PERSONA – ROBERTO SUZUKI: O AMOR FAZ PARTE DO PLANTIO

Conheci o agricultor ibiunense Roberto Tadao Suzuki, 62, na tradicional Procissão dos Lavradores na 103ª Festa de São Sebastião e do Divino Espírito Santo, no dia 22 de maio de 2022. Estava ouvindo pessoas como ele para saber o sentimento dos produtores rurais que alimentam milhões de pessoas com seu trabalho diário.

Ele estava próximo do seu trator onde se viam vários engradados de verduras colhidas de madrugada para a feira da festa na praça da Matriz. Havia outras centenas de tratores em uma longa fila.

Junto com ele estavam a filha Vanessa e os netos Bernardo e Sabrina.

Roberto tem uma plantação de 10 hectares no bairro do Curral, onde produz e entrega 7 toneladas de produtos/dia: salsão, nabo, espinafre, acelga, erva doce, alface americana.

Lembrou o período da pandemia, mas de maneira notoriamente positiva: ““Foi um tempo difícil, mas a gente não pode parar. Nos apoiamos na proteção do santo [São Sebastião]. A fé remove montanhas. Se a gente não acreditar, a gente não vive.”

Talvez essa forma de encarar o mundo tenha alguma coisa a ver com a grande aventura empreendida pelo seu pai, Yoshio Suzuki, 89; a mãe, Assai Katahira, morreu recentemente, aos 91 anos.

Depois do fim da IIª Guerra Mundial, aqui no Brasil, a Cooperativa Agrícola de Cotia [que teve um entreposto em Ibiúna], sentia necessidade de mão de obra jovem e percebendo a difícil situação do Japão pós-guerra, assinou um acordo com o governo nipônico para convidar jovens de origem agrícola para virem para o Brasil, tornando-se responsável por eles enquanto aqui estivessem.

A primeira leva dos Kotia Sainen, eram assim chamados por serem jovens e solteiros, na maioria, chegou em 1955, num total de 2.503 jovens. Foi preciso muita força de vontade e persistência para se adaptarem a um país tropical.

Yoshiu Suzuki foi um desses jovens que imigraram para o Brasil. Plantou batata, café, e o que fosse preciso. Primeiro foi para Bragança Paulista, daí para Birigui, depois Alumínio, Vargem Grande e, em 1965, se firmou em Ibiúna.

Roberto na estufa de mudas

Tranquilo e firme no seu modo de falar, Roberto viveu desde o nascimento na roça, ao lado dos seus familiares.

Com Rosini Susuki, sua atual esposa, se sente enraizado na terra e em harmonia com os filhos Fernando e Vanessa e os netos.

“Para cuidar da lavoura tem que ter amor e gostar muito”, afirma depois de décadas de trabalho duro com as mudanças do tempo. Ele, de fato começou na lavoura aos dezesseis anos.

Mesmo com tanta atribuição diária, Roberto encontrou tempo para dedicar sua experiência na Caisp – Cooperativa Agropecuária de Ibiúna, onde permaneceu dois anos como diretor.

Isto porque, “temos que unir os cooperados, porque, trabalhando juntos, todo o mundo ganha”.

Além disso têm os fatores que não dependem dos agricultores. Aí se incluem os custos “que subiram muito”, do adubo, do óleo diesel” e que contribuem para o aumento dos preços para os consumidores finais.

Há coisas que aborrecem Roberto: “A área de plantio está diminuindo por conta dos loteamentos clandestinos que se espalham por todos os lados. Além disso, as novas gerações não querem mais ficar na roça, preferem ir para a cidade.”

Fazer rotação da cultura é uma tarefa que exige atenção e disciplina, a fim de que a terra possa descansar e se tornar produtiva.

Enquanto olho sua bela paisagem plantada com esmero, Roberto, meio nostálgico, comenta:

“Ibiúna já foi melhor. Tudo era mais tranquilo. Não havia roubos, as águas eram limpas, o clima era outro. Verão era verão, frio era frio mesmo. Virou tudo!”

Roberto, a filha e netos na Procissão de Lavradores

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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