VOCÊ É POVO OU POPULACHO?

Segundo alguns, no Brasil, não temos povo. Só populacho. A palavra povo, no entanto, é uma das mais repetidas pelos políticos. E, talvez, uma das menos entendidas por eles e demais pessoas. A maioria confunde “povo” com “populacho”.

            Para o escritor francês Paul Valéry (1871-1945), “a palavra povo… tinha um sentido exato quando se podiam ajuntar todos os cidadãos de uma mesma cidade ao redor de um outeiro (…) Mas o crescimento do número, a passagem da ordem dos milhares à dos milhões, fez dessa palavra um termo monstruoso, cujo sentido depende da frase em que entra. Ela ora designa a totalidade indiferenciada e jamais presente em lugar nenhum; ora o maior número que se opõe ao número restrito dos indivíduos mais afortunados ou mais cultos…”

            Com seu crescimento em número e sua diminuição em nível econômico e, sobretudo, cultural, o povo foi se transformando em populacho que, alguns, denominam pejorativamente de “multidão pobre das classes baixas”, “ralé” e “plebe”. Porém, o que caracteriza o populacho, mais que sua pobreza material, é a pobreza mental e espiritual. Por isso, o compositor húngaro Franz Liszt (1811-1886), aconselhou : “Ama o povo, evita o populacho”

            Ao falar do povo, o filósofo Luiz Felipe Pondé, em seu livro “Guia politicamente incorreto da filosofia”, afirma “O povo adere fácil e descaradamente (como aderiu nos séculos 19 e 20) a toda forma de totalitarismo. Se der comida, casa e hospital, o povo faz qualquer coisa que você pedir. Confiar no povo como regulador da democracia é confiar nos bons modos de um leão à mesa.” Concordo com tal afirmação, só que substituiria “povo” por “populacho”.

            Outro filósofo, pouco mais famoso que o Pondé, ou seja, o alemão Hegel (1770-1831), afirmou que “o povo é aquela parte do Estado que não sabe o que quer”. Eu acrescentaria: mas sabe o que não quer; não quer, sobretudo, político corrupto. Quem não sabe o que quer e nem o que não quer é o populacho.

            Um dos caminhos, talvez o melhor, de elevar alguém do nível de populacho àquele de povo, é educação de qualidade. Só que políticos, de maneira geral, preferem lidar com o populacho, que é mais fácil de enganar do que o povo. Por isso, para eles, quanto pior a educação, melhor.

Claudino Piletti é filósofo, doutor em Educação e escritor

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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