PERSONA – MARIA PEREIRA, MÃE GUERREIRA E AMOROSA

Quando se separou, a ibiunense Maria Pereira tinha 27 anos. De repente, se viu só no mundo com duas filhas pequenas para criar. Vencer na vida, a partir desse momento, ganhou um poderoso significado para ela: “criar as meninas com amor, garra e muita fé”. E foi exatamente o que ela fez sem esmorecer em nenhum momento, ainda que nada tenha sido fácil. “Nossa, foi difícil…”

Hoje, aos 42, ainda se recorda do tempo em que ganhava salário mínimo, mas a situação é bem diferente. Tornou-se uma profissional de sucesso com uma filha a caminho se formar em medicina e outra “famosa” na cidade, como influencer. “Só posso dizer que é o agir de Deus em nossas vidas!”

Eis sua breve biografia que a faz ser incluída na coluna PERSONA, em que vitrine online homenageia pessoas que fazem parte da história de Ibiúna.

“Meus pais são Antônia Alves Pereira e Dorvalino Francisco Pereira, da tradicional família Pereira de Ibiúna. Eles se casaram em 1968, viviam ainda lá no Vargedo, em 1970 se mudaram para o centro da cidade, tiveram 5 filhos, sendo eu a caçula.

Minha mãe era costureira e meu pai pedreiro, com muito esforço nos criaram cercados de amor, e nos passaram valores e princípios de honestidade e caráter.

Em fevereiro de 2018 minha mãe veio a falecer, em decorrência de um câncer, meu pai segue ativo e saudável até hoje! Motivo de muito orgulho para toda família, já que apesar da idade avançada continua trabalhando e auxiliando a família em qualquer necessidade.

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Na infância morando no centro da cidade, me recordo, que nos tempos de escola em que eu estudava no “Roque Bastos”, fazíamos uma festa junina muito grande, arrecadávamos alimentos, os quais eram usados para fazer as comidas típicas da festa. A quadrilha era separada por séries, cada série era responsável por uma barraca, sob a supervisão da inesquecível professora Nancy.

Trago na memória também as professoras d. Angela e d.. Malir, que organizavam e ficavam nas barracas sendo a alegria de toda a festa. Na hora da quadrilha, todos esperávamos ansiosos pelo sr. Zorinho que dançava com sua boneca de pano e animava a festa inteira. Assim foi desde a 1ª série até me formar na 8ª série.

Na adolescência, adorava ir à Festa de São Sebastião, vinha o parque, grandes shows, mandávamos e recebíamos muitos correios elegantes, pois era a melhor forma de paquera da época kkkk era um romaria  muito esperada que até hoje segue linda. Aproveitámos muito.

Aos 18 anos me casei e tive minha primeira filha, Letícia. Aos 21 tive a segunda, Lígia. Me separei aos 27, quando tive que arregaçar as mangas para criar minhas filhas sem o auxílio do pai.

Sempre prezei muito pela educação delas, em meio a inúmeras adversidades, com a ajuda dos meus pais consegui que concluíssem os estudos em bons colégios da cidade, pois sempre dizia a elas que a única coisa que ninguém consegue tomar de nós é uma boa educação com visão de mundo, valores e princípios.

MUITAS PROVAÇÕES

Sou uma pessoa que, aos 42 anos, já passou por muitas provações, fez dos limões uma limonada. Posso dizer que sem as dificuldades e batalhas não seria a pessoa que sou hoje. Me orgulho em dizer que tudo o que conquistei é somente mérito meu, e procuro passar essa independência e perseverança para minhas filhas, que hoje também são mulheres fortes como eu.

Adoro Ibiúna, uma cidade muito acolhedora, de povo trabalhador, humilde e feliz. A única coisa que me entristece é a falta de investimento sério, mas acredito muito no potencial da cidade.

Sou uma pessoa de poucos amigos, me foquei mais no trabalho, já que a responsabilidade com as minhas filhas sempre esteve acima de tudo. Trazendo meu foco totalmente para meu oficio, que, coincidentemente, conquistei minha maior amizade, minha sócia, Daiane Góes.

Sou formada em Radiologia, área em que trabalhei por um tempo, mas já atuei no ramo de administração de plano de saúde e direção escolar. Porém onde me encontrei mesmo foi onde atuo hoje, no design de interiores.

EDUCAÇÃO DAS FILHAS

Maria, Letícia e Lígia

Sou uma mãe extremamente exigente, porém parceira. Nossa relação sempre foi baseada no diálogo, deixando-as sempre conscientes da realidade e responsabilidades que tínhamos e seguimos tendo. O que sempre deixei claro na educação das duas é que é melhor aprender no amor do que na dor, que toda ação gera uma reação, todo ato tem sua consequência e que tudo o que fazemos hoje se reflete no amanhã . Então cresceram com essa consciência de que teriam que responder pelos atos e ações delas próprias, isso fez com que nunca me dessem trabalho, graças à Deus!

