PERSONA – SOLEDADE LIMA E FAMÍLIA COM FUTEBOL NA VEIA

Quando convidamos Soledade Lima para participar da coluna PERSONA, não imaginávamos a grande diversidade de sua participação na vida de Ibiúna, terra para onde mudou com a família e que ama declaradamente. Aqui apresentamos sua história, contada por ela e sem corte, para que todos possam conhecer a sua trajetória desde sua cidade Natal em Pernambuco e a atuação destacada de uma família que, como ela própria, diz, tem futebol na veia.

Vitrine online – Onde e quando você nasceu?                                 

Soledade Lima – Nasci na cidade de Tuparetama, em Pernambuco, no dia 23 de Janeiro de 1967. Meus pais: José Ildefonso e Santina Soares, que sempre viveram em fazenda, devido à seca do Nordeste, resolveram mudar com a família de nove filhos, para São Paulo Capital, em 1975. Na época, eu tinha 8 anos de idade.                                

VO – Quem é Maria Soledade Lima?            

SL – Uma menina sonhadora, que queria estudar e realizar o sonho de ter um lugar no interior, onde minha mãe pudesse plantar e criar galinhas e respirar ar puro. Comecei a trabalhar em 1980 com 13 anos de idade no comércio. E ao mesmo tempo estudava à noite. Pois tinha que ajudar em casa.  Em 1987, conclui o Ensino Médio e comecei a trabalhar em banco. Nesse mesmo ano, iniciei a Graduação de Administração de Empresas na Faculdade Ibero Americana, localizada na Brigadeiro Luís Antônio, na capital paulistana. E ainda conquistei minha habilitação de motorista. Foi um ano muito intenso! Em 1989 fui promovida a gerente e as responsabilidades só aumentavam. Pois sempre paguei os meus estudos e continuava ajudando a família. Finalmente, em 1990, concluí a Faculdade. Logo após o plano Collor, fui desligada do Banco em 1990.  Em seguida, prestei concurso para oficial de Administração no Hospital Saboya, no bairro Jabaquara; trabalhava à noite 12/36. E com meu conhecimento na área financeira, no fui contratada por uma empresa de médio porte (200 funcionários), como gerente financeira e comércio Exterior. Trabalhei nos dois empregos (dia e noite) até o ano de 1993, quando pedi exoneração do hospital e permaneci como executiva na empresa. Com o que tinha economizado nesse período, consegui comprar a tão sonhada chácara para minha mãe. O local escolhido foi Ibiúna.                            

VO – Há quanto tempo mora em Ibiúna? Quando e como veio pra cá?    

SL Moro em Ibiúna desde 1993. Em um domingo, desse mesmo ano no mês de abril. Trouxe minha mãe para visitar uma amiga (Terezinha do Evilacio), que estava morando em Ibiúna, no bairro do Campo Verde e durante a viagem fomos nos encantando com o lugar. No fim da tarde, minha mãe resolveu ficar na casa da amiga, pois queria morar em Ibiúna. Sendo assim, na mesma hora, fui informada que um senhor estava vendendo 3 mil metros. Decidi comprar e no mês de maio de 1993 (Dia das Mães). A casa já estava pronta e nos mudamos. Minha mãe plantava e criava as galinhas, como sempre sonhou. Eu continuei trabalhando em SP e todos os fins de semana vinha descansar.  Em Junho de 1997, com 30 anos de idade, me casei com Luís Fernando (filho de mãe  lituana e pai paulista), na Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores de Ibiúna. Minha mãe continuou morando aqui. Eu permaneci morando em São Paulo. Em 29 de Setembro de 1998, nasceu Leonardo Jankauskas (sobrenome herdado da vó nascida na Lituânia) meu primogênito, no Hospital Santa Joana, em São Paulo. Quando terminou a licença maternidade, decidi parar de trabalhar e criar o meu filho em Ibiúna ao lado da minha mãe. Foi quando, em 1999, me mudei definitivamente com minha família para Ibiúna. E nesse clima maravilhoso e ar puro, engravidei novamente e nasceu meu caçula, Bruno Jankauskas, na Santa Casa de São Roque, em 29 de Setembro de 2000 (no dia do aniversário do irmão).

VO – O que acha da cidade, que tanto ama? 

