VITRINE DOCUMENTA [PARTE 4 – FINAL] – É PRECISO SALVAR A REPRESA ITUPARARANGA ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS!
Nesta quarta e última parte da série de matérias sobre a represa Itupararanga publicadas com exclusividade por vitrine online como um documento de responsabilidade pública, Dr. André chama a atenção para aspectos decisivos que envolvem a visão dos administradores públicos e a consciência que todos os cidadãos devem ter em relação à Natureza e da responsabilidade de todos e de cada um. A cada dia, é bom advertir, estamos destruindo o futuro porque não conseguimos enxergar muito além do imediatismo, ou seja, a cegueira acumulada (ou irresponsável) de governantes exige que a sociedade toda acorde, antes que seja demasiadamente tarde.
A pergunta feita a ele: quanto à formulação e execução de políticas públicas, os administradores estão enxergando a realidade? Veja seu depoimento:
[Referindo-se ao processo de poluição da represa Itupararanga, dos rios e córregos que são seus formadores] “Na verdade, como isso é um processo lento e que ocorre num intervalo de tempo muito grande, acho que os administradores públicos estão pensando mais no agora, no aqui, não estão pensando que daqui a um tempo você vai ter problema com esse ambiente e precisa investir, não tem segredo, tem que tratar do esgoto, fazer estação de esgoto e rede de esgoto.
Existe no Estado de São Paulo algum exemplo em que houve recuperação de uma represa como essa?
Infelizmente, não. Os exemplos que conheço são todos os contrários, é avisado que vai piorar e em vez de melhorar, piorou. Existem alguns rios que têm sua qualidade melhorada, quando você tinha uma indústria extremamente poluidora que foi sanada, mas o principal problema dos nossos rios e represas não é indústria, é esgoto doméstico. E isso é responsabilidade das prefeituras, do municípios. Eles dão a concessão à Sabesp, Saneágua, SAE, mas a responsabilidade é do município. Então, quando eles passam esse serviço para uma concessionária, eles têm que passar com a consciência de que a concessionária tem que fazer o melhor possível para manter seus recursos hídricos.
E tem uma segunda questão. Vou dar o exemplo de Vargem Grande Paulista. Vargem Grande Paulista não se abastece da represa de Itupararanga, ele pega água do Sistema Cotia, que está numa outra bacia, no Alto Tietê, que é uma água de altíssima qualidade porque o reservatório do Alto Cotia fica dentro de uma área de reserva florestal, então não tem nenhum impacto que possa alterar a qualidade daquela água. Só que o esgoto eles jogam todo na represa de Itupararanga, então eles não usam a represa como fonte de água, só usam como diluidor de esgoto. Então, o interesse desses municípios de resolver o problema tem que ser voltado para o interesse coletivo, e não necessariamente para o município, porque para o município de Vargem Grande Paulista tanto faz ele tratar o esgoto ou não, porque isso não vai afetar diretamente esse município, vai afetar os município que estão abaixo dele no rio. Esse é um dos problemas. Muitas vezes o esgoto como o lixo os municípios os municípios dizem assim ‘eu vou tirar o problema daqui, não importa se o problema vai afetar os municípios que estão abaixo do rio’.
Os peixes da represa estão comprometidos como alimento?
Não trabalho com análise de agrotóxicos que contaminam os peixes. Não sei dizer… Calculo que deva existir algum cuidado porque há muito agrotóxicos por causa das atividades agrícolas, mas não acredito que seja um problema sério. O problema é que esse reservatório nessa região é um reservatório que não se espera em geral que tenha muito peixe. Se a pesca é pesca esportiva, de final de semana, você consegue ter peixe para todo o mundo, se há pesca comercial, peixe com redes e tarrafas, você tira muito peixe e o ambiente não tem capacidade de recuperar isso muito rapidamente, então a tendência é que você tenha uma diminuição da população.
Essa questão da eutrofização também faz com que aqueles peixes mais sensíveis morram porque não conseguem enfrentar a falta de oxigênio ou algum tipo de alga tóxica, então eles acabam sumindo do reservatório e sobram aqueles peixes mais resistentes, como tilápia, lambari, que normalmente também têm uma biomassa um pouco menor, porque eles crescem muito rápido e já se reproduzem.
