IBIÚNA – POR QUE SENTI COMPAIXÃO PELO ATUAL PREFEITO

O atual prefeito de Ibiúna publicou um balanço dos 30 meses do seu governo no jornal “Voz de Ibiúna” [edição 426 – 12.7.2023].

Li a notícia na íntegra atentamente e, confesso, senti compaixão pelo chefe do Executivo, pelas confissões em seus relatos com os seguintes subtítulos: Dificuldades, Conquistas, Rodoviária, Obras, Recapeamentos, Saúde, Educação, Reeleição, Fábio Bello, Governo e Mensagem.

Logo no início eis o que chama a atenção: “Estamos mais juntos do que nunca”, diz o prefeito referindo-se a Fábio Bello, secretário de Desenvolvimento Urbano; Alexandre Bello (irmão de Fábio), vice-prefeito, e Nélio Leite, presidente da Cetril.

Nada de mais, no contexto, citar Fábio e Alexandre, mas por que mencionar Nélio Leite, presidente da Cooperativa de Eletrificação de Ibiúna e Região há duas décadas?

Que papel Leite ocupa na administração do município? Exerce alguma função informal, algum tipo de assessoria ou consultoria? Faltou explicar esse pormenor para a população ibiunense, e isso ajudaria a conferir maior credibilidade ao balanço.

O prefeito ressaltou as dificuldades da herança recebida do governo anterior, “a cidade estava um verdadeiro caos”, no que pode estar certo, porque a sociedade ibiunense considera aquela gestão como o pior mandato da história política do município.

Mas, em seguida, comete uma escorregadela ao dizer que o mais difícil foi colocar “a casa em ordem”. A pergunta se impõe: colocou? O que diria a população se fosse consultada sobre esse item em uma pesquisa científica? Diria que a casa está em ordem?

No subtítulo Rodoviária, tenta explicar as razões pelas quais a reforma da rodoviária estourou o prazo oficial da contratação da obra [14.7.2022] e já está no quarto adiamento de sua finalização. O prefeito disse: “Mas acredito que até novembro vamos entregá-la”. Se isso se confirmar se completarão, no dia 20 de novembro de 2023, exatos dois anos do início da obra, que sofreu paralisações. Recorde-se que a Caixa Econômica Federal cancelou R$ 3 milhões da verba que havia sido empenhada para essa obra. E o prefeito, alegando ter excesso de arrecadação, anunciou que a obra, com recursos próprios, seguiria num ritmo mais acelerado, o que não aconteceu.

Como temos noticiado, durante todo esse tempo os usuários do transporte público no município, entre os quais muitas pessoas humildes, esperam a condução numa rua central, enfrentando chuva, vento, sol e frio, além da sujeira.

“Peço desculpas pelo incômodo, mas foi um problema que fugiu do nosso controle, mas estamos nos empenhando para resolver.” Além do pedido de desculpa, o prefeito deveria pelo menos uma vez ter ido à Rua Guarani para sentir in loco o sofrimento do povo à espera de condução.

O prefeito acha ser “natural” disputar a reeleição, “para darmos continuidade aos trabalhos, agora com muito mais tranquilidade, pois a casa está em ordem”. O que dirá, repetimos, a opinião pública sobre esse ponto de vista subjetivo do chefe do Paço Municipal? Afinal, não são os eleitores que decidem quem desejam eleger?

Ele faz um justo agradecimento aos vereadores ibiunenses que constituem a maior base aliada de um mandatário municipal ao longo da história política ibiunense. Mais de um ex-vereador fez essa observação para este autor.

Ataca as fakenews como pura maldade dos opositores, que “visam apenas nos perseguir e manchar a imagem da nossa administração para voltarem ao poder nas mãos de aventureiros”, mas omite o fato de que muitas publicações [queixas de várias naturezas e denúncias de maus serviços] de origem popular não poderiam ser enquadradas na nefasta categoria de fakenews.

Não se pode considerar que o atual governo seja transparente de modo satisfatório. Quem, por dever de ofício jornalístico, ouve as pessoas, anota muitas críticas exatamente pela teia de dificuldades que mantém quando se requer uma informação de interesse público. Ao invés, a máquina de comunicação montada na Prefeitura é de uma prodigalidade notável para divulgar assuntos do seu interesse, como costuma fazer uma agência de marketing e promoção. A comunicação, como via de mão dupla, parece estar fora de cogitação.

Há, daí ter escolhido a compaixão como sentimento fundamental para essa análise, uma questão de identidade em jogo. É voz corrente, em todas as faixas etárias e culturais, que na prefeitura existe um coringa poderoso, tão poderoso que faz a diferença em tudo o que o Executivo realiza.

O leitor sensível poderá perceber facilmente o esforço do autor em encontrar uma solução elegante de dizer as coisas, enquanto o povo se expressa de outro modo, com uma ponta de escárnio, que não é o caso desta breve contribuição para a opinião pública, que em 2024 será convidada a ir às urnas. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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