estaria acontecendo com ela, assim sem mais nem menos. Fez um balanço de sua vida atual: amor, sexo, relacionamentos familiares, trabalho, amizades, mas não conseguiu estabelecer um nexo sobre as causas do repentino estado de sofrimento.
Imaginou tomar um vinho, fumar um cigarro, para distrair, mas lembrou-se que não era fumante e que o vinho só deve ser bebido em momentos de alegria, não de tristeza. Sim, era isto, estava se sentindo triste aparentemente sem motivo.
Novamente pegou o telefone, pressionou alguns números, mas antes de concluir a série, desistiu. Lembrou-se de uma colega de trabalho notoriamente ansiosa que lhe dissera um dia que quando se sentia “vazia”, abria sua agenda telefônica e ligava para várias pessoas, ouvi-las falar já lhe parecia suficiente para sentir-se viva.
Mas, Helena, ainda que movida pela ansiedade, não desejava despejar suas inquietações em pessoa alguma. “Cada qual tem suas aflições e por que devo aborrecer alguém com os meus tormentos?”
Bem, Helena era uma mulher linda e atraente, gozava de boa saúde física e chamava a atenção onde quer que estivesse, principalmente das outras mulheres, por sua beleza e um esplendido sorriso com seus dentes alvos.
— Será que estou sentido é solidão?
Imaginou esse sentimento e o descartou. Talvez fosse algo mais profundo em sua alma, lhe dizendo sobre questões existenciais não muito claras. Tentou recapitular a história da sua vida para encontrar alguma razão escondida de sua consciência. Viu-se menina, alegre, brincando com outras crianças. Avaliou as relações internas de sua família, pai, mãe, irmãos, e percebeu que viveu, desde o seu nascimento, num ambiente feliz e saudável.
Lembrou-se do seu primeiro amor, um colega de escola, com o qual viveu uma paixão de adolescente. Depois que ele se mudou para outra cidade, curtiu meses de um intenso silêncio interior, que incluiu saudade arrebatadora. Mas, com o tempo, se despediu dos momentos afetivos que compartilharam e que a fizeram sentir-se amada.
Agora tinha um namorado com o qual pretendia se casar e ambos se davam muito bem.
“Nossa química física e espiritual combinam como uma fórmula perfeita!”
Mas, por que, então, fora acometida por emoções tão poderosamente incômodas?
Perguntou-se se isso não era apenas devido ao fato de ser mulher feita para o amor e poderia ser isso que lhe estava faltando nesse exato momento. Podia ligar para o namorado e certamente ele viria como um relâmpago, pois era médico e estava de folga. Nada lhe custaria vir de São Paulo e oferecer carinho, conforto e, talvez, se amarem, pois se davam muito bem, além do que contavam com a força do amor sensorial.
Helena, na verdade, estava se desafiando a ser ela mesma, a ser autora dos próprios sentimentos e da própria história, apreciava a palavra integridade como uma estrutura da sua vida individual. Não achava que o socorro para sua situação deveria vir de fora, mas da própria alma que considerava sua existência verdadeira.
Então, finalmente, ela pegou o telefone e ligou para o namorado.
— Oi, amor, como está?
— Bem, querida, e você?
— Estou um pouco confusa hoje, sentindo coisas estranhas, como se o mundo não mais existisse.
— Nossa, Helena, o que você está me dizendo, o que aconteceu?
— Nada, mas estou me sentindo triste. Isso aconteceu de repente e nunca havia sentido nada parecido antes.
— Vou aí.
— Não amor, sou adulta e preciso resolver isso sozinha.
— Por quê, ninguém é perfeito, todos precisam de ajuda. Na minha profissão observo isso todos os dias. Viver não é fácil e é preciso saber quando precisamos de ajuda. Além disso, estou com muita saudade!
— Então vem, mas tome cuidado!
Quando seu namorado bateu na porta e entrou, Helena se transformou completamente, diante do sorriso do seu par de amor. Abraços carinhosos, beijos e um presente inesperado na forma de um par de alianças de ouro branco com três aplicações de jade.
Depois desse dia, Helena voltou a ser a mulher alegre, feliz e apaixonada pela vida. (C.R.)

