O PASSARALHO GLOBAL
Por décadas a TV Globo funcionou como uma espécie de ilha da fantasia como modelo de empregabilidade oferecendo salários e contratos extraordinários para seu corpo funcional. Fazer parte do seu privilegiado time de artistas e jornalistas era o máximo como objeto de desejo.
Desde o industrialismo, depois da queda da monarquia e da Revolução Francesa, o objetivo supremo do universo empresarial e financeiro é o lucro. Quanto maior, melhor! Ele é o regente da vida, do estado e dos governos. E o mercado global, em nada mudou esse panorama em que o ganho agregado é buscado como forma de prazer, triunfo e conquista pessoal. Mas isso é ilusório.
Não importa se a pessoa entrega o melhor de si mesmo por décadas de dedicação, se se tornou uma celebridade ou ainda contribui para encenar espetáculos dramatúrgicos que atraem legiões de noveleiros ou produzem imagens fantásticas ou informações assentadas na melhor tecnologia e gente talentosa em dar notícias.
Sabemos que alguns entre os demitidos parecem não acreditar quando recebem a comunicação de seu desligamento dos quadros globais, pessoas sensíveis que não conseguem esconder as lágrimas demasiadamente humanas. Nada diferente do que acontece na vida das pessoas comuns sujeitas ao mesmo processo que as submete à dura realidade de poderem ser defenestradas a qualquer momento, pois vigora a lógica fria da empresa, a necessidade imperativa de sua permanência e crescimento, sentimentalismos à parte.
O dirigente pode até, por meio de comunicados, fazer elogios ao demitido, enaltecer suas qualidades profissionais e desejar uma vida longa e próspera para os dispensados, isso também faz parte do jogo das aparências, que também terá o seu dia de ser lançado fora dos limites da Vênus platinada. O medo de alguma forma faz parte da rotina das subjetividades.
O Veludo era um dos meus colegas em um órgão público em que trabalhei no passado. Lembro-me que quando recebeu a notícia de que havia sido demitido da Globo paulista sentiu-se perdido no mundo, como se sua vida tivesse perdido o sentido. Ser demitido provoca um sentimento de rejeição social, de desprezo, de negação de valores, quando, na verdade, pode ser uma oportunidade de encontrar um novo caminho, uma nova aventura profissional.
O cara está ali aparecendo na telinha, sendo reconhecido e considerado pela fama na vizinhança e nos locais que frequenta. De repente, o vácuo, o nada, o sentimento de auto-estima abalada, a personalidade ferida. Mas o mundo é muito além da Globo e um cenário de infinitas possibilidades, além dos ganhos adquiridos com o chamado choque de realidade.
É. A Globo não é mais aquela. Mas isso não quer dizer nada. Ela precisa se adaptar à realidade mutante…para sobreviver e crescer, este é um dogma do capitalismo. A empresa que não cresce, morre, e é isso que faz essa gigantesca organização fazer o que está fazendo, livrando de despesas para continuar seu voo de Fênix, porque no mundo fantástico o que a mantém é a grana, muita grana. E isto exige uma conduta lógica, pragmática, objetiva.
As pessoas são substituíveis, ainda que possam se iludir de que são importantes. No sistema econômico em que vivemos, elas são importantes, sim. Mas somente até a página 20, ou talvez trinta ou quarenta.
Bem, leitor, parece oportuno saber que o capitalismo é um sistema econômico no qual o principal objetivo se dá pela obtenção do lucro e da proteção da propriedade privada. O acúmulo de capital é representado na forma de bens e dinheiro. Como você pode perceber, as pessoas não são nenhuma nem outra coisa.
EXPLICAÇÃO DA GLOBO
Veja o comunicado da emissora e compare com o que leu acima: “A Globo, assim como as demais empresas de referência do mercado, tem um compromisso permanente com a busca da eficiência e evolução, mas lamenta quando se despede de profissionais que ajudaram a escrever e a conta a sua história. Isso, no entanto, faz parte da dinâmica de qualquer empresa. Os resultados da Globo refletem a boa performance do conjunto de sua operações e uma constante avaliação do cenário econômico do país e dos negócios. Como parte do processo de transformação pelo qual vem passando nos últimos anos e alinhada à sua estratégia, a empresa mantém a disciplina de custos e investimentos em iniciativas importantes de crescimento.” (C.R.)