OPINIÃO – “EM GERAL AS PESSOAS EM IBIÚNA NÃO SÃO RESPEITADAS PELO PODER PÚBLICO”

Sobre a matéria publicada por vitrine online, reproduzindo um dramático diálogo entre uma gestante que aguardou por seis horas um atendimento médico no famigerado Hospital Municipal de Ibiúna e o editor de vitrine online, uma ilustre ibiunense fez um comentário arrebatador:

“Rossini, em geral as pessoas em Ibiúna não são respeitadas pelo Poder Público.”

Bingo! Eis aí uma interpretação dos fatos vindos de uma personalidade pública de notória economia verbal, marcada pela discrição, o que valoriza ainda mais observação como uma contribuição oportuna.

A autora do diagnóstico conseguiu, em breves palavras sintetizar, com extrema fidedignidade os fatos relatados fielmente na notícia, minuto a minuto, e que mereceu o título “Anatomia de uma dura realidade do atendimento no Hospital Municipal de Ibiúna” [publicada em 18.1.2022].

É isso! Tudo que a paciente, que estava acompanhada da filha, que igualmente esperava atendimento, expressou foi resumido numa palavra: desrespeito.

Ela se sentiu humilhada pelo tratamento recebido, especialmente na recepção do hospital, mas em todo o transcurso de sua jornada heroica em busca de um atendimento médico que lhe provocou um desgaste emocional que chega às profundas raízes da dignidade humana.

Seu relato abrangeu as circunstâncias: os outros personagens de uma história real, incluindo idosos, que também fizeram parte do drama da espera e de outros percalços típicos de ambientes em que uma multidão espera por atendimento médico, incluindo dores, febres, estresse, entre outros desconfortos.

A nossa paciente não quis ceder ao que é mais comum, resignar-se e aguardar a roda do destino, e, assim, procurou defender-se como pode por meio de ações que sua intuição ajuizou no momento.

Uma delas: entrar em contato com o secretário da Saúde para descrever sua situação de gestante de sete meses e pedir ajuda. Fez isso e certamente deve ter abreviado o seu tormento pessoal na redução possível no seu tempo de espera. Até mesmo sua ficha médica, que não estava sendo encontrada em determinado momento, segundo percebeu, contribuiu para somar mais minutos à sua espera.

No final, já por volta das 23 horas, elas que chegaram ao hospital às 16 horas, saíram de lá com o diagnóstico positivo para covid-19. Havia pessoas que haviam chegado antes daquele horário e ainda aguardavam chegar a sua vez, ela relatou.

Vimos em muitos desses vídeos promocionais, que as autoridades se habituaram a postar, que o objetivo é “humanizar” os cuidados com a saúde no município. Trata-se, sem dúvida, de uma boa e proclamada intenção, mas os fatos teimam em mostrar o contrário.

E exatamente por isso continua ecoando em minha mente de jornalista:

“Rossini, em geral as pessoas em Ibiúna não são respeitadas pelo Poder Público.”

Por isso mesmo, o relato da paciente gestante, parece emergir como um grito evocativo de respeito que é, segundo a tradição da nossa cultura, uma das mais relevantes formas de humanização na prática.

No dia seguinte a esse fato, a Prefeitura postou um vídeo anunciando o lançamento de um “caminhão da saúde”, com a missão de contribuir para “zerar o atendimento” no hospital.

Em abril de 2020, portanto no governo anterior, a Prefeitura anunciou a instalação de um hospital de campanha na Área de Lazer, uma grande tenda branca, para atender casos de covid-19 que, em suma, se mostrou um grande “elefante branco”.  

Tendo sido alvo de sérias denúncias foi fiscalizado por um grupo de parlamentares estaduais que também inspecionou o Hospital Municipal e pediu sindicância para apurar principalmente os gastos, cerca de R$ 1,3 milhão/mês somente com o hospital de campanha, como apontaram os deputados. A maior parte da tenda jamais chegou a ter utilização prática, até que, já escura de sujeira, foi desmontada.

A instalação de uma sala de tomografia jamais chegou a ser concretizada no hospital de campanha. Em vez disso, as autoridades municipais da época alugaram um caminhão com máquina de tomografia que ficava do lado de fora da tenda e às vezes na rua do Hospital Municipal, atrapalhando o tráfego.

O então prefeito havia aberto uma sala no Hospital Municipal para atender exclusivamente casos de covid-19 que denominou de “Covidinho”, como se isso remediasse a dor e o sofrimento das pessoas contaminadas, dentre as quais 168 foram a óbito no município desde o início da pandemia.

Como se recorda, o Hospital Municipal chegou a ser fechado durante o governo anterior, bem como sofreu com frequentes atrasos de pagamentos aos profissionais da saúde, paralisações, e denúncias de falta de medicamentos.

Em suma, quem sempre paga a conta é a população que depende do serviço público de saúde no município, o que não passa de uma falta de respeito ao cidadão. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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