ENSAIO – A QUE DISTÂNCIA VOCÊ VIVE DE SI MESMO E DO MUNDO AO REDOR?
A que distância vivemos de nós mesmos, em relação aos nossos corpos e mentes e ao mundo ao redor? Já se havia feito essa pergunta? Pois é, vivemos cotidianos imersos num turbilhão de pensamentos, a maioria dos quais nem sequer nos damos tento de quem somos realmente, desde que tenhamos habilidade de ir além das percepções comuns, em geral superficiais.
Adotamos posturas físicas ou movimentos de modo automático e inconsciente na maior parte do dia. Sentamos sobre as chaves que estão no bolso traseiro, debaixo da bunda, cruzamos os braços ou balançamos as pernas para cima e para baixo, coçamos as costas, tropeçamos ao caminhar, deixamos de ver objetos e paisagens, etc., isso, claro, varia de pessoa para pessoa.
Certa vez, em uma clínica, a psicóloga pediu ao cliente que tirasse a roupa, toda a roupa, e ficasse nu e se sentasse sobre um carpete, de modo que seus pés ficassem plantados lado a lado. Pisou uma vez sobre eles e perguntou “sentiu seus pés?”. “Sim”, foi a resposta. Repetiu a mesma atitude e novamente e fez a mesma pergunta e outra vez mais. Por fim, pisou para doer. Desta vez, diante da reação do paciente, ela disse: “Agora você sentiu os seu pés de verdade!”
Nossa mente divagadora tem essa característica de voar soprada para lá e para cá pelos ventos dos pensamentos e, por isso mesmo, quase nunca estamos no tempo presente nas relações entre mente e corpo e com as outras pessoas. De fato, considerando a plasticidade do nosso cérebro como processador de informações, só com muita autoeducação e treinamento conseguimos melhorar nossa consciência no tempo presente.
Isso não é um palpite do escrevinhador destas linhas. A Universidade de Londres realizou estudos que demonstraram que “mudanças no cérebro causadas por ondas cerebrais naturais podem ser induzidas por meio de treinamento”.
Os pesquisadores perceberam que meia hora de controle voluntário dos ritmos do cérebro é suficiente para “induzir uma mudança duradoura na excitabilidade cortical e na função intracortical ou medular”.
Isso, em nosso entender, pode ser conseguido por meio da meditação, que tenho levado como prática em minhas palestras dedicadas a melhorar o estado de consciência dos indivíduos de si mesmos e da realidade exterior. Os resultados têm sido gratificantes!
Entendo que a consciência, como atividade mais nobre de nossas mentes, é também o caminho que nos leva a experimentar verdadeiramente o sentido da liberdade.
As influências sociais que recebemos desde que nascemos, na maior parte do tempo, são mais negativas que positivas e, não raro, por essa causa, sentimos mal-estar com frequência ao longo da vida, na medida em que nossa naturalidade é transformada em um sistema de autodefesa muitas vezes caótico. O número de fobias sociais e de insegurança pessoal é notável como fatos concretos.
O psicólogo norte-americano Albert Ellis (1913-2007), famoso por realizar terapia de casais e sexo, criou uma terapia juntando três elementos – razão, emoção e comportamento – que lhe granjearam grande respeitabilidade.
Seu método era bem simples: fazer com que os indivíduos substituíssem suas emoções negativas e nocivas por novos comportamentos e pensamentos saudáveis. Assim, as pessoas se tornavam capazes de sentir bem-estar emocional.
Ellis encontrou inspiração em um aforismo de Epiteto (50 d.C-135 c.C), filósofo grego, que dizia: “Não são os acontecimentos que perturbam os homens, mas sim como esses os enxergam.”
A psicoterapia praticada por Ellis partia do princípio de que “os indivíduos são responsáveis pela criação de suas próprias emoções (desde que sejam delas conscientes, grifo nosso) e, portanto, de suas próprias reações emocionais aos acontecimentos que ocorrem ao seu redor”.
Em suma, acredita-se que os indivíduos (desde que conscientes de seus estados mentais, grifo nosso) sejam responsáveis pela superação dos problemas constituídos em experiências passadas, adotando novos padrões de viver e de agir. A palavra de ordem, portanto, é evitar as emoções destrutivas em nossa condição de humanos. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)
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Jornalista, professor universitário e pesquisador, Carlos Rossini é palestrante sobre temas relacionados ao desenvolvimento criativo e motivacional de pessoas, indidualmene, em grupos abertos, empresas, escolas, prefeituras e entidades de modo geral. Contato: (15) 9.9612-3685