ARTIGO – COMPORTAMENTO DOS POLÍTICOS FAZ A REALIDADE PARECER CARICATURA

Poder, dito de forma simples, é fazer com que o outro lhe obedeça e realize o que você deseja. Esse conceito vale tanto para relações interpessoais e familiares quanto para compreender questões amplas envolvendo estados, governos, sistema econômico, político, etc.

Há três maneiras clássicas de se exercer o poder: pelas leis e normas reguladoras da vida social; pela coerção (uso da força); e pela gratificação (em troca de pagamento, você produz coisas).

De qualquer forma, o poder ocupa um papel central na história da humanidade e é protagonizado por reis, príncipes, presidentes, primeiros-ministros, ditadores, religiosos, governantes, militares, policiais, políticos, empresários, juízes, professores, pais – portanto está sempre presente tanto na esfera micro quanto macrossociológica.

Uma frase dramática atribuída a Dostoiévsky, escritor e poeta russo que viveu no século 19, decorrente de uma observação dos fatos da realidade, diz: “A autoridade só existe se faz sofrer.” Não há aí uma dica a nos mostrar o lado mais cruel do poder? Não é assim que a História nos mostra a vida dos povos desde tempos remotos até os dias atuais?

Guerras santas, expansionistas, totalitárias, raciais, submissão, exploração econômica, violências escatológicas, como as bombas atômicas lançadas sobre o Japão, violências generalizadas praticadas sobre seres humanos indefesos ou enfraquecidos, violação dos corpos, corrupção (uma forma de poder abjeta), tráfico de drogas (um poder diabólico), assédios morais, sexuais, engenharias perversas de tortura…Tudo isso são facetas do poder em sua expressão negativa e sombria.

E essa inveja provocada no homem por Deus todo-poderoso e pela Natureza tão bela e grandiosa? Não construiu a própria morte de Deus e a gradativa destruição da Natureza? Na ânsia de dominar tudo, ao ponto máximo de se supor assim maior do que a morte, o poder destrutivo é realmente corrosivo, além de provocar um lado pouco explorado no plano do senso comum visto em geral como ignorância generalizada.

O poder faz questão de manter (desculpem!) a massa longe do próprio pensar autônomo, da reflexão e da liberdade, gera espetáculos hipnotizadores e oferece encantamentos, como fazem os chefes de comitiva, quando entregam um boi para as piranhas satisfazerem seu instinto voraz, enquanto a manada atravessa o rio.

Pois exatamente a política, uma invenção dos filósofos gregos para a cultura ocidental, para organizar a vida em sociedade e mediar os conflitos que aí sempre ocorrem entre os interesses opostos, chega ao século 21 com espécimes que agem de forma automática, sem conhecer suas razões de ser profundas e sua forma mais evoluída conhecida por democracia.

Os poderosos, por desconhecimento, miopia ou despreparo básico para a função, abandonam o poder das palavras, ou da linguagem, o mais importante instrumento da ação política pura, e praticam ou ordenam atos agressivos e violentos contra os cidadãos. Antes disso, usam um discurso para consumo do povo do qual riem quando estão em suas rodas íntimas e mesmo caçoam de sua inocência cultural.

Lamentavelmente, a política e o dinheiro fizeram um pacto que seduz a maioria dos políticos. É um caminho para tirar vantagem, enriquecer, enganar súditos inocentes e crédulos. Isso tem um preço claro: o próprio poder enlouquece com uma retroflexão. A imagem que projeta para se fazer obedecer, não importam os meios utilizados, se volta contra si e assim gera sua própria degradação. Ideia ruim não gera ideia boa.

Assim, parece ficar mais claro o entendimento do que vemos nas estranhas relações entre os poderes à mercê de crises, escândalos e mau uso do poder, em que autoridades são publicamente debulhadas diante de um povo pasmo e perplexo, que de tão iludido pensa que isso não faz parte do mundo real e sim de uma caricatura. (C.R.)    

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.