EDITORIAL – AH! SE O POVO [DE IBIÚNA] SOUBESSE…

gilberto gil

Arqueologia é uma ciência que estuda as culturas e os modos de vida do passado a partir da análise de vestígios materiais. Guardadas as proporções, é esse o trabalho que vem sendo realizado pelos secretários municipais do novo governo de Ibiúna, a fim de reunir vestígios e sinais deixados pela administração anterior, fazer um diagnóstico tanto exato quanto possível e definir planos de ações concretas e objetivas.

Os levantamentos estão sendo feitos de modo intenso – até mesmo para compensar a ausência de informações que não foram devidamente passadas pela administração anterior –, e não será exagero imaginar que os novos personagens atuantes na prefeitura possam se sentir como se estivessem entrado numa “floresta escura”, como bem imortalizou Dante, em sua Divina Comédia.

Apesar da aparência obscura, embaraçosa, povoada de um cipoal emaranhado de árvores e arbustos espinhosos como na caatinga nordestina, estão agindo de modo profissional e usando lanternas especiais para clarear desvãos e labirintos. Mais importante ainda: estão agindo de modo claro, num trabalho paciente e delicado e encontrando boa vontade por parte dos funcionários sobreviventes de um período que até pode ser considerado nefasto.

Remetemos aos cidadãos as seguintes perguntas que estão procurando por respostas: por que a rodoviária não foi reformada, se tinha verbas destinadas pelo governo estadual? Por que outras obras, como do posto de saúde central, das construções paisagísticas na entrada da cidade, da ciclovia foram paralisadas? Que destino tiveram as verbas para sua execução? Por que fornecedores – a empresa que suplementa médicos, enfermeiros e auxiliares para o Hospital Municipal e a coletora de lixo, para citar dois exemplos gritantes, [atrasos no pagamento de combustível para abastecer a frota de ambulâncias e das viaturas da GCM que levaram seguidamente a interrupções de fornecimento] – deixaram de ser pagos e que, por isso, tiveram dificuldades imensas de realizar seus trabalhos [falta de materiais, medicamentos básicos e de emergência, etc., no caso da saúde] e de recursos para manutenção dos veículos e da atividade de coleta de lixo, estradas intransitáveis, sistema de transporte público deficiente. Nos últimos meses de 2016 o lixo se acumulou [exceto no centro da cidade], formando montanhas nas beiras da estradas em todo o município.

Há que se considerar três aspectos nesse cenário complexo, mas suscetível de interpretação pelo uso da inteligência: há coisas que deveriam ser realizadas e não o foram; há coisas que foram malfeitas [como o Mercado Municipal, inaugurado às pressas no dia 3 de dezembro de 2016] e há coisas que ficaram inacabadas.

Todas essas circunstâncias foram resumidas por uma metáfora de um vereador: “O novo governo receberá não um abacaxi, mas um caminhão de abacaxis.” Isso significa quão espinhosa estará sendo a missão de “limpar” e reerguer a administração pública ibiunense, corroída por uma sucessão [pelo menos três últimos mandatos] por uma malfadada combinação de incompetência, ineficácia e incúria no trato da coisa pública.

Por isso mesmo, é preciso que o prefeito João Mello – que mereceu aplausos dos munícipes em suas ações públicas já nos primeiros dias do seu governo –, precisa do apoio, compreensão e paciência de todo o povo ibiunense.

Não há magia, milagre ou quem quer que seja capaz de transformar esse quadro a curto prazo. É preciso que toda a população se torne sábia para compreender que seu papel é decisivo para que as mudanças necessárias sejam implementadas, no seu devido tempo. Quando o novo governo assumiu viu o que todos supunham: estado de falência e dívidas acumuladas. Ou seja: dinheiro não há, mas, em compensação, há muitas dívidas a pagar, no montante de milhões de reais.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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