SL – Desde a mudança para cá, em 1999, vindo de cidade grande, senti muita diferença em todos os sentidos! Primeiro na área da saúde, pois tinha convênio de alto padrão em São Paulo e aqui só tinha o hospital para emergência. Quando cheguei, logo fiz convênio em São Roque e Região. E como minha intenção era criar meus filhos aqui, comecei a me preocupar em saber como funcionava tudo. Na área da Educação sempre foi boa. Em 2002, o Leonardo foi para o pré [Mundo Encantado] e, em 2004, foi a vez do Bruno. Eles tiveram excelentes professoras, como Adriana, Rosa Cláudia, Ana Paula e tantas outras. Logo em seguida, em 2005, iniciaram na Escola Cooperativa de Ibiúna, onde estudaram do fundamental até o final do Ensino Médio, com excelentes professores. Tive o privilégio de participar ativamente do Conselho da Escola nesse período. Em 2004, em visita em minha casa, fui convidada por Paulinho Sassaki [atual prefeito de Ibiúna] a sair candidata a vereadora. Aceitei, e, dessa forma, tive a oportunidade de conhecer as reais necessidades de Ibiúna. Principalmente nas áreas de políticas públicas.  Não fui eleita, mas passei a participar dos Conselhos Municipais. E em 2005, me tornei coordenadora do Projeto Guri do Governo de São Paulo, em parceria com o Município [Atende crianças e adolescentes  de 08 a 18 anos de idade com aulas de música: canto coral, violão e percussão], na época com 10 alunos [quase fechando] e passou a atender mais de 100 mensais, e assim assumi também o Município de São Roque na Brasital, com orquestra completa. Saí em 2012.  E até hoje continua estruturado e funcionando. Nos Conselhos Municipais: participei do CMDCA desde 2005, por atender crianças e adolescentes e estar inscrita. No Conselho de Segurança desde 2006 até o momento. No CMAS, COMTUR, Saúde , Educação. Participei do Plano Diretor. Fui presidente da Associação onde moro por três mandatos, quando participei de vários trâmites da regularização do loteamento junto aos órgãos municipais, estaduais e federais. E também, como cooperada da Cetril, participante das assembleias. Mas, depois de um tempo, parei de participar, percebi que ali nada muda! Pois apesar de ter muitos cooperados, somente 10% participam das Assembleias e os membros da Diretoria são os mesmos (grupo fechado). Sendo assim, exerci minha cidadania, cobrei através dos Conselhos e 17 anos se passaram e quase nada mudou!  Em 2015 mais uma vez dei minha contribuição como Conselheira do CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e do Adolescente e participei na Adequação da Lei no Processo Unificado para Escolha dos Conselheiros Tutelares, juntamente com a Promotora e posteriormente fui sozinha à Câmara dos Vereadores para explicar a importância de aprovação da Lei para que o Processo de Escolha dos Conselheiros acontecesse. E depois de aprovada, me desliguei do CMDCA, participei como candidata a conselheira tutelar em Outubro/2015. Foi uma surpresa, nunca teve tantos eleitores, uma vez que não era obrigatório votar. Mas…parecia eleição para vereador, com vans lotadas, boca de urna, etc. Como fiz minha campanha simples e conscientizando a população, fiquei como suplente, assumindo em 2017 e 2018 para cobrir férias dos titulares.          

VO – Por que se interessa por assuntos de Segurança pública, até mesmo sendo integrante da Diretoria do Conseg?             

SL – Desde  2006 continuo como única mulher na Diretoria do Conseg, hoje sendo a primeira secretária. É um Conselho de extrema importância e tratamos diretamente com os membros natos que são: delegado, comandante PM e comandante da Guarda Civil Municipal, sobre índices e prevenção e orientação aos munícipes! Em Outubro de 2021, também  passei a integrar o CMDM- Conselho Municipal da Mulher de Ibiúna, como vice-presidente. Quero contribuir com minha experiência de anos, como mãe de filhos com 21 e 23 anos. Mulher casada há 24 anos. E principalmente minha experiência em atendimentos às famílias desde 2005 em Projeto Social e posteriormente no Conselho Tutelar, onde presenciei as dificuldades e problemas das mulheres e suas famílias. Queremos no CMDM,  buscar meios e recursos para suprir suas necessidades.                 

VO – Como se tornou árbitra de futebol e primeira mulher ibiunense a exercer essa profissão?               

SL – Comecei como representante/mesária em 2002, aqui em Ibiúna, acompanhando meu marido que é árbitro. A partir daí os campos de futebol permaneceram até hoje! Desde 2004 passei a acompanhar também os filhos como atletas. Nunca tivemos finais de semana separados. Sempre acompanhando nos campeonatos e mundialitos nas férias escolares de  janeiro e julho,  hospedados  10 dias em São João da Boa Vista ou Artur Nogueira. Meu filho Leonardo foi atleta do Ituano FC de 2013 a 2016 e todos os jogos no Estado de São Paulo estivemos presentes. Ele acabou desistindo do Futebol, como atleta e em 2017 ingressou na Faculdade de Fisioterapia e passou a acompanhar o pai nos jogos, juntamente com o irmão, que em 2019 ingressou na Faculdade de Educação Física e eu continuei como mesária.  Foi aí que em 2018 eu e os meninos nos tornamos árbitros como o pai. Eu acho que sou a única arbitra formada de Ibiuna nas 4 modalidades: Futebol,  Futsal,  Society e Beach Soccer de Ibiúna.             

Leonardo, Bruno, Soledade e Luís

VO – Você continua apitando?            

