CARLOS ROSSINI ESCREVE – SERÁ MESMO QUE PENSAMOS COM OS NOSSOS INTESTINOS?

estomagoSe o leitor tiver a curiosidade de ir até o dicionário e procurar saber o significado da palavra “enfezado”, vai descobrir que se trata de uma pessoa irritada, tomada de raiva, aborrecida. Bem, é possível que a maioria das pessoas pare por aí em sua pesquisa. Mas ser for curioso e for mais fundo perceberá que o termo também significa “cheio de fezes”. Faz sentido, não faz? Muitas vezes, o desconforto provocado pelos intestinos irrita de forma demasiada as pessoas que, por isso, se tornam agressivas. E parece que a relação entre mente e intestinos possa ser maior do que imaginamos

Lemos num livro de neurociência que na formação gestacional do nosso corpo são contemporâneas [isso é, ocorrem no mesmo tempo] a do cérebro e das vísceras. Isso levou à sugestão que “pensamos também com os intestinos”. Na medicina é comum o clínico pressionar nossa barriga com as mãos para sentir se há algo estranho e o mais comum é que sintam gases e fezes. Repararam como os fabricantes de iogurtes vendem seus produtos para a saúde e o bem-estar com foco no funcionamento saudável dos intestinos? Melhoram tudo: a pele, o humor, a disposição para o dia a dia.

Na religião tradicional, o hábito do jejum terá como causa de fundo tornar a pessoa mais leve e, portanto, com maior disposição para se concentrar na prece. Aí se inclui até mesmo a Sexta Feira da Paixão em que o consumo da carne é [ou era] vetado, sendo que a carne é de digestão lenta no estômago, “pesada”, como dizem.

Nas religiões orientais, sobretudo na prática da yoga, existem métodos rigorosos para purificar o corpo humano, a fim de que se consiga uma condição propícia para obtenção de melhores resultados na prática da meditação.

Os chamados kriyás são métodos milenares com essa finalidade e têm o objetivo de contribuir para o enriquecimento do ser humano em todas as áreas de sua existência, numa visão holística. São técnicas para o aprimoramento da saúde dos indivíduos.

De acordo com as crenças, o banho diário, a limpeza dos dentes, dos cabelos, ouvidos, orelhas, umbigo e unhas, não são suficientes para higienizar o corpo em profundidade. A limpeza interna influencia diretamente a manifestação externa, “pois o corpo passa a expelir menor quantidade de resíduos e isso resulta em odores corporais mais suaves, hálito limpo e fresco, pele e couro cabeludo sem excesso de oleosidade e órgãos internos livres de detritos, o que se traduz numa saúde intacta”.

Na Índia isso é levando tanto a sério que existem instrumentais específicos para lavar o nariz, os ouvidos, o estômago, os intestinos, ou seja, deixar o corpo só corpo, sem nada que ainda não faça parte dele, como se a pessoa ficasse “vazia”, leve, tranquila, em paz.

Então são feitos exercícios visuais, lavagem dos olhos (com água mineral), limpeza dos seios frontais (com massagens), depuração das vias respiratórias, limpeza da língua, limpeza dos órgãos internos, lavagem das narinas, lavagem do estômago, desintoxicação dos intestinos com clister.

Está bem! Isso tudo pode parecer estranho, mas que contribui para a melhoria da saúde total das pessoas, isto é fato comprovado há milênios, mas para cultura ocidental pode parecer uma exigência exagerada, que requer disciplina de guru. Então, é hora de perguntar como vivemos: irritados ou tranquilos, equilibrados ou nervosos, raivosos ou serenos? Quantas pessoas se tornam agressivas por sentirem fome ou por estarem enfezadas?

Ok. Se você já está ficando irritado com esta matéria porque pode atrapalhar seus planos do churrasco com muita cerveja neste fim de semana, fique bem, apesar de não existir o livre arbítrio, haja de acordo com o que a religião nos ensinou e pense que você está no comando das decisões. Pense que do jeito como são as coisas e a vida, é melhor mesmo viver o momento, sem culpa, e buscar os prazeres da carne, mesmo porque não somos feitos de ferro. E não há aqui a menor intenção de traçar um rumo moralista para a vida de cada um, que é livre enquanto dura.

Mas, ao menos, aqui você pôde ler sobre uma perspectiva de saúde física e mental que tem atraído milhões de pessoas em todo o mundo. E não custa lembrar uma sabedoria igualmente antiga: “O prato é seu melhor médico.” Se couber um tempinho a mais, então se traduz do latim: “Mente sã, em corpo são”. Com toda a vida acelerada e consumista que levamos, já nem nos damos conta do que pensamos, falamos, comemos e, enquanto isso, já são raros os óleos comestíveis naturais, substituídos pelos transgênicos, e os alimentos orgânicos. Estamos ingerindo muita sujeira e nos distanciando cada vez mais da Natureza, da qual nos separamos há muito tempo. Ir aos supermercados hoje é momento de reunião e lazer para a família, entretenimento, diversão, ainda que os preços estejam subindo cada vez mais no ritmo carnavalesco da inflação em apoteose.

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Carlos Rossini é jornalista, editor de vitrine online e colaborador da TV Ibiúna, onde apresenta programa ao vivo todas às quartas-feiras, às 19 horas.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.