ARTIGO – ELEIÇÕES, PROMESSAS, MENTIRAS E A QUESTÃO DA MORALIDADE PÚBLICA

No dia 5 de outubro haverá eleição para presidente e vice-presidente da República, governadores e vice-governadores, para uma vaga de senador, deputados federais e estaduais. No caso da eleição para os cargos executivos, o segundo turno será realizado no dia 26 de outubro. Portanto, leitor, não estranhe se alguém bater à sua porta para pedir voto para este ou aquele candidato, sempre envolto por um rosário de promessas e mentiras. A propaganda eleitoral será permitida a partir de 6 de julho de 2014.

Até mesmo quem gosta de fazer palavras cruzadas com certa frequência aparecem nove casas, ora na horizontal, ora na vertical, para serem preenchidas mediante a adivinhação diante da perspectiva “aquilo que os políticos fazem em campanhas eleitorais” (ou fora delas). Resposta: promessas. Essas são as moedas ofertadas pelos políticos, não raro mentiras utilizadas para obter do eleitor por convencimento o seu voto.

Entre sorrisinhos, tapinhas nas costas, os candidatos se apresentam garotos-propaganda de si mesmos, auxiliados por uma estrutura composta por recursos financeiros, materiais e humanos, que sustentam sua campanha. É preciso dinheiro para isso, e muito. Arranja-se em troca de favores futuros na máquina dos governos, dos empresários que esperam a volta do capital investido no mínimo em dobro e arranjos de reciprocidade que marcam a moralidade pública em todo o País, a partir dos seus 5.570 municípios.

A cultura da política brasileira sempre impôs aos analistas a questão da moralidade pública. No sistema capitalista o chamado “estado mínimo” significa a menor interferência possível do governo no que diz respeito à chamada iniciativa privada e livre iniciativa. Por isso, desde o governo FHC, houve as grandes privatizações. Como as instituições estão a serviço do poder econômico, é este que rege a conduta dos governos em relação ao que se pode chamar de força pragmática de conduta. Dito de outra forma, a conduta moral dos governantes sempre será relativa e de acordo com as conveniências. É o que convém, de modo prático, objetivo e utilitarista, que orienta as decisões dos governantes, sejam eles prefeitos, governadores ou presidentes da República. A moral de referência é tão plástica quanto o são os interesses e oportunidades implicados entre a classe governante e o mundo econômico, representado pelos interesses empresariais, dentro da lógica do sistema capitalista. Política não é lugar para ingênuos, puristas e idealistas. Estes são objetos de mofa daqueles que, nem precisam de estudo formal, sabem lidar com os fluxos da grana que é disputada por diferentes grupos, que competem entre si, mas às vezes, constituem aparências para dividir o que mais interessa: dinheiro.

A composição circular das palavras que compõem o título deste artigo – Eleições, promessas, mentiras e a questão da moralidade pública – moralmente acaba exprimindo a lógica oculta aos olhos dos mortais comuns e constituindo um “conjunto de crenças, valores, costumes e práticas” como se fosse normal prometer e não cumprir, mentir e deixar de lado as mínimas normas de conduta moral. E assim está e continua em curso mais uma repetição da peça teatral política que, de tempos em tempos, renova o processo de vivermos em estado de ilusão, hipnotize e anestesia. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.