BELCHIOR MORRE AOS 70 ANOS; SUAS MÚSICAS TOCAM O CORAÇÃO DE MILHÕES DE BRASILEIROS
“Foi por medo de avião/que eu segurei/pela primeira vez a tua mão…”. Este trecho de abertura de ‘Medo de avião’ música escrita e interpretada por Belchior ecoa às vezes em minha mente. Quando viajei para o Rio de Janeiro, nos fabulosos Electra, os quadrimotores da ponte aérea, minha mulher apertou minha mão e o verso poeta se fez presente com afeto e emoção.
Morava então na rua Alves Guimarães, uma travessa da avenida Rebouças em São Paulo, e via passar constantemente Belchior subindo e descendo a calçada. Logo adiante havia um estúdio bem famoso na época, onde fazia suas gravações. Cumprimentava e sorria para quem o encontrasse na rua, como aconteceu comigo algumas vezes. Estava a caminho da fama que o consagrou em todo o país.
Hoje de madrugada (30), Belchior morreu em Santa Cruz, no interior do Rio Grande do Sul, de causa ainda não conhecida. O governo do Ceará, que o reconhece justamente como um filho ilustre que volta para casa, está dando apoio à família para seu traslado e já decretou três dias de luto. Seu corpo será sepultado em Cabral, terra onde nasceu.
Elis Regina interpretou suas canções e, assim, o ajudou a empurrá-lo para a fama, em “Como nossos pais”, por exemplo. Produziu muitas joias, como “Mucuripe”, junto com Fagner, “Velha roupa colorida”, “Apenas um rapaz latino-americano”, “Medo de avião” entre outras canções inesquecíveis.
Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes estudou filosofia. A certa altura da vida, abandonou a carreira, a família, as coisas materiais. Em 2009 foi dado como desaparecido, mas estava na cidade de Artigas, no Uruguai. Dali se mudou para Santa Cruz. Um poeta sensível, filósofo, que tocou muitos corações. (C.R.)