IBIÚNA – 735 CRIANÇAS FICARÃO SEM TRANSPORTE ESCOLAR A PARTIR DESTA 2ª-FEIRA, DENUNCIA COOTRASP

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“A partir desta segunda-feira (2) 735 crianças da rede municipal de ensino de Ibiúna ficarão sem transporte escolar”, anunciou na tarde de hoje (30) o presidente da Cooperativa de Transporte de São Paulo – Cootrasp, Antonio Aparecido Cardoso, durante encontro da categoria realizado no salão do Clube de Campo de Ibiúna, que reuniu mais de duzentas pessoas. Motivo: na sexta-feira, a entidade recebeu um ofício da secretária municipal da Educação, Nydia Bello de Oliveira, comunicando a supressão de 31 rotas que vinham sendo cumpridas pelos cooperados, todos trabalhadores ibiunenses.

Embora no ofício conste o nome da titular da secretaria, contém uma assinatura ilegível de outra pessoa.

O presidente da Cootrasp explica que o contrato inicial, assinado no dia 21 de julho de 2015, e que estará em vigor até o dia 21 de julho de 2016, estabelecia o transporte de 3.017 alunos, 128 rotas, e 7.648,4 km por dia. Era o que vinha sendo cumprido por 116 perueiros cooperados. A partir da próxima segunda-feira, de acordo com a decisão da prefeitura, serão transportados pela cooperativa 2.282 alunos, serão percorridos 5.786 km, em 97 rotas.

Sem receber nenhuma explicação além de três linhas do ofício nº 314/2016, a Cootrasp não sabe o que será feito das 735 crianças. Se serão deixadas em casa ou transportadas por outra empresa, o que, segundo a entidade, é uma atitude ilegal, já que há um contrato em vigor de uma licitação feita em julho de 2015.

“Se a prefeitura alega que fez uso da supressão por falta de recursos, como pagará seja lá quem vier assumir o transporte daquelas crianças?”, pergunta Cardoso que elogiou repetidas vezes a atitude dos perueiros que estão unidos e coesos como uma categoria consciente tanto de suas obrigações, “que cumpre a contento e com responsabilidade, quanto de seus direitos como profissionais e trabalhadores”.

“TRAIÇÃO”

O presidente da Cootrasp lembrou, durante o encontro, que no ano de 2015, quando o prefeito alegou dificuldades financeiras, os cooperados passaram a absorver o ônus de transportar cerca de 900 crianças de graça e que havia um acordo “de palavra” com o prefeito que em 2016 esse problema seria solucionado e os perueiros seriam remunerados pelo total de crianças transportadas. Mas, “o prefeito mudou de atitude e até deixou de comparecer em nossos encontros”. “E a atitude que acaba de tomar é como uma punhalada em nossas costas, traiçoeira e covarde”, afirmou o presidente da entidade.

Elisângela Ferreira de Souza Soares, representante dos transportadores escolares – assim como Marília Alves dos Santos – fez um emocionado discurso expressando um reconhecimento explícito da “grandeza do trabalho que vem senso feito pelos perueiros de Ibiúna, de uma forma heroica”. Fez, no entanto, uma grave denúncia publicamente: ela e Marília receberam, na última terça-feira (26) um telefonema de um funcionário de alto escalão, “muito próximo do prefeito”, sugerindo que elas abrissem uma cooperativa e que o serviço seria passado para elas.

Elisângela lacrimejou quando disse que jamais trairia a categoria da qual faz parte, consolou a todos os presentes, pediu que não sentissem medo e que permanecessem unidos porque só dessa forma a categoria será vencedora. Marilia, em seguida, caiu em prantos, baixando a cabeça, ao lembrar da situação constrangedora por que passou junto com sua colega.

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UNIÃO É FORÇA

Antonio Aparecido Cardoso, presidente do Cootrasp [o Sindicato das Cooperativas de Transportes do Estado de São Paulo – Sindicoop também estava representado], disse que a entidade passou a atuar na defesa tanto do direito das crianças ao transporte escolar digno, “que é de responsabilidade da prefeitura”, quanto de seus cooperados, exatamente porque “se criou uma situação crítica e grave que faz com que tenhamos que ir até mesmo além de nossos deveres básicos para cumprir o ideal de tratar as pessoas com o devido respeito, no caso as crianças e os trabalhadores”.

Com esse mesmo propósito, Cardoso e sua equipe desenvolveram um plano de modo que nenhum dos 19 perueiros que perderam suas rotas fique desempregado. “Com a economia de combustível que será feita, com a perda das rotas, e uma racionalização operacional, todos continuarão trabalhando e recebendo seus salários normalmente, mesmo com o atraso habitual, decorrente dos procedimentos da prefeitura”.

“Para garantir um transporte digno e responsável para as crianças de Ibiúna e assegurar as condições de trabalho dos nossos cooperados iremos atrás dos recursos, se preciso faremos uma carreata até a Assembleia Legislativa de São Paulo, até o Palácio dos Bandeirantes e iremos até mesmo a Brasília [‘mesmo que a situação lá esteja confusa demais no momento’]”, enfatizou Cardoso,  no que foi aplaudido.

“CORONELISMO”

No encontro, João Adão Moreira Leal, diretor da A.P.M. da Escola Municipal “Salvador Ferreira de Campos” disse que o prefeito Fábio Bello toma atitudes “impositivas”, que lembram o tempo do coronelismo. Logo em seguida, gritaram “ele é o coronel Saruê” [personagem da novela Velho Chico – TV Globo], provocando risos, e quebrando um pouco o clima de apreensão de todos.

Juliana da Silva, mãe de aluno, representante da E.M. “Manuel Clemente”, após enaltecer o trabalho dos perueiros e monitores, referiu-se diretamente ao prefeito dizendo “que se ele tivesse filho que dependesse de transporte público, certamente se interessaria por resolver esse problema através do diálogo e do entendimento” e não por meio de medida impositiva.

Vânia Aparecida Almeida Fiuza, mãe de aluno, professora e membro do Conselho Municipal de Educação declarou que o Conselho se esforça, cobra atitudes do Executivo, mas que “não há atenção e retorno” e, por isso, os problemas persistem. (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.