TEM HORA QUE A BRASTEMP DEIXA DE SER UMA BRASTEMP

A marca Brastemp ganhou tanto prestígio que se transformou em adjetivo. Se uma mercadoria é ruim, “não é nenhuma Brastemp”. É realmente uma marca forte, tão forte que a empresa foi adquirida pela Whirlpol Corporation, multinacional de origem norte-americana e maior fabricante mundial de eletrodomésticos.

Pois bem, tenho em casa um fogão Brastemp, 4 bocas, dentro da garantia assumida pelo fabricante. Desde que passou a ser utilizado sempre apresentou problema de acendimento do forno. Tem um macete que é apertar o botão do forno, contar mentalmente até 10, e aí acionar o botão do eletrodo que lança jatos de faíscas para acender o gás.

Em casa, ficou uma dúvida: estaríamos despreparados tecnologicamente para utilizar esse produto? Estaríamos contando errado e fora de sincronia? Achando que era falha nossa, o tempo foi passando até que me rebelei. “Não é possível que um Brastemp possa funcionar tão mal. Afinal, a falha não deve ser nossa e sim do produto.”

Assim pensando, entrei em contato com o serviço de atendimento da Brastemp. Expliquei: “Olha, há um problema! O forno somente acende quando o fogão quer e não quando precisamos. Precisamos fazer diversas tentativas, há vazamento de gás e quando pega, uma pequena explosão ocorre no interior do fogo. A cozinha fica com nauseante cheiro de gás.”

O atendente forneceu o telefone de uma oficina autorizada e aí começou um aborrecimento que parecia não ter fim. A moça que atendeu na autorizada avisou que tinha que pagar R$ 40,00 pela visita (concordei) e mais R$ 40,00, caso “a visita fosse improdutiva”, isto é se o técnico não constatasse defeito algum.

Achei demais essa condição – sem a qual ela não despacharia o técnico para minha casa – e passei a argumentar que havia um defeito sim, pois o forno não estava funcionando como deveria, mas, para o fabricante – que dá essa determinação às autorizadas, somente há defeito quando é preciso fazer troca de alguma peça.

A bem da verdade, nem a moça, nem o dono da autorizada e tampouco o técnico que acabou vindo em casa concordam com esse conceito, mas dizem que estão seguindo as regras da Brastemp.

O rapaz chegou, tirou a grade do forno, a tampa (confesso que não conseguiria fazer isso). Antes, tentou ligar o forno e também não conseguiu. Colocou a mão no fundo, mexeu numa peça e o fogo pegou. Depois, tentou de novo e novamente não pegou. Novamente mexeu numa peça chamada eletrodo e o forno começou a acender como devia. Seu diagnóstico técnico: “eletrodo fora de posição”. Tradução para um leigo: o eletrodo estava apontado para uma direção que não atingia a saída do gás pelos furinhos de dois dutos.

Expliquei para o Procon de Ibiúna e obtive a confirmação de que se tratava de um defeito dentro da garantia de fábrica.

Não pelo valor, em si pequeno, mas por uma questão clara do meu direito de consumidor, não paguei os R$ 40,00 “por visita improdutiva” (vejam a palavra!).

Resumindo, a Brastemp, propriedade da maior empresa mundial de eletrodomésticos, deveria melhorar seu relacionamento com sua rede autorizada e respeitar mais seus consumidores. Passei um aborrecimento que estava fora dos meus planos e ainda pude perceber que às vezes a Brastemp deixa de ser uma Brastemp.

Registrei aqui minha indignação a fim de que outros consumidores fiquem atentos e defendam seus direitos. (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.