IBIÚNA – A PRÁTICA POLÍTICA E OS DESVIOS DE CONDUTA ÉTICA

Entendemos ser fundamental que a política ibiunense que tem, ao longo de décadas, investido em cargos públicos no Executivo e no Legislativo personalidades com os mais diversos caracteres pessoais, deva ser vista sob a ótica da moralidade pública. Mas, não é esta, afinal, a questão central a ser refletida, a fim de que se instaure de fato entre nós um novo modo político-administrativo?

Afinal, ao contabilizar as queixas mais comuns dos cidadãos é disso que se trata na maioria das vezes: desvios de conduta ética.

Isto significa que se faz habitualmente vistas grossas para a essencial questão de se saber se o que os políticos fazem no cotidiano real é certo ou errado, no que diz respeito às suas responsabilidades de estar a serviço da população, como se espera da conduta do político honesto. Pois é disso que se fala aqui: sobre a possibilidade de haver políticos honestos.

Bem, sabemos que, quando se evocam qualidades morais de um agente público, corre-se o risco de se produzirem boas gargalhadas, porque a imagem de político honesto passou a fazer parte de cenários surrealistas. E, por isso mesmo, o povo se confunde em sua capacidade de avaliar a realidade e a separar o joio do trigo. Assim, a opinião pública se dissolve e se fragmenta e se sujeita ao que lhe é imposto apenas e tão somente.

Lembre-se do ditado romano “A mulher de César não precisa ser honesta, mas aparentar honestidade”. Assim, um político não precisa ser honesto, mas aparentar honestidade. Mas o que isso significa?

Significa que ele, talvez tendo interpretado intuitivamente como são os homens e não como deveriam ser [moralmente], partindo do pressuposto que seria impossível modificar a natureza humana, estipula normas próprias de relacionamento jamais vendo o outro como alvo de respeito ético. Isso é feito apenas na aparência. O que acontece na prática diária? Agem como se devessem tirar vantagem de tudo, em nome do “sagrado dever” de acumular riquezas, inescrupulosamente, já que o que importa é acumular posses, símbolos de poder.

Os mandamentos são seguidos à risca para submeter os outros a todas as formas de manipulação possíveis e imagináveis. Em suma, os modos de ação derivam de verbos mais frequentes e enraizados na cultura habitual: mentir, enganar, trapacear, iludir. A mentira é um instrumento corriqueiro empregado pelos políticos como forma de manter o outro na miragem, sob controle e à mercê de seu domínio.

No palco das ações habituais, em gabinetes fechados e em ambientes públicos, acabam prismados pelo desejo de manter-se no poder e fazer conquistas continuadas e esquecem dos imperativos éticos e morais a serem cumpridos em relação às necessidades e interesses da população que os guindou e os mantém nos cargos.

Então, o comportamento do político propriamente dito se dá num contexto em que o primeiro plano sempre é o assunto imediato e não os princípios condutores da boa prática esperada pela população como inspiradores de condutas que envolvam medidas práticas em torno dos assuntos públicos.

Os recursos que sustentam a máquina pública vêm do bolso do povo, recolhidos por meio de impostos e não podem ser malversados. Portanto, é dever dos políticos em cargos públicos zelar pelo bom gasto visando gerar e compartilhar benefícios em forma de obras e serviços públicos indispensáveis e necessários.

O velho chavão “rouba, mas faz” chega a ser tido como uma espécie de reconhecimento de que a astúcia é parte inerente da ação política, mas isso só pode ser válido em lugares em que a ignorância predomina e todos acabam se tornando coniventes ao elegerem aqueles que sabem enganar mais do que os outros.

O resultado dessa persistente situação é fruto de um somatório que acaba eternizando escolhas equivocadas e os malogros de administrações que não fazem diferença qualitativa. E os efeitos passam a ser visíveis no largo espectro que inclui serviços e obras públicas sem qualidade, mal executados, não raro, objetos de improbidades e de má-fé. Afinal, quem se habilita a pensar e agir com responsabilidade moral num ambiente marcado pela negação das evidências das incorreções? (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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