EDITORIAL – SOBRE FATOS, OPINIÕES E BOATOS, PÂNICO E TERROR

A notícia que vitrine online publicou sobre um fato insólito ocorrido na madrugada deste sábado (9) no Hospital Municipal de Ibiúna, provocando pânico e terror nos profissionais de saúde que se encontravam no plantão noturno, nas próximas horas deverá ultrapassar 30 mil acessos à página da revista.

Esse número abrange curtidas, reações, centenas de opiniões parte das quais insustentáveis e extremamente deselegantes, como se cada leitor estivesse no papel de juiz sobre acontecimento do qual não tiveram a mínima participação.

Uma das principais características delas é a superficialidade, julgamentos implacáveis e a falta de lógica elementar, além de uma incoerência brutal. Diversos destilaram um ódio que, atualmente, se manifesta em toda a sociedade brasileira, na esteira do mal-estar generalizado decorrente de graves problemas políticos e econômicos.

Reproduzo aqui, a título de exemplo, uma delas publicada no espaço de comentários da notícia por uma senhora que, não se sabe a razão, o removeu em seguida. Numa página do Facebook ela pedia desculpas às vítimas do episódio, dizendo que tinha interpretado mal a notícia. Mas eis a opinião dela, que conseguimos registrar antes que ela a removesse:

“Não achei nada de extraordinário! Nem ameaçador! As pessoas se cansam de serem (sic) palhaçada (sic) nas mãos destes (sic) funcionários desse hospital! Nossa pelo o furor (sic) da notícia imaginei tiros, assassinatos! Nada demais apenas exaltação e alguém (sic) cansado de ser mal tratado neste (sic) hospital!”

É bom advertir que tudo isso foi o que a senhora imaginou! E isso nos confere o direito de imaginação também. Se houvesse tiros, assassinatos, ela então aprovaria a notícia, que teria sido absolutamente fiel ao que produziu sua imaginação? O perigo é esse, a educação brasileira ensina pouco e mal a população. O pauperismo verbal impede que até mesmo seres adultos consigam interpretar corretamente o que leem. O que ocorreu nos hospital, como foi noticiado, provocou sim pânico e terror por cerca de trinta ou quarenta minutos, que jamais serão esquecidos pelas dezessete vítimas desse episódio execrável sob todos os pontos de vista.

No mundo todo o acesso aos hospitais é controlado por diversos motivos. Um deles é para assegurar tranquilidade e segurança aos funcionários e pacientes; outro, evitar que haja algum tipo de contaminação ou transmissão de enfermidades.

Pergunte se alguém consegue ingressar nos Hospitais Albert Einstein ou Sírio Libanês, em São Paulo, para citar os mais famosos do Brasil, sem antes passar por seguranças do tamanho de portas e sempre pronto para o serviço. Houve desrespeito e atitudes extremamente agressivas por parte de três indivíduos, de acordo com o depoimento assinado na Delegacia de Polícia de Ibiúna por dezessete enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Todos, sem exceção, descreveram a cena pavorosa que os atingiu durante o plantão. Teve uma auxiliar de enfermagem que disse que iria pedir que fosse demitida, tamanha a sensação de insegurança sentida. Todos os demais declararam à vitrine online que estavam se sentindo intimidados e ameaçados.

A questão da qualidade do atendimento proporcionado à população [e há muitas queixas e problemas a serem resolvidos] não pode justificar a situação terrível ali ocorrida.

ÀS PALAVRAS

Isto posto, vamos aos significados das palavras, essencial nos casos em que as pessoas sentem necessidade de se expressar. De maneira simples, as palavras servem para nomear sentimentos, pensamentos, objetos, acontecimentos, etc. Se não temos um estoque de palavras disponíveis em nossa mente, naturalmente temos dificuldade de nos expressar e, assim e muito frequentemente, podemos cometer pré-julgamentos e manifestar preconceitos sem nenhum fundamento.

Ali no hospital houve um fato descrito na medida em que puderam ser colhidas algumas informações [as causas do ocorrido ainda são desconhecidas até mesmo pela polícia, por exemplo, qual o motivo do aparente desmaio da mulher de 23 anos que foi socorrida ao hospital?].

Fato é algo comprovável pela busca da verdade. Pode-se, portanto, ter certeza do que ocorreu de modo absoluto.

Opinião, por outro lado, é uma maneira particular de pensar das pessoas sobre um assunto. É, portanto, diferente de fato, e pode não ter fundamento, já que o opinante não dispõe de conhecimento correto do fato sobre o qual opina.

Por fim, temos o boato, que é uma novidade que circula sem se saber sua origem ou sua autenticidade. Sua veracidade não pode ser verificada.

Todas as pessoas normais sabem o que é água, mas existem diversos tipos de água: doce, salgada, colorida, gasosa, poluída, em turbulência, estável, etc. Em suma, precisamos saber de modo correto sobre o que estamos falando, pois corremos o risco de sermos injustos com alguém ou em relação a algum episódio.

O mundo em que vivemos, está longe de ser algo ordenado e harmonioso. Há conflitos, desigualdades sociais, culturais, econômicas, desequilíbrios e comportamentos coerentes são cada vez mais escassos, porque vivemos numa sociedade doente, carente e que se vê diariamente diante de fatos lamentáveis e nos sentimos impotentes diante deles.

Por fim, é oportuno lembrar que cada pessoa é personagem único, com características físicas, emocionais e psíquicas diferentes das dos outros. Se isso é um fato maravilhoso e divino de um lado, de outro é motivo para divergências de pontos de vista. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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