UM BELO DIA CINZENTO

Começo a segunda feira lendo um exigente artigo sobre a filosofia de Merleau-Ponty, depois de observar que o dia está cinzento de nuvens que deixaram cair uma necessária chuva e que prometem mais e será bem-vinda. A vida está carente de água.

Será mesmo que mente e corpo são duas entidades separadas, como apregoaram filósofos ou formam uma única interdependente unidade? O corpo é uma coisa, como tantas outras que observamos com nossos sentidos ou é, também, uma alma, uma inteligência que percebe?

O mundo é somente matéria ou também espírito? O corpo é beleza que se busca alcançar por meio de regimes especiais e exercícios em academias ou é fonte de pecado, como se cria na Idade Média, expresso por meio da gula, do sexo, da preguiça, entre outros tantos?

Quanto cada um de nós sabe sobre si mesmo corporal e espiritualmente? Um nos dá característica visível e o outro, invisível. Enxergamos nossos pensamentos, impulsos, desejos, ambições? Sabemos quem somos?

Tomo aqui de empréstimo o que o texto me apresenta: “Os aspectos visíveis seriam os físicos, concretos. Os invisíveis são os aspectos que não podem ser concretizados apesar de presentes. Seriam, por exemplo, o significado que se dá às coisas, o incômodo que uma coisa provoca ou até a constatação de uma importante ausência.”

Não se espante com esses argumentos, pois a existência humana em relação à natureza, o mundo onde nosso corpo existe e se movimenta, é complexa mesmo. Precisa ser decifrada e são poucos os que se destinam a essa tarefa, não raro causadora de infinitos desafios mentais ou intelectuais.

Uma coisa é complexa quando é composta por inúmeros elementos integrados ou que funcionam como um todo. Naturalmente e, por isso mesmo, possui múltiplos aspectos e relações de interdependência difíceis de serem compreendidas.

Normalmente, até que despertemos, se esse for o caso, somos reféns de alguns poucos aspectos que são significativos para nós, a partir da forma como os percebemos e como os representamos dentro de nós, de acordo com a forma como vemos o mundo.

Para Merleau-Ponty, pensamos, sentimos e expressamos com o corpo todo. Todo ele responde a uma intenção. “Meu corpo é meu ponto de vista sobre o mundo, o ponto inicial, fundamental para toda a experiência.”

O céu lá no alto continua cinzento, mas tem sua beleza, porque, já sabemos, não são belos apenas os dias ensolarados e de azul no firmamento. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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