GOVERNANTES MEDÍOCRES SÃO MAIS COMUNS DO QUE BONS GOVERNANTES

Bons governantes são exceção, não a regra; o mais comum são os medíocres. Há uma palavra para qualificá-los: mediocratas. Constituídos por pessoas despreparadas para exercer com competência o comando político, interpretam papéis como se ignorassem a hora certa de entrar e sair de cena, de falar e de calar, de apontar o rumo a seguir e, não menos importante, de liderar e motivar uma equipe funcional, de forma ousada e corajosa, com a sabedoria de bem ouvir.

Um chefe de governo não pode pensar da mesma forma que seus subalternos, porque aí não haveria o imprescindível toque da diferença que é típica de quem deve reconhecer as particularidades do poder e obter afinidades com grupos humanos para a realização de tarefas com objetivos comuns de modo eficiente.

A mediocridade não combina com tudo aquilo que precisa de novos pensamentos e ações porque uma de suas características predominantes é o conservadorismo de conduta, a manutenção da rotina e a falta de criatividade. O oposto da mediocracia é a idealização e a inteligibilidade, duas palavras cujos significados causam alergia e desacomodação naqueles que são avessos a qualquer tipo de mudança e se agarram com tenacidade ao tradicional mastro do barco para não serem atraídos pelos cânticos das sereias.

Os mediocratas, por falta de visão abrangente e contextual da realidade, só conseguem enxergar as ações de varejo, em geral incapazes de dar conta de situações mais complexas, além do que são vítimas de um temor constante e infundado do ambiente circundante como permanentemente hostil. Qualquer coisa, por mais ridícula que seja, é capaz de tirá-los do sério e revelar sua face oculta por uma máscara que acaba por se revelar mais poderosa do que o ator que lhe dá sustentação.

Por que refletir dessa forma se na realidade cotidiana, de senso comum, e isto é típico de uma cultura mediocrática, os voos são muito baixos, bem diferentes das aves imponentes como a águia real? Em primeiro lugar porque essa forma de governo não dura muito por um processo de autofagia que tende a decompô-la; em segundo, porque a própria e rápida evolução do mundo tende a escancarar aquilo que se procura ocultar do conhecimento público. Isso dá cada vez menos certo na medida em que as informações são cada vez mais compartilhadas em velocidade rápida.

O pensar político é uma obrigação dos cidadãos sensatos que não compactuam com o desejo comum dos poderosos de permanecer por longo tempo no poder, dele se locupletando, enquanto a população amarga as dores de uma impiedosa e malévola falta de vergonha de políticos medíocres, ocupem estes cargos executivos ou legislativos. Para não ficarmos no vácuo é bom exemplificar: aí se incluem mensalões, mensalinhos, licitações e aditivos irregulares, convênios, superfaturamentos e entre outras artimanhas para desviar dinheiro público.

Portanto, achar que política é coisa nojenta para ser praticada só por políticos em nada ajuda a mudar a situação que todos condenam como imoralidade, mas é exatamente esse o ponto a ser focalizado: o povo é o soberano, é ele quem delega poder ao político e também é ele que pode retirar esse mesmo poder, quando os políticos não fazem o que deveriam fazer e para o que foram eleitos.

Pensar na possibilidade que o poderoso investido em cargos públicos pode não passar de um mediocrata é uma possibilidade de enxergar o fenômeno diferente do que aparenta ser e essa descoberta já é um importante passo para se tornar um cidadão pleno no exercício dos seus deveres, dotado de senso crítico e não apenas mais um reclamão. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.