ENSAIO – VOCÊ GOSTARIA DE SE SENTIR UMA PESSOA ÚNICA, ÍNTEGRA E ORIGINAL?

interrogação

Para uma pessoa se tornar um indivíduo, em termos bem simples isto significa alguém ser autêntico e consciente de si mesmo, segundo interpretação da teoria do psicólogo suíço Carl Gustav Jung, ela precisa se livrar de tudo que foi imposto pela sociedade e contribuiu para formar sua personalidade, necessária para adaptação social, e encontrar sua essência. E a essência o indivíduo só encontra se retirar de si o que o influenciou a ponto de atrapalhar sua evolução.

Dito de outra forma, a pessoa – e geralmente é um processo dolorido – volta-se para si mesmo, retirando camadas de máscaras até se tornar íntegra. No processo de se tornar singular e único em suas características, quanto mais vai se tornando indivíduo, mais diferente vai ficando “em relação às normas, aos padrões, às regras, aos costumes e aos valores coletivos”.

Ou seja: sair da “prisão” social é uma tarefa extremamente difícil, ainda que os homens nascem com a predisposição para pensar, sentir, perceber e agir de modos específicos, isto porque cada pessoa é, de fato, uma pessoa, diferente de todas as demais, embora todos tenham uma semelhança física. É lamentável considerar que a maioria das pessoas nem   percebe que precisa nascer de novo [se tornar um indivíduo distinto dos demais, como é sua condição natural no mundo] para se tornar si mesmo.

Nem se imagina também o quanto as pessoas sofrem por buscarem inconscientemente esse objetivo, quanta angústia, depressão e ansiedade as atingem sem que se saiba que essa pode ser uma poderosa causa de sofrimento.

Jung: “A pessoa é um sistema psíquico que, atuando sobre outra, entra em interação com o outro sistema psíquico…e a interação psíquica nada mais é do que a relação de troca entre dois sistemas psíquicos”. Numa tradução livre isso significa que quando as pessoas interagem umas com as outras, por meio de palavras e gestos, elas estão conectando dois sistemas psíquicos. São duas mentes conversando e se influenciando reciprocamente, revestidas da pele de seus corpos, que identifica cada um dos personagens.

Se imaginarmos que cada pessoa é distinta da outra em termos dos conteúdos que têm em mente [consciente e inconscientemente] fica fácil entender a trivialidade dos conflitos humanos. Quando há duas pessoas ou mais em relação, temos um conjunto de diferentes características singulares, com diferentes perspectivas, desejos, interesses e limites comunicacionais.

De qualquer forma, é um alívio saber que uma pessoa pode se tornar um indivíduo específico, integro, único e original, “que integra todas as suas possibilidades e todos os seus recursos aprimorados”. E essa perspectiva – e por isso este ensaio foi escrito –, ainda que não saibamos com clareza, deve estar entre os nossos mais profundos desejos de liberdade e autorrealização (Léo Pinheiro)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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