ZONA AZUL – “UM PREFEITO DITA AS LEIS, [MAS] NÃO TEM DIÁLOGO COM A SOCIEDADE”, DESABAFA MULHER IBIUNENSE

fabio bello

Em todo esse caso, já famigerado, da Zona Azul Digital, pode-se inferir um traço notável do prefeito Fábio Bello, algo como se fizesse parte de uma assinatura consagradora do ponto de vista de imagem pública. Tomo aqui emprestados comentários emblemáticos feitos por duas mulheres ibiunenses, que parecem refletir o pensamento que povoa a mente de considerável parcela de ibiunenses. É como seu governo estivesse atrás de uma muralha que o separa da população.

Primeira mulher: “Já não basta a carga imensa de tributos que a população paga com o suposto intuito de retorno por meio de investimentos. Nossa cidade está à mercê da boa vontade do poder público, que de boa vontade não tem nada. A cidade está abandonada.”

Segunda mulher: revela em plenitude um status quo que, em nosso entender, expressa o “estilo” e a marca desse governo: “Eu acho a maior falta de respeito aos cidadãos ibiunenses, sabendo que a maioria é rural. Vem resolver seus problemas na cidade e encontra mais um: estacionamento. Um prefeito dita as leis, não tem diálogo com a sociedade.”

Poderia citar dezenas de outras manifestações contrariadas, provocadas pela expansão da área de cobrança de estacionamento rotativo pago em áreas periféricas e residenciais, que, por isso,  recebeu algumas mudanças na área inicialmente anunciada no Imprensa Oficial, órgão que noticia os fatos do Executivo.

A frase da primeira senhora “a cidade está abandonada” e a da segunda, o prefeito “não tem diálogo com a sociedade”, se confirma em relação ao próprio tema em tela, a zona azul digital. Com toda a celeuma levantada e a vasta repercussão provocada na sociedade e a possibilidade de o projeto ter sido implantado de forma ilegal, o prefeito em nenhum instante se dirigiu à população para prestar esclarecimento ou mesmo, num gesto de humildade, reconhecer alguma falha.

Na verdade, até o dia de hoje a Câmara Municipal espera por informações oficiais da prefeitura para avaliar que atitude tomará em relação ao fato de não ter autorizado, como prevê a Lei Orgânica do Município, a realização de uma concorrência pública para contratação de uma empresa prestadora de serviço, como é o caso da cobrança de estacionamento, além das duas ruas – XV de Novembro e Pinduca Soares – que estariam abrigadas em um decreto-lei em vigor desde 1985.

Mas voltemos ao tema principal evocado por uma das senhoras que tem sido apontado frequentemente pela revista vitrine online. É palmar a percepção da opacidade do atual governo de Ibiúna, não por que tenha tirado nota zero em relação ao monitoramento da aplicação da Lei de Acesso à Informação – LAI, como um brinde indesejável em qualquer lugar no Brasil que respira um mínimo de democracia.

As dificuldades de obter informações são prosaicas entre os vereadores, parte da imprensa atuante no município, entidades representativas e a população de modo geral. Até mesmo ser recebido pelo prefeito parece uma tarefa estafante, isto quando acaba se concretizando o contato. Ouvem-se muitas queixas de falta de atendimento.

Por último, mas não menos importante, no dia 9 de março de 2015 – daqui a pouco, portanto, vai completar o primeiro aniversário – se implantou uma “lei da mordaça” na prefeitura proibindo os servidores municipais de prestar qualquer informação à imprensa. Devem ter atingido o objetivo, pois é evidente a dificuldade de se obter uma informação, já que se espalhou um clima de “medo de retaliação” como uma epidemia perigosa.

Num testemunho próprio, não se pode deixar de dizer que vitrine online encaminhou dezenas de questionários à prefeitura, sem obter respostas. É incrível, mas por dever de ofício continuamos enviando perguntas e aguardando as respostas como Godot. Bello, parece ter o dom de se tornar invisível, como Harry Potter, só fala com quem quer, na hora que quer, e de acordo com a visão idiossincrática de suas prioridades políticas, comportamento glacial, distante e hermético.

As duas senhoras [seus nomes foram suprimidos] que fizeram os comentários acima nos convenceram tanto da veracidade de seus sentimentos quanto da verossimilhança do que expuseram. (C.R.)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.