INCIDENTE NA CÂMARA IMPEDE APROVAÇÃO DE ‘MOÇÃO DE APLAUSOS’ A JOAQUIM BARBOSA

Ícone do combate à corrupção no Brasil, até mesmo em âmbito internacional, em decorrência do papel que desempenhou no processo do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, seria alvo de “Moção de Aplausos” proposta na sessão de hoje da Câmara Municipal de Ibiúna pelo vereador Paulo Sasaki (PTB).

Sasaki fez um amplo relato sobre a vida da personalidade alvo da homenagem, desde sua infância pobre até atingir ao ponto alto da carreira de um juiz, concluindo: “Diante do exposto…, apresento à Mesa Diretora, Moção de Aplauso ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Benedito Barbosa Gomes, por sua luta contra a corrupção e preservação da Lei e por sua brilhante atuação como relator do processo do escândalo do mensalão, e que a força Divina continue dando muita saúde e felicidade no desenvolvimento de suas atribuições.”

No espaço aberto para a decisão, o vereador Abel Rodrigues de Camargo (OS), Abel do Cupim, pediu discussão, recurso utilizado habitualmente em casos de projetos de lei e de requerimento, mas talvez inédito em se tratando de uma Moção de Aplauso. Sasaki declarou que não se lembrava de nenhum episódio dessa natureza pelo menos nas últimas duas legislaturas.

A reação tanto dos vereadores quanto da plateia foi instantânea, ficando no ar um clima de estranheza. No regimento interno da Câmara essa questão é omissa, isto é, não há nenhuma norma específica para os casos de moções. Consultado o advogado da instituição, este informou que somente uma sessão plenária pode decidir sobre esse assunto. O incidente chamou a atenção para uma situação antes inexistente.

Sasaki considerou que seria normal que alguém pudesse ou não aprovar a moção, mas estranhou o fato de haver um pedido de discussão. Abel admitiu que tomou essa atitude a pedido do presidente da Casa, vereador Carlinhos Marques (PT), e que agiu por lealdade ao grupo político a que pertence, mesmo que pessoalmente fosse favorável à moção. Ambos se sentam lado a lado na Mesa da Câmara.

Disse ainda que como o presidente da Câmara não poderia apresentar pedido de discussão, pela função que ocupa, ele o fez a seu pedido. De fato, nada impediria tanto que fizesse ou não porque o procedimento não consta do regimento interno. Mas, politicamente, se o presidente da edilidade o fizesse diretamente, sendo presidente do PT local e da Câmara, poderia não pegar bem. Em conversa com Sasaki e representantes da imprensa, Abel se mostrou extremamente humilde e leal ao seu grupo político, mesmo correndo o risco de ter sua imagem sair arranhada desse episódio. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.