O POVO BRASILEIRO DEVE PAGAR PELAS IRRESPONSABILIDADES DE SEUS GOVERNANTES?

dignidade

As delações feitas na Operação Lava-Jato e disseminadas pela mídia com vasta repercussão nas redes sociais compõem um processo de transparência dos fatos jamais visto antes na história do Brasil. E esse é um dos efeitos positivos de um fenômeno inédito protagonizado por um juiz de caráter exemplar – Sérgio Moro – que está transformando a percepção objetiva de valores éticos, morais e jurídicos.

Já não basta falar sobre transparência sem praticá-la factualmente. Ela se torna a cada dia um imperativo social, um produto de transfusões de informações aparentemente necessárias pelas exigências evoluídas no seio da sociedade. Os abusos, os acordos secretos, a corrupção, ainda que prossigam, estão sob uma vigilância como nunca antes ocorrida.

Os poderosos sem caráter, assim como as instituições em que se empoleiram, estão em queda livre do ponto de vista de credibilidade e mesmo de respeito. Figuras como presidente da República, senadores e deputados, ministros e as mais altas autoridades do Poder Judiciário e empresários-bandidos estão na berlinda e são alvos de escarnecimentos como nunca vistos. Os aparatos das autoridades constituídas se dissolvem como a lama que escorreu e matou o Rio Doce, no maior desastre ecológicos do País.

Lama, aliás, é uma palavra-símbolo do que os corruptos produziram e que se esparrama sobre os símbolos mais eloquentes da pátria, especialmente a bandeira nacional que ornamenta os edifícios oficiais, assim como a praça dos Três Poderes, bem visível tanto do Palácio do Planalto quanto do Congresso Nacional.

Os males causados ao Brasil e ao povo brasileiro, revelados no processo de transparência da Operação Lava-Jato, impõem um despertar da nação pelo surgimento de uma consciência que se instala, devido às novas e rápidas mídias sociais, na massa da população humilde, que passou a ter acesso aos fatos, assim como o intercompartilhamento de opiniões e a formação de uma base crítica popular.

Ambos os projetos – das reformas da Previdência e trabalhista – que, se aprovados, se configurarão como um imenso e impiedoso castigo imerecido imposto contra os brasileiros. Um retrocesso covarde nos direitos dos trabalhadores, ao lado da maior roubalheira já praticada com o dinheiro público, um péssimo exemplo de conduta para milhares de municípios espalhados pelo imenso território do Brasil.

É preciso que a nação acorde e exija, sobretudo agindo sobre os senadores e deputados federais, assim como seus respectivos partidos políticos, uma ampla discussão com a sociedade cujos direitos estão sendo lesados.

Ainda é possível uma reversão dos projetos obsessivos de Michel Temer, quando os parlamentares forem votá-los tanto na Câmara quanto no Senado. Uma grande pressão nacional sobre esses personagens, sobretudo em torno de seus futuros político-eleitorais parece ser a melhor arma pacífica para impedir esse gigantesco desrespeito à vida humana na terra em que deveria haver ordem e progresso, como consta na bandeira nacional por influência do chamado positivismo. (Carlos Rossini)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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