DIA DAS MÃES – ALGUÉM SABE SE O CÉU TEM E-MAIL?

Sou um menino e tenho onze anos. Gostaria de saber se Deus tem e-mail. Se alguém souber, por favor, me informe. Quero saber da minha mãe. Saber se ela está bem sem mim, porque eu me sinto muito triste porque já faz mais de três anos que não a vejo em casa, na escola onde ela era professora e sinto falta do seu carinho. Ela me chamava de “meu menino” e cuidava muito bem de mim e me amava.

Embora seja ainda pequeno, acho que Deus, na verdade, não existe, porque, se existisse, não teria levado minha mãe da minha vida. Sinto falta do seu perfume, do seu olhar, de suas brincadeiras e até mesmo de sua braveza quando queria corrigir algo que eu tinha feito de errado. Mas isso era apenas uma forma que ela tinha de cuidar para que eu fosse bom.

Quando cheguei em casa, era ainda bem pequenino, e disse a ela que outros meninos tinham me provocado, ela me ensinou, não revidar na mesma medida, mas dizer claramente: “Eu estou triste, estou brabo, me respeite.” Minha mãe era muito sensível, amorosa e inteligente e muito forte. Depois de fazer uma série de testes, um médico tinha dito a ela que poderia ser maratonista.

Alta, morena claro, forte era de uma franqueza absoluta e comprou muitas brigas quando testemunhava uma injustiça ou alguém maltratando fosse um animal ou uma criança ou uma pessoa qualquer que estivesse em condições de inferioridade física. Ela era bonita! Seu abraço me dava força e ela me encantava com suas histórias e seus desenhos pedagógicos.

Nunca vi uma psicóloga e professora infantil com tanta habilidade de se relacionar com crianças. Era cativante, correta, e tratava criança de um modo tão alegre e positivo que dava gosto de vê-la na escola onde alfabetizou e cuidou de muitas crianças, que hoje são adolescentes.

Um dia, um dos nossos cachorrinhos resolveu comer um pé de meia e começou a passar mal. Ela andava meio sem dinheiro mas, mesmo assim, o levou a um pronto-socorro e corajosamente autorizou uma cirurgia, único caminho, segundo os veterinários, de salvar sua vida, o que acabou não acontecendo.

Guardo dela as melhores lembranças de força e coragem, amor e confiança, sinceridade e transparência, mas sinto falta de sua presença física me afagando, acariciando e cuidando de minha saúde, como só uma mãe sabe fazer. Quando a vi pela última vez estava com um vestido branco, rodeada de flores e com uma expressão facial de luz e rara beleza, parecia dormir simplesmente.

Sei que domingo é Dia das Mães e que, até os meus oito anos, pude trazer um presente que fazia na escola – um desenho especial, um artesanato, ou objeto relacionado à data, sempre com uma mensagem que a professora nos orientava a fazer. Agora também gostaria de dar um presente para a mamãe, nem que fosse uma breve mensagem via e-mail para o Céu, que é o único lugar onde ela pode estar por sua infinita bondade e amor que dedicava às pessoas. Muito obrigado, mamãe! Até um dia.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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