OPINIÃO – “BALEIA AZUL” SE ALIMENTA DE TRANSTORNOS MENTAIS DOS ADOLESCENTES
Aparentemente, a palavra de ordem de psiquiatras e psicólogos que se dispuseram a falar sobre o fenômeno da “baleia azul” é de natureza preventiva: um alerta aos pais a fim de que prestem atenção ao comportamento dos filhos – se estão tristes ou calados demais, se ficam fechados muito tempo no quarto, se vestem com roupas que cobrem todo o corpo [para esconder ferimentos automutilantes], etc.
Na versão positiva, sugerem que os pais procurem se aproximar e ouvir os filhos, abrir o diálogo com eles para permitir ou provocar que se expressem e se comuniquem, embora isso nem sempre seja fácil, quando um modo estranho já se tenha estabelecido, exatamente por falta de relacionamento adequado anterior.
Há uma infinidade de transtornos mentais descritos nos manuais de diagnósticos e estatísticas utilizados pelos profissionais de saúde mental. A depressão é um deles e tem se tornado um sintoma cada vez mais comum em expansão no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, sendo uma causa frequente de suicídios.
De acordo com o Dicionário Técnico de Psicologia elaborado por Álvaro Cabral e Eva Nick [Editora Cultrix, 1992], depressão é uma “psicopatologia caracterizada pelo abatimento físico ou moral (tristeza, desolação, perda de interesse, perda de amor próprio), múltiplas queixas somáticas (insônia, fadiga, anorexia), atraso motor ou agitação e sentimentos de abdicação que são frequentemente acompanhados de ideias agressivas (ou tentativas) de suicídio. É um dos componentes da psicose maníaco-depressiva”.
No dia 8 de setembro de 2014, vitrine online publicou notícia, com base em dados fornecidos pela Delegacia de Polícia de Ibiúna, sobre essa delicada questão. Segundo as informações coletadas na época, 210 pessoas, a maioria jovens, tentaram suicidar-se no município de janeiro de 2010 a julho de 2014, dos quais 22 [10%] foram consumados. Nesse período, houve um aumento de 50% [de 30 para 51 casos] nas tentativas de suicídio na população, na época com 75.241 habitantes, de acordo com dados do IBGE.
Um experiente investigador, ao ser indagado sobre os possíveis motivos para essa situação considerou que a maior parte decorre de conflitos no ambiente familiar. “Parece que a família está acabando por falta de amor e união entre as pessoas, que estão fragilizadas”, disse o policial.
Os transtornos mentais que podem levar os indivíduos a uma autodestruição incluem: depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, alcoolismo, abuso de drogas, dificuldades financeiras e emocionais. Trata-se de um processo de ruptura de vínculos e relacionamentos, um distanciamento nefasto do grupo, que é percebido como hostil, sobretudo para pessoas mais sensíveis.
Isso tudo pode estar relacionado com alterações químicas que ocorrem no cérebro e mudanças no corpo dos adolescentes, em um momento da vida em que passam por muitas transformações. Estudiosos apontam que cada nova etapa de mudança representa um “luto” em relação à anterior. Por isso, é fundamental amar e respeitar os adolescentes.
ALIENAÇÃO
Talvez seja oportuno mencionar o fenômeno da alienação nesse jogo perturbador por que passa o mundo conturbado por extremas violências [as ações do Estado Islâmico, por exemplo], a guerra na Síria, a ameaça de um conflito nuclear e até mesmo uma sensação de supressão do futuro. A vasta corrupção que assola o País que elicia os valores éticos e morais. Os indivíduos se sentem cada vez mais impotentes e isolados diante de tantas desgraças e falta de perspectiva.
Em psiquiatria o significado de alienação é a perda de noção de uma pessoa, que foge do mundo e da realidade, sendo considerada uma doença grave da mente. Em filosofia trata-se da desnaturalização do que se tem como conceito, transformação do homem em objeto, sendo mais um objeto entre outros. As pessoas se sentem estranhas e estranham o mundo como um lugar incerto e perigoso.
Pode-se também conceituar a alienação como o fato de uma pessoa deixar de ser autônoma, livre em seus pensamentos, tornando-se escrava de uma ideologia ou de drogas. Esse sintoma é considerado uma “perturbação mental na qual se registra uma anulação da personalidade individual”. Se a pessoa não se sente ela mesma, isso indica que ela pode se sentir perdida e, se for assim, precisa de ajuda profissional, compreensão e sabedoria da família. (Carlos Rossini)