AS MARITACAS

Estava a escrever uma notícia na sala de casa. De repente, um barulho tremendo no forro. Não dava para prosseguir. Sem saber do que se tratava, peguei um varão e cutuquei o forro. O ruído parou. Minutos depois, descobri os protagonistas. Saíram do forro e ocuparam a copa de uma árvore próxima de onde aumentaram a algazarra, como se dissessem: “Ei, deixem-nos em paz, não vê que nossa família vai aumentar?”

Era um pequeno grupo de maritacas. Alegrei-me por serem elas meus vizinhos inesperados e segui adiante no meu trabalho.

Não tardou para que o gramado ficasse pontilhado de pontos brancos como a neve. Eram pedaços de placas de isopor que existem entre o telhado e o forro de madeira, como isolantes térmicos. Varrida a grama lá, de novo, e nova camada se fazia ver.

Imaginei que essas aves atrevidas estavam preparando o ninho para sua procriação.

Numa breve pesquisa, descobri uma orientação da Polícia Ambiental sobre como proceder no período de reprodução das “maritacas”, para não correr risco de cometer crime ambiental.

Esclarecem as autoridades que é importante entender que o Periquitão Maracanã, de nome científico Aratonga leucophthalmus, popularmente conhecido como maritaca, tem seu período de reprodução na época da primavera e verão.

Para fugir dos seus predadores, elas se instalam em telhados e forros, e costumam incomodar os moradores, pois fazem seus ninhos, descascam os fios elétricos e perturbam com os barulhos.

A Polícia Ambiental também adverte que é expressamente proibido, uma vez que instalado o ninho, fazer qualquer intervenção até que os filhotes cresçam e abandonem naturalmente o local.

De acordo com o artigo 29, parágrafo 1º, inciso II, da Lei 9.605/98, configura-se crime ambiental quem modificar, danificar ou destruir o ninho, abrigo ou criadouro natural.

O momento certo para vedar as frestas dos telhados, a fim de impedir que as maritacas entrem, é no período de abril a agosto, quando não estão em época reprodutiva e assim se prevenir dos possíveis incômodos causados por essa ave.

Da minha parte, fiquei feliz por elas escolherem minha casa para se reproduzirem. Quanto aos pedacinhos de isopor que lembram a neve, vamos pacientemente recolhendo. As maritacas são bem-vindas e, quer saber de uma coisa, elas me lembraram que em breve será Natal, data-símbolo da cristandade que celebra o nascimento de Jesus. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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