ESPECIAL – VIOLÊNCIA CONTRA JOVEM ESTUDANTE EM IBIÚNA EXPÕE UMA REALIDADE SOCIAL CRUEL

A gravíssima e covarde agressão cometida contra uma jovem estudante ibiunense por um par de violentos adolescentes, que contam com a proteção da lei só pela idade, mas não pelo tamanho físico e pela agressividade, atinge em cheio a medula moral da sociedade local. Se não houver uma mobilização contra esse fato, será grande o risco de ocorrerem novos casos semelhantes e talvez com resultados mais trágicos. O medo dos jovens estudantes e de seus familiares é palmar em toda a cidade. A autoridade tem que aparecer sem tardar e dar um basta a esse estado de insegurança instalado no espírito da população.

Ontem, enquanto o repórter da TV Record aguardava mãe e filha agredida para uma entrevista, na Delegacia de Polícia outras quatro pessoas esperavam a vez para fazer boletim de ocorrência de outras agressões, ambas praticadas por mulheres. Uma ocorreu dentro do ônibus que deixou a rodoviária às 4h28 da quinta-feira (22) em direção ao bairro da Ressaca. Uma jovem de 17 anos foi espancada por uma mulher com socos e pontapés e ninguém fez nada para impedi-la, fato idêntico ao acontecido na agressão contra a estudante do Colégio Estadual Roque Bastos. Os jovens e pessoas próximos à cena apenas se divertiam como se tivessem vendo um combate do UFC, mas houve aqueles que filmaram e distribuíram as imagens da crueldade “para que não volte a se repetir”. Nem todos estão completamente hipnotizados pela loucura de sentir prazer com o sofrimento alheio.

A outra agressão foi praticada contra a mãe de uma adolescente de 16 anos no interior do Supermercado São Roque próximo à Capela do Bom Jesus. A agressora praticou esse ato por sentir ciúme imaginário do seu namorado. A mãe, que já registrou boletim de ocorrência, ainda tinha marcas do hematoma no antebraço esquerdo. Foi salva do ataque por um segurança do supermercado.

PRÓXIMA VEZ

O ataque à estudante aconteceu por volta das 12h30 do dia 9 de agosto, só foi registrado na Delegacia de Polícia no dia 13 de agosto e se tornou público agora. No boletim de ocorrência há dois registros preocupantes atribuídos à adolescente agressora que terá dito depois de aplicar a surra numa menina com menos de um metro e meio de altura, contra seu tamanho em torno de 1,80m: “Isso é para você aprender”; “da próxima vez o trabalho será bem-feito.

A agressora depôs ontem à tarde e saiu por uma porta lateral da delegacia, onde seu pai a esperava, falando ao telefone e sorrindo.

A VÍTIMA

M.R.S., a vítima das agressões, disse ontem à revista vitrine online que no dia do fato ia saindo normalmente da escola, mas percebeu que os jovens apontavam para sua direção. Sem entender o motivo, em vez de descer a rua do Colégio Roque Bastos para voltar para casa, decidiu subir para evitar algum tipo de problema.

M.S.O. [a agressora que não estuda na escola assim como seu comparsa] “veio pra cima de mim e perguntou se eu tinha comentado que havia batido nela”. Respondi: “Não conheço você.” Ela falou: “Tudo bem, pode ir”. Nesse momento “que eu dei as costas para sair andando, [o agressor, L.T.S.P.], ele chegou por trás e me deu um murro na cabeça. Com o murro me desequilibrei e aí ela pegou no meu cabelo, me jogou contra a guia e começou a me bater. Gritei que nem conhecia ela e nem os dois e continuei apanhando. Até agora não sei o motivo da agressão.”

Como se sentiu no momento e se sente agora?

M.R.S. “No momento nada entendi, mas senti muito medo. Pensei que o agressor fosse me bater novamente. Até aí não sabia que ele tinha me batido, pensava que fosse só ela. Alguns dias depos recebi muitos vídeos e que descobri quem tinha me agredido por trás.

O que pensa fazer agora?

M.R.S. “Quero que a situação seja amenizada porque foi muito constrangedor. Gostaria que eles [os agressores] aprendessem alguma coisa para parar de deixar de agredir as pessoas.

ÂNSIA E DESESPERO

Mãe da vítima, Ana Maria das Dores Ribeiro, 41 anos, é professora na rede municipal de ensino em Ibiúna. Ela diz: “Quando vi o vídeo no celular passei muito mal e até hoje sinto ânsia e desespero”.

O que deve acontecer agora, em seu ponto de vista?

“Infelizmente esperava que fosse feita Justiça, mas a gente vive num País complicado. O menor pode votar, pode roubar, matar e não acontece nada.”

A senhora teme que a cena terrível possa se repetir?

“Prefiro acreditar que não, que não vai acontecer mais nada. Estou esperando chegar o resultado do exame de corpo de delito do IML de Sorocaba para dar entrada na Vara da Infância e da Juventude.”

A senhora conhecia a agressora, como soube que ela já praticou muitas outros ataques contra pessoas, dizem, em geral, menores do que ela?

“Nunca a vi antes. Depois que a gente viu esse vídeo divulgado, diversas pessoas vieram falar comigo. Elas reconheceram a agressora e mencionaram outros casos, um dos quais contra uma jovem que corre o risco de perder a audição em um dos ouvidos.”

“O que diz seu coração de mãe agora?

“Eu gostaria que ninguém mais passasse por isso. Infelizmente, parece que é bonito hoje em dia ver as pessoas apanhando, mas o que está acontecendo é que as pessoas estavam se divertindo com o sofrimento da minha filha, numa atitude covarde. Felizmente, apareceu ali o Adal [Adal Marcicano, vice-prefeito de Ibiúna] e impediu a continuidade dos ataques. Como pessoa e como mãe, se eu presenciasse uma cena dessas não hesitaria em intervir.” (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.