COLAPSO – REPRESA ITUPARARANGA PODE ENTRAR EM VOLUME MORTO ANTES DE 2023
Vitrine online já publicou uma série de matérias alertando as autoridades e a população de Ibiúna e região sobre o futuro de um dos maiores patrimônio hídricos de bacias hidrográficas do Rio Sorocaba e Médio Tietê. Em uma delas o dr. André Cordeiro previa que no futuro, agora menos de duas décadas, a represa poderá ser transformar num pântano.
Só para lembrar: a SOS Itupararanga, ONG sediada em Ibiúna, cujo objetivo é promover a preservação do meio ambiente e auxiliar no processo de desenvolvimento sustentável na região, publicava no dia 5 de setembro de 2019 “sinais de alerta” sobre a represa Itupararanga “responsável por 80% do abastecimento de Sorocaba”. 64% das águas da represa se encontram no município de Ibiúna.
Em seu boletim informativo de junho, publicou informações da maior importância e preocupantes sobre o destino da represa, que reproduzimos abaixo na íntegra:
CRISE HÍDRICA SEM PRECEDENTES
“Recém elaborado, o relatório “Reservatório Itupararanga: problemas e perspectivas” alerta para a possibilidade de a região passar por uma crise hídrica sem precedentes, não descartando a possibilidade de entrar no volume morto* antes de 2023. “A represa pode entrar em colapso. Do jeito que o reservatório está sendo operado, pode ser pior do que o que aconteceu em 2014 e 2015”, diz o autor do documento, Dr. André Cordeiro Alves dos Santos, professor da UFSCar (campus Sorocaba) e Coordenador da Câmara de Planejamento do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Sorocaba e Médio Tietê (CBHSMT).
O estudo, que reuniu dados e pesquisas sobre a represa feitas ao longo dos últimos anos, apresenta um quadro crítico. Segundo o material, “a atual forma de gerenciamento do reservatório pode levar a redução drástica do volume abaixo da cota mínima operacional, tanto para o abastecimento público quanto para a geração de energia antes do final da década de 2020”.
RISCO DE QUEDA NA QUANTIDADE DE ÁGUA AINDA EM 2021
A gestão do reservatório de Itupararanga é feita pela Votorantim Energia que, segundo o professor, tem adotado a prática de aumentar a vazão de água nos meses de estiagem para gerar mais energia. A ação coincide com a época em que a energia está mais cara.
“O impasse é o seguinte: a Votorantim quer deixar a água correr para gerar energia. Nós queremos manter a água no reservatório para garantir o abastecimento em períodos de seca”, diz o pesquisador. Segundo ele, há um acordo informal para que a vazão do Rio Sorocaba não seja inferior 6m3 por segundo. “Isso foi conversado, definido lá atrás, mas é necessário um estudo mais elaborado para definir este número”, comenta.
Para o professor da UFSCar, a falta de clareza sobre a real necessidade de redução do nível do reservatório e a falta de informação sobre a vazão adequada abrem espaço para questionamentos. “É uma questão econômica? Eles geram mais energia nesta época para aproveitar o preço alto? Não sabemos, pois não temos dados que nos dêem um panorama claro sobre a situação”, lamenta.
Considerando este contexto, caso o índice pluvial permaneça baixo nos próximos meses e a vazão de saída seja aumentada, a região pode enfrentar grandes problemas já em outubro deste ano.
MÁ QUALIDADE DA ÁGUA PODE LEVAR RISCO À SAÚDE
A combinação da baixa quantidade de água com a crescente poluição , a falta de informações sobre os agrotóxicos utilizados nas culturas e esgoto sem tratamento podem cobrar um preço caro para as mais de 1 milhão de pessoas abastecidas pela represa de Itupararanga.
Além da quantidade de substâncias como ferro e fósforo, o baixo nível da água favorece a concentração de cianobactérias tóxicas com a produção de cianotoxina. Recentemente, um estudo estabeleceu a relação destas toxinas com o efeito do Zica Virus na má formação de fetos, para os casos do nordeste brasileiro entre 2014 e 2015.
Além do mais, de acordo com Dr. André, “corre-se o risco de acontecer como no sistema Cantareira, que nunca mais se recuperou. O abastecimento na capital só se normalizou porque o Estado encontrou outra fonte de água, o Sistema São Lourenço”. A biodiversidade impactada pela crise, entretanto, jamais voltou ao normal.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS E URGENTES
Dentre as possíveis soluções para a questão, o relatório aponta ações como o aumento do investimento da SABESP, investimento dos municípios, impedimento de licenciamento e outorga de novos empreendimentos que possam impactar o reservatório.
Outra ação fundamental e urgente, e que está em andamento, é a participação do Comitê de Bacia nas discussões relativas à renovação da outorga da Votorantim Energia para a operação da barragem, compromisso que já foi assumido pelo Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido. O secretário iniciará as tratativas em conjunto com o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). O objetivo é “elaborar em conjunto uma regra de operação da barragem que reduza o impacto nos outros usos da água do reservatório e que auxilie na manutenção tanto da quantidade quanto da qualidade de água na bacia”.
Para o professor e demais membros do grupo de trabalho do comitê que acompanha o assunto, todas estas questões precisam estar resolvidas antes de 2023, quando a outorga da gestão do reservatório deve ser renovada. “Se não houver uma intensa e incisiva atuação dos órgãos de controle, da sociedade civil e das prefeituras não será possível reverter à perda de qualidade, inviabilizando em médio prazo o uso mais nobre do reservatório que é o abastecimento público”, alerta o documento.
O relatório foi elaborado a partir de documentos públicos e dados oficiais com o apoio do Grupo de trabalho de Itupararanga, coordenado por Viviane Oliveira (SOS Itupararanga), vinculado à Câmara Técnica de Proteção das Águas do CBHSMT, e já foi apresentado ao Secretário Penido. “É preciso parar de transferir a responsabilidade apenas para a população, como se somente coubesse a ela economizar água. Se não houver uma adequação na política na gestão da represa de Itupararanga, poderemos viver uma crise hídrica sem precedentes, destaca Professor André.”
* Volume morto, também chamado de reserva técnica de água, é o nome que se dá à reserva de água mais profunda das represas, que fica abaixo dos canos de captação que normalmente são usados para retirar água da barragem para seu uso. Ou seja, é o que fica abaixo da captação por gravidade (sem o uso de bombas).