PONTO DE VISTA – BANDA 5G

Jamais repetiria os equívocos daqueles que, no passado, desacreditavam das novas invenções. Havia, por exemplo, quem não conseguisse aceitar a possibilidade de algo mais pesado que o ar pudesse voar, como o avião que hoje corta os céus dos cinco continentes.

Bem mais para trás, muito atrás, ter a Terra como centro do Universo era uma crença dogmática [por parte da Igreja, então superpoderosa], quando sabemos hoje, é o Sol, o centro de uma porção de planetas que giram em seu redor.

Também se cria que a Terra fosse plana, que tinha bordas, além das quais havia um precipício infinito e muito temido antes mesmo dos argonautas.

Bem, agora podemos entrar no tema que nos propomos comentar.

Esta semana houve um leilão para escolha das empresas que implantarão a tecnologia do G5 ou quinta geração da telefonia móvel, é uma nova tecnologia de transporte de dados em redes envolvendo dispositivos móveis. Ele sucede gerações anteriores, mas autoridades e especialistas apontam que terá melhorias não apenas incrementais, mas qualitativas.

Estou longe de entender os meandros dessa tecnologia, mas isso não importa agora.

O que se tem traduzido para a linguagem mais popular é que com essa inovação as comunicações humanas serão muito mais rápidas e com mais qualidade de transmissão de imagens. Em suma: o mundo está se acelerando cada vez mais e modificando a nossa relação tempo espacial.

Imagino que se pudéssemos trazer para os tempos atuais um indivíduo da Idade Média ou da Renascença e fosse submetido a essa tecnologia certamente enlouqueceria, mas nós, humanos deste Terceiro Milênio, também não estamos muito distantes dos efeitos que a aceleração do tempo pode nos causar.

Antropologicamente, as invenções mudaram radicalmente as condições de vida no planeta: a descoberta do fogo, da roda, da pólvora, da imprensa, da máquina a vapor…da internet e aqui estamos nós diante de um novo desafio.

Embora a arte seja longa e a vida breve [Vita brevis, ars longa é um aforismo em latim que tem sua origem nos escritos do arquiteto e médico grego Hipócrates mas que foi popularizada pelo poeta romano Sêneca], a evolução tecnológica vai empurrando a humanidade, mas não de modo uniforme.

Há imensas camadas da população em todo o mundo que ficarão à margem dessa mesma evolução por muitas razões, entre as quais o status sócio econômico e cultural, e mesmo por dificuldades reais de absorver dados complexos decorrentes da inteligência artificial.

A implantação da banda 5G, avisam-nos as notícias, será gradativa. Primeiro nos países mais desenvolvidos e centrais, depois na periferia da comunidade mundial. Assim também será dentro de países, como o Brasil. Primeiro as grandes capitais e cidades e, depois, as menores.

Se a implantação fosse repentina certamente provocaria um colapso na civilização por se imiscuir e bagunçar não somente nossas cabeças mas o próprio sistema que se encontra desnivelado de outras bandas “mais lentas!” em funcionamento.

O fato que queremos assinalar é que não nos toca nenhuma espécie de reacionarismo relacionado às inovações tecnológicas que avançam cada vez mais rápidas, mas lidar com uma situação, nossa, dos brasileiros, submetidos a um momento histórico tenebroso com um grau de miserabilidade indisfarçável: milhões de desempregados, outros tantos passando fome, o preço da gasolina subindo em direção ao espaço, assim como todos os produtos incluindo os alimentícios, uma administração pública catastrófica, iníqua e estúpida…

Os historiadores certamente vão considerar a situação em que se encontrava o Brasil como, no caso que se anuncia, se deu a inserção de uma tecnologia digital de quinta-geração. Oremos! (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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