Minha relação com minhas filhas sempre foi muito transparente, sempre deixei elas muito a par de tudo que se passava em nossa vida. Nunca fui de mentir, mesmo quando se tratava de coisas mais sérias como, por exemplo, na minha separação. Lembro-me que sentamos nós três, eu expliquei a situação e elas entenderam e compreenderam perfeitamente, sem traumas ou coisas parecidas. E em coisas do dia a dia também, quando me pediam algo que eu não tinha o dinheiro para comprar eu explicava que não tinha o dinheiro, mas que quando eu tivesse, eu compraria e isso realmente eu fazia. Então, isso foi se criando um elo de confiança muito forte entre nós que aplicamos até hoje. Não mentimos uma para as outras.

Me orgulho muito delas, se tornaram mulheres fortes, guerreiras e batalhadoras… claro que cada uma com seu jeitinho, mas o primordial é que são pessoas honestas e do bem, pois esse com certeza é o maior sonho de qualquer mãe.

A Letícia, hoje com 24 anos, está no último ano de medicina. Desde seus 4 anos essa foi a única opção de profissão que ela me falava, ela comenta que não consegue se ver fazendo outra coisa a não ser isso. Me orgulho muito dela, pois sei que acima de tudo está o amor, pois vejo os olhinhos dela brilhando quando se trata de atender os seus pacientes e poder de alguma forma aliviar a dor e o sofrimento das pessoas. Ela comenta também que nunca abrirá mão de atender na rede pública, pois sempre o maior sonho da vida dela era poder dar um atendimento digno e humano ao próximo. Sou uma mãe babona, sim, mas consigo me lembrar de cada lágrima que derramamos para chegarmos até aqui, não foi nada fácil!

A Lígia, hoje com 20 anos, é uma das digital Influencers mais requisitadas de Ibiúna, fico muito feliz e orgulhosa dela porque desde pequena ela me falava que queria ser famosa, nem sabia falar direito e já me dizia: “Quando eu crescer vou ser cantora ou ‘atora’” eu morria de rir e corrigia, não é atora é atriz.

Fico boquiaberta vendo ela ser reconhecida na rua. Já presenciei meninas abordarem ela para falar que são suas fãs, pedindo para tirar foto e tal. É incrível ver o quão determinada ela foi e está sendo para conseguir tornar um sonho em realidade, sou a fã número 1 dela.

GRATIDÃO A DEUS

Não consigo descrever o tamanho da minha gratidão para com Deus, pois sei que tudo o que vem acontecendo nas nossas vidas devemos somente a ele.  Confesso que quando minhas filhas eram pequenas e eu ouvia uma me dizer que queria ser médica e a outra que queria ser famosa, eu juro que eu pensava:

‘Meu Deus, o que vai ser dessas meninas?’ Mas aí está a prova de que quando se sonha e se corre atrás dos seus sonhos o improvável acontece e hoje posso dizer muito orgulhosa que eu, Maria Pereira, tenho uma filha médica e outra filha famosa.  

Minha imersão no meio dos móveis planejados foi no ano de 2009, por meio do meu cunhado, Dr. Borges, que atuava no ramo. A partir daí, me encantei pela área, me aperfeiçoei e sigo entregando o meu melhor em cada projeto.

Em 2019, decidi arriscar e abrir minha empresa, o escritório de design de interiores Maday, juntamente com minha sócia, Daiane Góes, onde seguimos crescendo a cada dia que passa.

O que mais gosto no meu trabalho é poder transformar, moldar e executar meus projetos, fazendo do rústico das construções, ambientes inimagináveis, trazendo modernidade, requinte e bom gosto a cada projeto. Tornando real e, muitas das vezes, superando as expectativas dos meus clientes.

Em 12 anos de profissão, projetando sem parar, não consigo colocar em números o tanto de projetos feitos. Mas são em média 20 projetos por mês.

Sempre fui muito vaidosa, gosto de estar sempre bonita para mim, amo maquiagem, adoro mexer no cabelo; enfim, acho muito importante a vaidade para nós mulheres, mas sei também de que de nada adianta tanta beleza externa sendo uma pessoa vazia, sem caráter ,  valores e  princípios… resumindo, a beleza é uma receita que deve conter todos esses ingredientes, senão fica uma coisa bonita porém sem gosto.

Por isso digo, a beleza é relevante em primeiro momento, porém tem que vir acompanhada de mais coisas, caso contrário, tudo vai para o ralo.”

***

Nota do editor: a coluna PERSONA é um projeto que vem sendo desenvolvido pela revista vitrine online com o objetivo de se transformar em livro PERSONAGENS IBIUNENSES.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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