Temos duas questões aí, uma que é um reservatório de cabeceira, e consequentemente, a quantidade de peixe não é grande e é delicada porque qualquer retirara em excesso vai afetar a população de modo em geral e a segunda questão é que, com a eutrofização, você acaba diminuindo aqueles peixes mais sensíveis.
Qual a grande advertência para a sociedade ibiunense, para todos nós?
Essas políticas de conservação do solo, de agricultura mais controlada e de recuperação de APPs são uma política que é uma responsabilidade quase exclusiva do município, devem ser muito intensificadas. Sei que isso é difícil, porque o proprietário rural não quer, o proprietário de grande terra quer usar isso para outra coisa, um condomínio de frente para a represa, mas isso tem que ser feito de uma forma meio urgente.
A outra questão é insistir com as concessionárias por que às vezes esses contratos são muitos longos, trinta anos, se tiver chance de fazer revisão de contrato melhor, porque tem que incluir inclusive o tratamento de esgoto na área rural, porque numa fazenda tudo bem que você tenha uma fossa ou um biodigestor, mas você tem aqueles agregados que se chama periurbanos, onde tem um conjunto de casas suficiente para fazer um sistema de tratamento para aquele pedaço.
Tem como fazer isso, só que as concessionárias normalmente fazem contratos só para a área urbana. Aí é mais rentável, mais fácil. Na verdade eles atuam mais na água, distribuição de água, fazem a rede, tratam a água e fazem o boleto e pronto porque é mais fácil. Tratamento de esgoto é mais difícil, dá mais trabalho.
Esses condomínios e casas na beira da represa, de gente muita rica, essa gente pode bater nas portas dos governos estadual, federal e municipal para ajudar a resolver esse problema de uma vez por todas.
Esses condomínios precisam colocar a mão na consciência: se a represa perder a qualidade suas propriedades vão desvalorizar, vão perder dinheiro com isso. Quem tem casa na represa tem mais poder que a população de Ibiúna para influenciar autoridades dos altos escalões.
A vantagem de ter uma represa de cabeceira [como é o caso da Itupararanga] é que aqui as nascentes estão próximas. Então é possível resolver o problema, pois não se depende de alterações em outras regiões fora. A represa é formada pelo rio Sorocaba. O rio Sorocaba é formada por três rios maiores, e vários outros menores, que são o Sorocamirim, o Sorocabuçu e o Uma. As nascentes do Sorocamirim estão em Vargem Grande Paulista e o Sorocabuçu e do Uma, em Ibiúna, tudo é próximo. Temos aqui as nascentes formadoras da represa e não a quilômetros de distância, mas é preciso ter consciência de que é preciso fazer.” (Carlos Rossini)
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A MISSÃO DE SALVAR A REPRESA DE ITUPARARANGA É DE TODOS NÓS!
Esta série de matérias a respeito da represa Itupararanga foi baseada em depoimentos colhidos pela revista vitrine online do biólogo André Cordeiro Alves dos Santos (foto), especialista que mais conhece a qualidade das águas da represa, que pesquisa há dez anos. Ele é professor de microbiologia ambiental e recursos hídricos da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), campus Sorocaba, e coordenador da Câmara de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos do Comitê de Bacias do Rio Sorocaba e Médio Tietê. Seu diagnóstico atual é sombrio: a qualidade das águas piora a cada ano, contaminada por esgoto in natura, que recebe dos rios que são seus formadores, e dos agrotóxicos que escorrem das plantações para os rios ou diretamente em suas margens.Com 2.723 hectares de área (27 milhões de m2), a represa Itupararanga abastece os municípios de Sorocaba, Votorantim, Ibiúna, São Roque e Alumínio. A maior parte de sua extensão se encontra no município de Ibiúna. As águas da represa também são utilizadas para geração de energia na usina hidrelétrica da Companhia Brasileira de Alumínio, pertencente ao Grupo Votorantim, localizada na cidade de Alumínio.
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