SL – Minha preferência é atuar como representante/quarto árbitro, mas para isso, também é necessário fazer o curso de árbitro igualmente como os outros e na necessidade substituição. Isso aconteceu pela primeira vez no Juventus na Mooca, quando atuei como assistente/bandeirinha em um jogo festivo de aniversário 95 anos do Juventus em abril/2019;  dezembro 2019 em Jogo Festa Feminino e em Paraisópolis, na Copa Rainha Futebol Feminino. E atuando como árbitra, em 2019 no Ginásio de Cotia, no Futsal categorias menores.            

VO – Ser árbitra já te criou problemas?                 

SL – Sempre. A cultura da falta de respeito com o árbitro é antiga. Eu, na vida  e na beira do campo, não costumo levar desaforo pra casa. E sempre que ouvia alguém xingar meu marido ou meus filhos eu não ficava calada e chegava junto!                   

VO – Como toda sua família  se tornou um conjunto de árbitros?  

SL – Em 2018 eu e os meninos nos tornamos árbitros. E, assim, formamos a Família de Árbitros do Brasil, nas 4 modalidades.  Em dezembro de 2019, a TV Record veio até Ibiúna em minha chácara e fez uma reportagem conosco. Assista nesse link… http://r7.com/Lon7. E Ibiúna tem, pela primeira vez, dois irmãos formados em 2021, árbitros da Federação Paulista de Futebol (Leonardo Jankauskas e Bruno Jankauskas).       

VO – Como anda o futebol em Ibiúna? Vocês são convidados a atuar no município?    

SL – De 2002 a 2010 era bem organizado, os campeonatos eram municipais. Depois, apareceram campeonatos diversos e independentes e qualquer pessoa sem o curso podia ser árbitro e continua até hoje. Em 10/10/2013 foi criada a Lei nº. 12.867, sendo considerado exercício ilegal da profissão arbitrar sem diploma, devendo ser denunciado ao Ministério Público. O que realmente precisa é que o Conselho de Esportes seja atuante e fazer valer as leis já existentes e maior incentivo aos esportes, com apoio efetivo aos atletas e profissionais do esporte, que levam e representam o nome do Município. Sobre nossa atuação aqui? Estamos sempre que possível atuando em Ibiúna. Geralmente o Luís Fernando atua sozinho ou em conjunto com outros colegas. Em 2020 a família atuou pela primeira vez em futebol de campo, no Campeonato do Jardim Japão e recentemente no bairro dos Gabriel. E com frequência atuando no Futsal e Society em diversas quadras do Município.                        

VO – Qual a primeira regra (regra de ouro) que todo árbitro tem que manter vigorosamente para cumprir sua função em campo?                       

SL – Fazer o  plano  de trabalho em Equipe e aplicar a regra do Jogo, para legitimar o resultado sem problemas.                 

VO – Você se sente realizada?                      

SL – Sim! trabalhei muito, estudei, economizei, me tornei independente,  mas também viajei muito, me diverti é aproveitei bem a vida. (Só não fiz tatuagem! rsrsrs). E de todas as áreas em que atuei desde 1980 até hoje, a que mais me realizou foi quando conciliei o mundo do futebol em conjunto com outras profissões, acompanhando minha família, seja os filhos como atletas ou a família atuando na arbitragem. Dessa forma me fiz sempre presente, no crescimento, na educação, na formação e em eventos importantes e inesquecíveis. Em 2018, participamos da Copa dos Refugiados com a participação e transmissão para mais de mais de 10 países etapa RJ com abertura no Maracanã com jogos no CT do Zico. Conhecemos os turísticos como: CBF, Cristo Redentor, etc; fizemos a Etapa SP, com a Final no Pacaembu. Foram realizados jogos festivos com ex-jogadores da Seleção no CT Cotia SPFC, na Fazendinha, Arena Barueri, Portuguesa Santista, Canindé , Fif7 Society internacional, entre outros. Sempre conciliando o trabalho e lazer, juntinho da família. Portanto, eu e meu marido nunca vamos escutar que fomos ausentes. E continuamos acompanhando nossos filhos até hoje.  Agora, estamos pensando em parar e eles vão seguir a carreira de árbitros da FPF, conciliando com  suas profissões: Leonardo na Fisioterapia e Bruno na Educação Física e também formado como treinador de futebol pela CEPEUSP/Sintrefut. Podemos dizer que temos o futebol na veia!  Finalizando, me sinto realizada. Fiz tudo que sonhei e formei minha família. Eu e meu marido superamos todos os obstáculos e nossos filhos cresceram em Ibiúna, têm amigos desde a infância.  São homens formados, com caráter e responsáveis.  Cheguei aqui em 1993 com minha mãe, aqui fomos muito felizes e prometemos ficar juntas! E assim ficamos. Agora estou triste, pois, em 16/11/2021, minha mãe Santina, faleceu aos 88 anos.  Aqui foi enterrada, no Cemitério da Figueira, junto com meu pai (falecido em 2014).  Mas a vida tem que seguir. E os momentos felizes em Ibiúna ficarão marcados na memória pra sempre! E aqui permanecerei com minha família, pois amo este lugar!  Dos meus dez irmãos, seis têm chácara aqui.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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