TRÂNSITO PAULISTANO – É PRECISO TER NERVOS DE AÇO OU RESILIÊNCIA
A Rodovia Raposo Tavares estava de doer nesta quinta-feira (26), tanto na parte da manhã quanto à tarde, talvez ainda pior. Nessa rodovia que os ibiunenses utilizam para chegar na capital paulista o desafio ao sistema nervoso foi [novidade, né?] ser persistente e ficar muito atento e as aulas ainda nem começaram. Isso significa que a situação vai piorar ainda mais, com milhões de carros circulando diariamente.
Muito bem! Como ia dizendo, foi uma aventura cruel enfrentar a Raposo Tavares, mas e as ruas e avenidas paulistanas? Pirante!
Depois de chegar à embocadura da tormentosa Raposo Tavares, a sequência foi a seguinte: Marginal Pinheiros, Eusébio Matoso, Nações Unidas, Rubem Berta,23 de Maio, José Maria Witaker, Brasil, Cardeal Arcoverde, Heitor Pentedo e vai por aí.
Todas essas ruas e avenidas, sem exceção, na tarde de hoje, estavam congestionadas. Conhece o tal de “stop and go?”, para-e-anda-para-e-anda-para-e-anda. Foi assim o tempo todo debaixo de um sol forte e muito calor.
Gente com criança no colo em porta de lanchonetes ou nas avenidas, com crianças sentadas na cabeça dos pais segurando uma tabuleta de isopor pedindo dinheiro para comprar comida.
A cidade parecia estar fervendo como tacho de fazer doce.
O que fazer?
O que me veio na cabeça foi uma pergunta composta por duas possibilidades: nervos de aço ou resiliência?
Em ambos os casos a ideia central é suportar a situação. Mas como fazer isso? Como ficar indiferente? Resiliência é suportar as adversidades ou a capacidade de se adaptar a situações difíceis ou de “fontes significativas de estresse”.
Percebo, olhando as pessoas comendo comida que os norte-americanos chamam de “junk food” (comida sem qualidade) e no ritmo “fast food” (comida rápida) ou dentro dos veículos se essa realidade não seria uma espécie de inferno resultante de um imenso formigueiro humano que já perderam muito a visão do céu por conta de um vertiginoso processo que em pouco tempo transforma cenários mais pacatos em um aglomerado incrível de edifícios.
É espantoso o número de prédios em construção na cidade de São Paulo, em todos os lugares. Quer saber? Senti-me hoje um caipira indo à cidade grande, também por observar mudanças importantes decorrentes da inserção da tecnologia da informação. A máquina definitivamente se colocou entre as pessoas, intermediando as relações entre si.
Ni qui isso vai dar logo mais não consigo imaginar.
A Arábia Saudita vai construir uma cidade de 100 km2, “cidade inteligente”. Parece que o projeto visa a prover tudo para seus habitantes e um sistema em rede tecnológica em operação ininterrupta. Tudo estará conectado a tudo, talvez de uma forma desumana, como já acontece nas grandes cidades onde impera cada vez mais a impessoalidade.
Talvez o grande paradoxo, nessa teia digital impiedosa, seja a intensificação do sentimento de solidão e isolamento, e mesmo de aprisionamento dos indivíduos no interior dos seus carros desacelerados. (C.R.)
