FINGEM DE MORTOS – PEQUENINOS ANIMAIS USAM ESTRATÉGIA PARA ESCAPAR DE AMEAÇAS

O tamanho de seus cérebros é extremamente diminuto, mas eles são capazes de proezas surpreendentes. Fazem parte do milagre da vida que se apresenta numa profusão fantástica de seres encantadores pelo que são.

Já vi formigas quase invisíveis se fingirem de mortas quando aproximei a ponta do dedo de seus corpinhos. Descobri que essa é uma estratégia para enganar o possível atacante.

Isso deve fazer parte do seu instinto de sobrevivência, pois na natureza existe toda sorte de predadores impiedosos, no caso pode ser um tamanduá voraz ou uma vespa ou uma aranha.

Elas podem permanecer imóveis por longo tempo, até que a ameaça deixe de existir. Depois que percebem que o risco não mais existe, seguem seu caminho de trabalhadoras incansáveis.

Neste sábado (4) pela manhã me preparava para sair e fui pegar o boné que estava sobre a mesa. Epa! Tinha uma pequena mancha marrom [na verdade percebi logo tratar-se de duas asas como carapaças fechadas] numa curva da cobertura de cabeça.

Aproximei o dedo indicador pensando tratar-se de algum objeto qualquer. Vendo com mais atenção, concluí que era um tipo de joaninha, só que mais longa. Delicadamente, encostei a ponta do dedo no animalzinho. Qual o quê, instantaneamente virou de costas e ficou paralisado, como se estivesse morto.

Achei graça, ao lembrar-me de experiências anteriores com as formiguinhas. Aliás, quando criança brincava muito com as formigas e me tornei amigo delas, até hoje. São trabalhadoras, dividem as tarefas socialmente e as cumprem rigorosamente, seja para levar um pedaço de folha ou pétala recortada de uma flor. Servem de alimentos em suas casas subterrâneas.

Então, me interessei em saber sobre o matreirinho e sabido ser que se vendo tocado saiu em uma corrida no parapeito da janela. Ri e disse a ele (ou ela?): “Bem espertinho, né?” E me senti feliz por ter testemunhado um fato tão simples como esse e que poderia passar despercebido, caso estivesse cego para a experiência.

Confesso que comecei a pensar nos mistérios inefáveis da existência com todo esse espetáculo composto de estrelas, planetas, luas, florestas, animais gigantes e minúsculos, alguns até mesmo invisíveis, considerando vírus e bactérias.

Lembrei-me, nesse momento, dos jainistas, seguidores de uma religião fundada na Índia no século VI a.C. por Mahavira, adeptos radicais da não-violência contra todos os seres vivos, pois também os animais são portadores de alma.

Segundo se sabe, eles evitam andar à noite para não pisar (e matar) animais que se encontram no chão e, durante o dia, caminham com cuidado, também com o mesmo objetivo.

Para nós ocidentais e brasileiros essa conduta pode parecer muito estranha, porque vemos os animais de modo diferente. Alguns são capazes de torturar barbaramente gatos e cachorros como uma forma de exercitar seu sadismo, uma doença cruel, contra seres que subjugam.

Bem, voltemos para o nosso tema. Em suma, confesso que tive o privilégio de me relacionar com aquele serzinho e percebê-lo livre para seguir seu destino, depois da deliciosa farsa que interpretou como protagonista, tendo-me como seu partner.

Sabe de uma coisa! Muitos indivíduos, da fauna humana, praticam, de variadas formas, a mesma estratégia daqueles pequeninos, até mesmo para evitar tarefas tediosas ou companhias desagradáveis. Uma coisa é certa, porém. Fazemos coisas estranhas porque somos infinitamente mais complicados que nossos amiguinhos naturais. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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