ARTIGO – ASSISTENCIALISMO É MODO POLÍTICO DE COOPTAR A POPULAÇÃO

Chega a ser impiedosa a forma como políticos tupiniquins tratam os eleitores carentes e incautos e isso acontece aqui, entre nós, de modo corriqueiro. Usam, entre outras, duas formas assistencialistas de lidar com gente humilde e não atendida adequadamente pelo poder constituído: doação de remédios e oferecimento de transporte para tratamento médico, que são direitos palmares e constitucionais da população.

Um vereador, que está longe de ser uma vestal, disse-me certa vez que as minhas chances de ser eleito vereador em Ibiúna eram praticamente nulas. Motivo: falta de conhecimento “prático em lidar com o povo” que, inclui, além do que já foi dito acima, a compra de votos em épocas de eleições.

Adianto que nunca me candidatei a cargo político e também nunca ingressei em nenhum partido. Meu papel até agora tem sido, como jornalista, acompanhar a movimentação dos políticos antes, durante e depois que assumem cargos públicos, tanto no Executivo quanto no Legislativo.

O cinismo, misturado com uma arrogância petulante, parece impregnar tais atores políticos de uma empáfia e de um sentimento de serem espertos, em relação a conquistarem para si as benesses do poder.

É preciso usar uma lupa ou um microscópio de caracteres singulares para descobrir quem faz jus a uma frase de uso frequente e repetida de forma mecânica: “Tudo o que for para o bem de Ibiúna tem meu apoio.” “Engana-me que eu gosto”, ouço o eco dos ditos de pessoas mais bem-informadas.

Percebe-se, nesse contexto, o vazio deixado pela falta de lembrança dos valores éticos e morais que constituem a base de sustentação da sociedade.

Herdeiros mal-informados de Maquiavel demonstram que nem de uma escola de política precisam, a fim de assimilar o que seria o dever de desenvolver virtudes, de tal forma que cada cidadão tenha a oportunidade de buscar um estado de excelência individual e social. É o que veem praticarem o que inspira automaticamente seus modos de agir pragmáticos e muitas vezes frios.

O dinheiro público funciona como a serpente que fez Eva seduzir Adão a morder a maçã, razão pela qual, pelo menos do ponto de vista da religião católica, todos nos tornamos pecadores e temos [mais um mito] que prover nossa existência com dor e sofrimento. Talvez esse mito tenha originado modificações de natureza genética, ou seja, um certo tipo de DNA específico.“Ok, ok, entendi. Se o mundo é assim, vou tirar o melhor proveito dele. Vou tornar-me um político.” Basta acompanhar as notícias vindas de Brasília, com os mensalões e outros acintes praticados pelos chamados “colarinhos brancos”.

O dinheiro, a principal base dinâmica das relações sociais, mitiga o tal sofrimento, com as conquistas dos objetos de desejo, possibilita o prazer das festas, das boas bebidas e comidas, imóveis caros, e o consumo de possantes carros blindados e, lógico, exibir o poder, que inclui, em alguns casos, conquistas amorosas, mesmo despojadas de amor.

Levantemos, pois, a bandeira daqueles que amam Ibiúna de forma veraz. Fiquemos atentos e não nos deixemos cair nas tentações daquilo que querem que acreditemos por força da malícia, dos jogos políticos praticados por grupos que discreta e silenciosamente se acomodam na estrutura do poder público.

Este escrito ainda se cria num momento que pede paciência e espírito de observação, mas não julgamentos apressados, em nome do noviciado tanto dos ocupantes do Poder Executivo quanto do Legislativo. Ele também está conectado com a esperança do povo ibiunense de ver florescimento de uma nova era. Todos, portanto, do Executivo e do Legislativo, têm a rara oportunidade de começar a quebrar antigos paradigmas que estigmatizaram a imagem do político no Brasil e também em Ibiúna.

O trunfo dos atuais governantes reside na capacidade de amealhar recursos extraorçamentários, sem o que não poderão fazer os investimentos no município, seja por meios dos chamados convênios ou das emendas parlamentares. Isso pode representar um somatório de dinheiro expressivo e será exatamente nesse aspecto que os valores fundamentais que devem reger os atos de um governante precisam ser praticados.

É aí que a famigerada transparência deverá ter seu lugar no tempo e no espaço, para que não faltem remédios para o povo, não como favor, mas como dever; para que o hospital funcione como deve, e não precariamente; para que os cidadãos contem com melhores estradas e, finalmente, sejam respeitados como sempre mereceram e não vistos apenas como massa de manobra da esperteza despudorada.

 


Carlos Rossini é editor de vitrine online

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.