A MENTIRA, O MENTIROSO E A HORA DA VERDADE

Lidar com pessoas implica enfrentar momentos que são como hora da verdade. Hora da verdade significa uma situação crítica e aguda, em que você sente na garganta a vontade de desmascarar alguém que acaba de lhe dizer uma mentira. Mas calma, relaxe! 

Aconteceu um episódio desses comigo recentemente e no exato instante em que a cena se desenrolava só pude mesmo confiar na minha intuição.

A pessoa diante de mim contou-me uma história e a encarei numa boa. Logo, descobri a razão secreta que o levara a me despachar a mentira. Fui ao alvo com uma pergunta direta, clara e certeira. Ele gaguejou na minha frente, engoliu em seco, mas controlei o meu impulso de escancarar o que estava por trás do seu gesto.

Formulei a pergunta com clareza mental para mostrar a ele o que estava tentando fazer comigo e, como uma onda na praia, recuei para impedir lhe criar um embaraço irreversível. Em resumo, procedi da seguinte maneira:

Primeiro, registrei minha surpresa como se apontasse para ele um espelho para que se enxergasse (foi o momento em que ele engasgou). Depois, reagi com bom-humor para não feri-lo dentro do seu abrigo de ator em que, como um gato, poderia provocá-lo a ponto de ele querer arranhar-me.

Puxei o breque de mão, despedi-me e voltei para o escritório. Tinha visto toda a situação com clareza e pude fazer escolha de atitude, de modo extremamente rápido.

Deixo de entrar no mérito do tema tratado porque poderia ser cansativo e considero mais importante dizer que a mentira é um fenômeno comportamental utilizado freqüentemente para autoproteção. Até na natureza isso ocorre e o processo se chama mimetismo. É mais compreensível quando falamos do camaleão. Ele parece “contar uma mentira” camuflando-se no ambiente para proteger-se de predadores.

As pessoas mentem nas mais diversas situações por esse motivo e é mais complexo quando perdem o senso de realidade e passam a mentir para si mesmas ou, ainda, a adotar a mentira como se fosse verdade. Há até uma frase popular que diz o seguinte: de tanto mentir, acabamos a crer que a mentira é verdade.

 O espetáculo que os políticos nos proporcionam Brasil afora nos âmbitos municipal, estadual e federal – ouvimos e vemos na televisão e no rádio à exaustão – é de patranhas sem-fim.

 É tanta mentira, tanta falsidade para encobrir os fatos, que a sociedade mal se dá conta de assimilá-la. A personalidade de alguns políticos parece incorrigível por trás de várias camadas de verniz em suas máscaras faciais.

Na antiga Grécia os atores eram chamados de hipócritas, porque representavam o que fingiam ser. Mas não devemos confundi-los com políticos, pois estes, preservadas as exceções, fazem um espetáculo egoísta e mesquinho e festejam com dinheiro alheio.

 Feita essa ressalva, cabe mencionar que o mais sério é que sendo seres relativos estamos sujeitos sempre a definir o que exatamente vem a ser a verdade, que se busca sempre nos fatos, os quais se tentam encobrir.

E quando você conta uma história, sabe que pode ser interpretada de mais de uma maneira porque a atenção do ouvinte é variável e mais sensível para este ou aquele aspecto da narrativa.

Bem, parece certo que a mentira é um fenômeno condenável, principalmente quando ela é dirigida a nós, mas relaxe. Quanto mais relaxado e tranqüilo você estiver menos ela o atingirá, mesmo porque, diz o povo, mentira tem perna curta e você sempre pode andar mais rápido do que ela e seguir em frente.

 Afinal, o problema não está na mentira, mas no mentiroso. Mais cedo ou mais tarde, ele terá que prestar contas à própria consciência moral que observa tudo de modo paciente. É, pelo menos, o que diz uma regra infalível conhecida como lei da causa e efeito. Por todas essas razões, fique atento e se proteja, mas trate o mentiroso com respeito, pois cada qual é responsável pelos seus atos e vai receber o troco, cedo ou tarde.

Carlos Rossini, editor da revista vitrine online

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.