PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS ÁRVORES CORTADAS EM IBIÚNA

Algumas vezes uma árvore precisa ser cortada, lógico do ponto de vista humano. “Está morta”. “Vai cair qualquer dia desses”. “Está podre”. “Foi o morador que veio aqui na Prefeitura fazer o pedido porque um galho caiu sobre o carro dele”.

Lá vai a motosserra ou machado, mas árvore não grita, não pede socorro, ninguém lhe entende a voz, se é que tem alguma forma para se queixar. “Não, não façam isso, deixem-me viver, sou velhinha, moro aqui nesta rua há mais de vinte anos, gosto daqui, por que vão fazer isso comigo, logo agora que queria florescer mais uma vez.”

É inevitável recordar “Meu pé de laranja lima”, livro de José Mauro de Vasconcelos lançado em 1968 e que fez muito sucesso na época, tendo sido traduzido para trinta e duas línguas e publicado em dezenove países, virou filme e foi adotado nas escolas. É a história de um pequeno pé de laranja lima que falava com Zezé, um menino pobre, e se tornou seu grande amigo.

Que as árvores são nossas amigas, que nos dão o ar que respiramos, muitos sabem disso, mas que sejamos amigos delas, isto já é outra história.

Há poucos dias, estando em São Paulo, fui procurado por leitores da revista vitrine online, por telefone, que denunciavam que árvores do centro da cidade de Ibiúna estavam sendo cortadas. De uma delas enviaram foto (feita a distância) de celular por temerem represálias, atitude que ouço com muita frequência, infelizmente, por estas bandas.

Precisava ouvir o chamado outro lado, liguei para a Prefeitura anunciei o ocorrido e me prometeram resposta que demorou, mas veio, junto com uma foto que não era a foto da árvore que havia recebido por e-mail.

“Eu vi quem estava com a motossera cortando a árvore, você não acredita!”

A foto recebida da Prefeitura mostrava um dos troncos bifurcados cortado, o outro permaneceu; a que recebi foi simplesmente cortada pelo tronco, cerca de um metro de altura da calçada.

Estamos, então, diante de um fato para ser refletido pela população e pelas autoridades do Executivo e do Legislativo, mesmo reconhecendo, como foi dito logo no início, que às vezes não há mesmo jeito, porque o budismo já nos ensinou que tudo nesta vida é impermanente, e árvore se encontra também nessa categoria.

Mas, como cidadãos, precisamos reagir em defesa das árvores. Cortou uma porque era inevitável, plantem-se duas, nada de tronco cerrado pelos dentes impiedosos da motossera, como tem acontecido.

Pelo menos duas árvores foram sacrificadas na Rua Professor Fortunato Antonio Camargo (ao lado da Capelinha), outra na calçada do Cemitério da Paz, quase esquina com a Rua Pinduca Soares. Pode haver outros casos.

Um velho caçador chamado Dersu Uzalá, imortalizado no filme do consagrado cineasta japonês, Akira Kurossawa, considerava tudo da Natureza como “gente”. Rio era “gente”, árvore era “gente”, os animais eram “gentes”. Ele caçava para sobreviver, jamais feria ou matava por outro motivo. Um dia, Dersu também foi chamado de volta pela Natureza.

Dia desses, a autoridade do Meio Ambiente sobrevoou diversos bairros de Ibiúna a fim de detectar áreas que estão sendo degradadas por entulho, mineração e descargas de materiais trazidas de outros municípios, a fim de coibir ou impedir essas irregularidades.

Cada cidadão precisa ficar atento para proteger a imensa mata que caracteriza o vasto território de Ibiúna. A cidade em si já foi mais arborizada e cada vez que perde mais uma única árvore, perde um pouco de si mesma. Conservar e defender o meio ambiente também é cultura e um aprendizado indispensável. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.